sexta-feira, 28 de novembro de 2014

A Personalidade do Mercado Financeiro



A retórica esquerdista desde sempre demonizou duas entidades as elites e o mercado financeiro.  A primeira é um ser abstrato e quase mítico formada por um grupo de pessoas que beiram a pura maldade e lucram com a miséria alheira.  Também atende pelo nome de burguesia, termo mal empregado por sinal.  Este é um assunto para um tópico futuro.  Já o mercado financeiro não é uma entidade mítica e apesar de ser um tanto abstrata é categorizada por homens sem rosto de terno e paletó com pastas cheia de dinheiro e que também lucra com a miséria alheia.  É também caracterizado como uma entidade malígna.  Aloízio Mercadante, alguém que consegue ter noções de economia piores que Guido Mantega, veio com a seguinte pérola “A nossa prioridade é emprego e renda.  A nossa agenda não é a do mercado.”  Fico realmente intrigado se ele acredita nesta pérola ou se faz parte de sua retórica demagógica habitual.

O mercado financeiro é algo extremamente necessário para o desenvolvimento de uma nação há muito tempo.  É o local de encontro daqueles que têm recurso disponíveis para investimentos com aqueles que precisam de recursos para tocar um negócio ou simplesmente começar um.  Se não houvesse um mercado financeiro, muitas oportunidades de negócios simplesmente não existiriam, consequentemente muitos empregos não seriam gerados e a renda de trabalhadores seria comprometida.

Sim, existem no mercado financeiro muitos especuladores gananciosos que contribuíram significativamente para a quebradeira de 2008, e também nações que substituem a arrecadação de impostos pela especulação financeira, mas muitos recursos que giram no mercado financeiro são de trabalhadores assalariados ou autônomos que pouparam no fim do mês e procuram uma oportunidade de fazerem seu dinheiro render mais, inclusive investindo em fundos de pensão.  Em outras palavras não é só capital oriundo dos tubarões e sim de lambaris, embora o investimento de ambos mereçam respeito igual. 

O dinheiro investido no mercado financeiro é, portanto, muitas vezes oriundo do esforço da poupança de ricos e até pobres.  Ressalto o óbvio que esforço de poupança exige sacrifícios de evitar tentações consumistas.  Não é dinheiro dado à caridade e sim dinheiro investido com uma promessa de retorno.  O risco existe é claro, por isso que rendimentos em aplicações de risco tendem a render mais do que outras como caderneta de poupança.  O que mantém o mercado financeiro saudável é o respeito ao dinheiro do investidor e a responsabilidade também do investidor de não investir em oportunidades que careçam da mínima credibilidade.  Em suma, lembro-me de uma frase que meu professor de economia na faculdade gostava de dizer: “Capital não leva desaforo para casa”.

Distorções sempre ocorrerão em função do mercado financeiro.  Em tempos de fartos rendimentos, alguns profissionais arriscam largar seus empregos para virarem pequenos especuladores.  Ou simplesmente expõem boa parte de seus patrimônios ao risco desnecessário.  É o direito de cada um exercer estas opções, mas o índice de fracassos não é baixo nestes casos.  De novo, quantas pessoas perderam tudo ou quase tudo na crise de 2008?  O direito a ser inconsequente é uma liberdade que conquistamos e não podemos perder.

O mercado financeiro não é uma entidade maligna, mas tem seus problemas de personalidade sim.  Uma vez uma consultora de investimentos definiu esta personalidade como bipolar.  Eu diria que o mercado financeiro é impulsivo, muitos vezes aventureiro, mas é também rancoroso.  Quando em 1989, Lula prometeu o caos financeiro com suas propostas absurdas, o que nos levou a eleger um presidente despreparado e aventureiro, o mercado financeiro não esqueceu tão fácil destas promessas.  Foi preciso de muito marketing, esforço e mudança de postura para convecer o mercado financeiro que as promessas de 1989 seriam substituídas por uma política econômica séria.  O resultado foi que o mercado financeiro passou a nos olhar com bons olhos e ganhamos até grau de investimento.  Nada como responsabilidade e respeito ao dinheiro alheio para que negócios viessem para estas terras trazer mais empregos e mais rendas. 

Mas o mercado financeiro carece às vezes de inteligência, de novo vide 2008, e não percebeu que há tempos que as coisas estavam degringolando.  Em 2010, elegemos uma das pessoas mais ineptas possíveis para a presidência.  Alguém que sabe menos do que Mercadante e Mantega sobre economia, mas acha que sabe mais do que todos sobre o assunto.   Foram cometidos absurdos que só mesmo os mais crédulos acreditariam que poderiam dar certo.  O resultado é que o mercado financeiro deixou de acreditar em nós.  Não respeitamos o dinheiro alheio, o capital levou desaforo e agora os investidores não nos olham mais com bons olhos.  Podemos perder até o grau de investimento no médio prazo, ou até curto.  Fica a pergunta para o Mercadante, com que dinheiro serão gerados ou até mantidos os empregos e a renda do trabalhador?  Não vai ser com aquele dos investidores cansados de serem demonizados e destratados aqui.  Estes vão para outro lugar que são respeitados, gerar empregos e renda lá.  Para trazer estes investidores de volta, vamos precisar mais do que Joaquim Levy no Ministério da Fazenda, precisaríamos de Dilma Rousseff administrando de novo uma loja de R$1,99 onde causaria bem menos estragos do que atualmente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário