terça-feira, 27 de junho de 2017

Em Defesa dos Direitos Trabalhistas



O amadurecimento de cada profissional vem, se vier, cedo ou tarde.  No segundo caso, o profissional seguramente vai apanhar um bocado para atingir um certo grau de amadurecimento.  Já tive minha época de apanhar um bocado para aprender o óbvio.  Certa vez, fui alocado, a contragosto, em um projeto ruim debaixo de um supervisor inepto.  A mistura de liderança incompetente com subalterno desmotivado é uma receita certa para resultados ruins e desgastes de ambas as partes.  Após uma discussão acalorada com este supervisor, fui interpelar minha chefia, que havia me “emprestado” ao projeto em questão, do tratamento dispensado a mim.  Ouvi de maneira polida que poderia escolher me demitir.  Este foi um momento de humilhação e aprendizado, pois resolvi engolir meu orgulho e continuar trabalhando.  Foi uma experiência interessante, uma vez que em quase 2 meses, troquei no máximo 2 frases com aquele supervisor, que queria se livrar de mim mas não conseguiu.  Foi um momento importante na minha vida profissional, no qual passei a ter outra atitude e postura como empregado.  A verdade é que quem emprega de uma maneira ou de outro tem o direito de fazer exigências e cobranças dos empregados, e não o contrário.  Claro que há limites que ninguém pode ultrapassar, não se pode assediar um empregado ou colocá-lo em risco.  Se bem que essas definições de assédio e risco são bem voláteis em algumas disputas trabalhistas.

A realidade é que a melhor defesa de um empregado tem para se defender de um empregador abusivo é o direito de se demitir.  E hoje em dia, existem sites como o Glassdoor que permitem avaliar os empregadores avisando assim os incautos do que lhes espera caso aceitem a contratação por estes.  Já trabalhei para uma empresa que tinha uma avaliação horrenda no Glassdoor, o que levou a empresa a tomar medidas para melhorar a nota.  Nesse caso, as medidas foram “incentivar” empregados a escreverem resenhas positivas e ameaçar com processo os ex-funcionários que postassem alguma resenha negativa.  O empregador que ao invés de se preocupar em melhorar o ambiente de trabalho resolve maquiar as avaliações é um fadado a transformar o negócio dele em um fracasso.  Aturei trabalhar lá por mais tempo que devia por dois motivos, o primeiro era que não queria ter no meu currículo um emprego que fiquei por alguns meses e o segundo era que não havia empregos para mim no mercado.  Após uma insistente busca, consegui mudar de profissão e pedir demissão sem medo de me tornar um desempregado crônico.  Não escrevi nenhuma resenha no Glassdoor, pois o próprio mercado se ocupou em punir esta empresa que perdeu faturamento e encolheu significativamente.

A situação que atravessei não é exclusiva a mim e é mais do que atual diante da grave recessão que o Brasil se encontra.  Quem está empregado é submetido a condições desagradáveis e até humilhantes por receio de ficar desempregado, e quem está desempregado se submete a empregos de baixa remuneração e ruins para poder sair do sufoco.  Diante de circunstâncias econômicas adversas, os empregadores têm dificuldades de contratar.  O gasto despendido com os empregados devem ser obrigatoriamente compensados pelos ganhos obtidos com o negócio.  Em épocas de “vacas magras”, mesmo diante deste cenário de ganhos reduzidos, os empregadores para empregar ou manter os empregados são submetidos a exigências custosas para criar ou manter empregos.  A solução neste caso é simples: não contratação e demissão.  Os empregos ofertados acabam sendo de empresas que deveriam ter a pior das avaliações no Glassdoor.

Por exatos 10 anos, minha CLT ficou tomando pó em uma gaveta.  Tive boas experiências com empregadores que me davam ampla liberdade de como trabalhar, tendo como contrapartida a apresentação de um bom trabalho e respeito às exigências destes empregadores.  Não se pode generalizar, mas a experiência da livre negociação se mostrou muito boa no meu caso.  Alguns desses empregos não ocupavam mais que dois dias em uma semana e podiam ser feitos em home office, assim possibilitando que eu pudesse procurar outras oportunidades ou até mesmo de desfrutar de um maior tempo livre.  Normalmente, por motivos de necessidade de uma sinergia no ambiente de trabalho, faz-se necessário que sejam observados os horários comerciais tradicionais e a presença em um local comum de trabalho.  Mas há necessidades dos empregadores e oportunidades que não exigem isso.  A criação de dificuldades para se contratar profissionais para estas situações é simplesmente inaceitável.

As dificuldades da criação de empregos muitas vezes são resultados de uma aliança sinistra de governo com sindicatos.  Quanto mais esses dois apertam mais os empregadores, mais empregos são destruídos ou mais dribles das leis trabalhistas são realizados.  Nos EUA, o governo de Donald Trump resolve atacar os imigrantes, em específicos os mexicanos, como se estes fossem os responsáveis pelo desemprego de vários americanos.  O que Trump não entende, ou finge não entender, é que muitos mexicanos estão sendo empregados nos EUA por não fazerem exigências que muitos americanos fazem e que os empregadores não aceitam.  Aqui no Brasil, o país da criatividade jurídica e administrativa, cria-se cada vez mais postos para pessoas jurídicas ou até mesmo contratações informais.  Quase metade dos trabalhadores brasileiros não estão enquadrados na CLT.  Está mais do que na hora de se fazer uma reforma trabalhista para se acabar com este tipo de aberração.

A situação de pleno emprego não é desejada em alguns países pois pode até ser um foco de inflação devido ao aumento do salário real.  Também, neste caso, os empregadores passam a ser reféns dos empregados e suas exigências, que passam a ser atendidas.  O Brasil está longe do pleno emprego, mas muitos fazem toda sorte de exigências para trabalhar.  Quem contrata nesta situação?