quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Cenário de Incertezas e Ameaças

Recentemente, alguns indicadores econômicos têm mostrado que a economia brasileira entrou nos eixos.  Realmente, a inflação está abaixo de 3,0% anuais, a bolsa está oscilando em um patamar acima dos 70.000 pontos, algo não visto há anos, a taxa de juros caiu para abaixo de 8,0% e o PIB mostra um tímido crescimento.  Esses números eram até esperados pela simples saída de Dilma Rousseff e toda a sua infinita incompetência do planalto.  Bastou alguém com um mínimo de respeito a pilares macroeconômicos que foi possível reverter a trajetória de queda.  O mercado brasileiro mostrou certa resiliência, mas ainda é muito cedo para comemorar.

Os números preocupantes e que os investidores, diretamente ou via agências de risco, estão de olho são outros.  O nosso déficit primário está acima de 1% do PIB, o fiscal é astronômico e beira os 9% e a dívida pública se aproxima de 80%.  Qualquer um que saiba o mínimo de economia sabe que essa situação é insustentável e o Brasil caminha no médio prazo para a insolvência.  É preciso estancar a hemorragia de qualquer maneira para reverter este quadro.  Ou o Brasil aumenta a arrecadação, que seria resultado de um crescimento do PIB bem maior que o tímido atual, ou diminui os gastos.  Para o PIB crescer, o Brasil precisa de mais investimentos, o que é desestimulado diante do quadro de alto endividamento e classificação de risco ruim.  Precisaria cortar gastos e aí o buraco é bem embaixo.

Graças a uma constituição equivocada em vários pontos, o Brasil rapidamente comprometeu o seu orçamento em gastos chamados de incompressíveis.  O maior de todos é o com a previdência.  Pessoalmente, sou a favor de não contribuir com o INSS ou qualquer outra entidade que compulsoriamente tome parte do meu salário para me dar um retorno muito duvidoso no futuro.  Mas somos um país de cidadãos que exigem tutela de governos incompetentes.  Essa tutela é ótima para uma parcela de privilegiados do funcionalismo público que recebem fábulas da aposentadoria, mas ruim para a maioria que recebe uma mixórdia do INSS e ainda defende este.

Independente da eficiência do INSS, é necessário reformar nossa previdência e as demonstrações são que o congresso não é muito propenso a isto.  Se Michel Temer não conseguir aprovar esta reforma, seu sucessor será obrigado a fazer isto, na teoria.  Não ouço nenhum candidato ou pré-candidato falando abertamente em reformar a previdência, pior não ouço nenhum comentando da situação de penúria de nossa dívida pública.  A irresponsabilidade impera da esquerda para a direita neste país.  Por termos uma população que em sua maioria exige tutela, nenhum candidato falará abertamente sobre isto.  Preferem falar em direitos ameaçados, provavelmente os marqueteiros políticos instruem seus clientes a serem razoavelmente populistas.  Outros como Lula, são abertamente populistas e irresponsáveis, mas de vez em quando tem um marqueteiro que manda ele soltar umas frases sobre responsabilidade fiscal para tentar atrair algum investidor incauto.  Estes estão em falta no atual momento.

No espectro da direita, tem o pré-candidato Jair Bolsonaro, que não é bem de direita mas por defender punição mais dura (e necessária) aos bandidos é considerado de direita.  Porém suas ideias sobre economia são altamente equivocadas.  Defende o que a esquerda defende, intervenção no mercado, controle do Banco Central, proteção a estatais, etc.  Recentemente, veio com um papo liberal econômico para tentar atrair os investidores incautos que Lula também tenta atrair.

O PSDB que tem tido um número considerável de votos nas últimas eleições, mais por falta de opção na política que por convicção, mostra sua toda tradicional postura de indecisão.  Irrita o mercado financeiro, eleitores de direita e de esquerda igualmente.  Não consegue montar uma estratégia que passe certeza que vai tratar do descalabro econômico adequadamente.

Em suma, no atual cenário, está difícil de se escolher alguém, pois ou prometem ser irresponsáveis ou não prometem nada na esperança que os eleitores adivinhem o que vão fazer.  O problema é que ameaças de irresponsabilidade ganham votos.  Prometer torrar dinheiro, que não existe, com mais investimentos ruins e mais programas sociais ineficientes dá voto.

Além da bomba previdenciária, há outros pontos que ninguém toca.  O Brasil precisa privatizar o restante das estatais que são verdadeiras tentações para se criarem esquemas de corrupção.  Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica e Eletrobras deveriam ser todas privatizadas.  Funcionários públicos deveriam estar sujeitos às mesmas regras de mercado, isto é, não ter estabilidade quase que inquestionável e com certeza se sujeitarem a análises de desempenho para justificarem seus empregos.

Um discurso que abordasse este tema certamente seria bem visto pelo mercado financeiro.  A implementação destas medidas iria arrefecer os ânimos dos investidores.  Só que aí entra o populismo que infere que estas medidas são a favor dos ricos e contra os pobres.  Falta alguém dizer que se não conseguirmos atrair investidores não conseguiremos pagar a dívida pública, se não pagarmos a dívida pública a economia vai à lona.  Primeiro por que só fecharemos as contas fatalmente imprimindo dinheiro, ou seja com inflação, e que os maiores credores da nossa dívida pública são fundos de pensão nacionais.  Em outras palavras a crise previdenciária afeta a própria aposentadoria da população brasileira.

Então fica mais um dilema Tostines: os candidatos são irresponsáveis por que a população quer ouvir propostas populistas, ou a população só ouve propostas populistas por que os candidatos não se atrevem a falar a verdade?  Não tenham dúvidas, se nada mudar, 2018 será recheado de ameaças e o nosso futuro será bem incerto.

segunda-feira, 31 de julho de 2017

Saúde para (Quase) Todos

O filme esquerdófilo de 2013 Elysium, devidamente estrelado por Matt Damon, Alice Braga e Wagner Moura, tratava de um futuro onde uma casta de ricos que viviam no Elísio, situado em órbita terrestre, tinha acesso a uma tecnologia de ponta que tratava de qualquer enfermidade que os membros da casta poderiam sofrer.  Max após receber uma dose letal de radiação tem que entrar em Elísio para se curar.  Debaixo de um monte de maniqueísmo, o filme aborda alguns aspectos interessantes.

Mesmo entre os direitistas, existe um consenso que o governo deve cuidar da saúde de sua população.  Conheço uma mãe solteira cuja criança teve a infelicidade de ser alérgica à proteína do leite.  A lata de leite em pó adequada para crianças com este tipo de intolerância custa mais de R$500,00, mas, felizmente, o governo fornece gratuitamente este leite.  Via dinheiro dos impostos dos contribuintes, é claro.  Desde que esse tipo de tratamento seja restrito a poucos casos, não há mal em a população ser solidária com a mãe e a criança, afinal a ajuda ao próximo não é um lema exclusivo da esquerda.  O problema seria quando houvessem vários casos dessa alergia.  Nesse caso o custo repassado à sociedade seria maior, ao ponto de vários não poderem ajudar e da solidariedade se tornar um sacrifício insustentável.

Mas a conta da saúde não é alta devida a enfermidades raras e sim devido a uma miríade de necessidades dos cidadãos em virtude de estarem simplesmente vivos.  Faço anualmente uma bateria de exames que o meu clínico geral requisita para o meu check-up.  Obviamente, este custo é coberto pelo meu plano de saúde que mensalmente me esfola com uma cobrança salgada.  Duvido que todos os participantes tenham o cuidado que tenho ou que até procurem um tempo para efetuarem estes exames, mas se todos tiverem o plano certamente cobrará mais caro de todos.  Não há segredo e nem milagre, na média o participante do plano de saúde tem que gastar mais por ano com este plano do que o plano gastar com as despesas médicas do participante.  Caso isto não ocorra, o plano vai certamente à falência.  Se alguém conseguisse saber com precisão os gastos futuros com saúde, este poderia até dispensar o plano de saúde e fazer uma poupança para estes gastos e economizar um bom dinheiro.  Infelizmente os imprevistos podem sair demasiadamente caros e nesse caso é bom contar com a cobertura do plano de saúde.  Ou melhor, com o dinheiro dos demais participantes do plano de saúde.  Não adianta demonizar os administradores de planos de saúde, embora alguns devidamente mereçam, o preço de um plano é determinado pela necessidade média dos participantes com gastos de saúde.

Para aqueles que não estão participando de planos de saúde voluntariamente, no Brasil há a adesão (obrigatória) ao plano de saúde "invisível" e caro conhecido como o SUS.  Já fiz uso do SUS e sou testemunha que alguns hospitais são até melhores que particulares que atendem exclusivamente a participantes de plano de saúde.  Mas não há como negar que o SUS não dá conta das demandas da população.  É constante se ouvir de qualquer político que este vai melhorar o SUS e assim o brasileiro em média terá melhor atendimento médico.  Em 13 anos o PT fez um estrago considerável ao SUS, basta checar qualquer estatística da saúde brasileira, como o número de leitos para pacientes, mas não planejo sair do meu plano de saúde para ficar só com o SUS.  A verdade é que dificilmente a conta da saúde vai fechar no Brasil ou até mesmo em qualquer país do mundo.  Conheço suecos que vêm ao Brasil procurar tratamentos médicos e dentários com médicos particulares porque na Suécia, um welfare state, a fila de espera é de anos para se requisitar um tratamento deste.  Não preciso nem procurar dados, mas afirmo que em média o sueco tem melhor acesso à saúde do que o brasileiro.  Porém, a centralização e estatização completa da saúde cria aberrações como esta evasão.

A verdade é que quem tem recursos vai usá-los para sua saúde sempre.  Existem profissionais e empresas que sempre oferecerão serviços e produtos para aqueles dispostos a gastar, inclusive no setor da saúde.  No momento que se tentar "distribuir ou socializar" estes serviços e produtos, estes passarão a perder qualidade.  A "socialização" de tratamentos caros só funcionará enquanto poucos precisarem destes tratamentos.  Por outro lado, um investimento "socializado" da saúde na população geral é necessário até mesmo para se minimizar prejuízos para a sociedade como um todo.  Graças a campanhas maciças de vacinação, a humanidade erradicou doenças como pólio e varíola, sem contar que minimizou-se o número de enfermos com sarampo, difteria e outras doenças.

Ninguém deve se iludir que o custo de saúde é pequeno, muito pelo contrário.  No futuro próximo este custo tenderá a crescer justamente pelos avanços da medicina.  Estes avanços permitirão o cidadão médio a viver mais anos, muitos deles em faixas etárias no qual poucos são abençoados de viverem sem problemas de saúde.  E este custo não se resume a só o quanto de dinheiro é gasto em tratamento de doenças como câncer, diabetes e degenerações como mal de Parkinson ou Alzheimer, mas sim no tempo que cidadãos (mais) saudáveis dispensarão para cuidar de um número crescente de enfermos.  Cada profissional, ou mesmo alguém altruísta, que cuida de pessoas com problemas crônicos ou incuráveis é uma pessoa que não estará produzindo.  Devemos lembrar que os gastos da saúde só serão cobertos se a sociedade como um todo ganhar mais.

No futuro, é possível que a tecnologia possa baratear significativamente os custos de saúde, mas no momento estes estão se tornando um problema complexo e custoso para a humanidade.  A celeuma de Trump com o Obamacare mostra que este é um problema universal e sem solução definida.  Nós temos que ter a consciência de não esperar de ninguém os cuidados com nossa saúde, e sim tomar as providências para isto.  Desde os conhecidos hábitos saudáveis até mesmo a reservar uma boa parte das economias para os imprevistos que infelizmente podem nos acometer.

terça-feira, 27 de junho de 2017

Em Defesa dos Direitos Trabalhistas



O amadurecimento de cada profissional vem, se vier, cedo ou tarde.  No segundo caso, o profissional seguramente vai apanhar um bocado para atingir um certo grau de amadurecimento.  Já tive minha época de apanhar um bocado para aprender o óbvio.  Certa vez, fui alocado, a contragosto, em um projeto ruim debaixo de um supervisor inepto.  A mistura de liderança incompetente com subalterno desmotivado é uma receita certa para resultados ruins e desgastes de ambas as partes.  Após uma discussão acalorada com este supervisor, fui interpelar minha chefia, que havia me “emprestado” ao projeto em questão, do tratamento dispensado a mim.  Ouvi de maneira polida que poderia escolher me demitir.  Este foi um momento de humilhação e aprendizado, pois resolvi engolir meu orgulho e continuar trabalhando.  Foi uma experiência interessante, uma vez que em quase 2 meses, troquei no máximo 2 frases com aquele supervisor, que queria se livrar de mim mas não conseguiu.  Foi um momento importante na minha vida profissional, no qual passei a ter outra atitude e postura como empregado.  A verdade é que quem emprega de uma maneira ou de outro tem o direito de fazer exigências e cobranças dos empregados, e não o contrário.  Claro que há limites que ninguém pode ultrapassar, não se pode assediar um empregado ou colocá-lo em risco.  Se bem que essas definições de assédio e risco são bem voláteis em algumas disputas trabalhistas.

A realidade é que a melhor defesa de um empregado tem para se defender de um empregador abusivo é o direito de se demitir.  E hoje em dia, existem sites como o Glassdoor que permitem avaliar os empregadores avisando assim os incautos do que lhes espera caso aceitem a contratação por estes.  Já trabalhei para uma empresa que tinha uma avaliação horrenda no Glassdoor, o que levou a empresa a tomar medidas para melhorar a nota.  Nesse caso, as medidas foram “incentivar” empregados a escreverem resenhas positivas e ameaçar com processo os ex-funcionários que postassem alguma resenha negativa.  O empregador que ao invés de se preocupar em melhorar o ambiente de trabalho resolve maquiar as avaliações é um fadado a transformar o negócio dele em um fracasso.  Aturei trabalhar lá por mais tempo que devia por dois motivos, o primeiro era que não queria ter no meu currículo um emprego que fiquei por alguns meses e o segundo era que não havia empregos para mim no mercado.  Após uma insistente busca, consegui mudar de profissão e pedir demissão sem medo de me tornar um desempregado crônico.  Não escrevi nenhuma resenha no Glassdoor, pois o próprio mercado se ocupou em punir esta empresa que perdeu faturamento e encolheu significativamente.

A situação que atravessei não é exclusiva a mim e é mais do que atual diante da grave recessão que o Brasil se encontra.  Quem está empregado é submetido a condições desagradáveis e até humilhantes por receio de ficar desempregado, e quem está desempregado se submete a empregos de baixa remuneração e ruins para poder sair do sufoco.  Diante de circunstâncias econômicas adversas, os empregadores têm dificuldades de contratar.  O gasto despendido com os empregados devem ser obrigatoriamente compensados pelos ganhos obtidos com o negócio.  Em épocas de “vacas magras”, mesmo diante deste cenário de ganhos reduzidos, os empregadores para empregar ou manter os empregados são submetidos a exigências custosas para criar ou manter empregos.  A solução neste caso é simples: não contratação e demissão.  Os empregos ofertados acabam sendo de empresas que deveriam ter a pior das avaliações no Glassdoor.

Por exatos 10 anos, minha CLT ficou tomando pó em uma gaveta.  Tive boas experiências com empregadores que me davam ampla liberdade de como trabalhar, tendo como contrapartida a apresentação de um bom trabalho e respeito às exigências destes empregadores.  Não se pode generalizar, mas a experiência da livre negociação se mostrou muito boa no meu caso.  Alguns desses empregos não ocupavam mais que dois dias em uma semana e podiam ser feitos em home office, assim possibilitando que eu pudesse procurar outras oportunidades ou até mesmo de desfrutar de um maior tempo livre.  Normalmente, por motivos de necessidade de uma sinergia no ambiente de trabalho, faz-se necessário que sejam observados os horários comerciais tradicionais e a presença em um local comum de trabalho.  Mas há necessidades dos empregadores e oportunidades que não exigem isso.  A criação de dificuldades para se contratar profissionais para estas situações é simplesmente inaceitável.

As dificuldades da criação de empregos muitas vezes são resultados de uma aliança sinistra de governo com sindicatos.  Quanto mais esses dois apertam mais os empregadores, mais empregos são destruídos ou mais dribles das leis trabalhistas são realizados.  Nos EUA, o governo de Donald Trump resolve atacar os imigrantes, em específicos os mexicanos, como se estes fossem os responsáveis pelo desemprego de vários americanos.  O que Trump não entende, ou finge não entender, é que muitos mexicanos estão sendo empregados nos EUA por não fazerem exigências que muitos americanos fazem e que os empregadores não aceitam.  Aqui no Brasil, o país da criatividade jurídica e administrativa, cria-se cada vez mais postos para pessoas jurídicas ou até mesmo contratações informais.  Quase metade dos trabalhadores brasileiros não estão enquadrados na CLT.  Está mais do que na hora de se fazer uma reforma trabalhista para se acabar com este tipo de aberração.

A situação de pleno emprego não é desejada em alguns países pois pode até ser um foco de inflação devido ao aumento do salário real.  Também, neste caso, os empregadores passam a ser reféns dos empregados e suas exigências, que passam a ser atendidas.  O Brasil está longe do pleno emprego, mas muitos fazem toda sorte de exigências para trabalhar.  Quem contrata nesta situação?

quarta-feira, 31 de maio de 2017

Nem Clark Kent, Nem Lex Luthor

As estórias de heróis e seus respectivos cultos têm origem no início da civilização.  As mais conhecidas são as da Grécia Antiga, como a do semi-Deus Hércules que entre várias tarefas derrotou diversos inimigos  como Cérbero, o cão de três cabeças guardião do inferno.  Este não era o único herói da mitologia grega, outros famosos são Perseu que matou a Medusa e Teseu que aniquilou o Minotauro.  Todos estes heróis derrotaram nas estórias seres mitológicos de poderes sobrenaturais que eram a encarnação do mal.  Estas conquistas não poderiam ser repetidas por meros mortais e, portanto, só heróis teriam como obtê-las.  Os gregos, porém, criavam seus heróis com traços mais humanos, falíveis e, portanto, passíveis de lapsos como qualquer humano.  Até os deuses gregos tinham características humanas e eram vulneráveis a sentimentos como inveja, ganância e amor.  Outras civilizações durante a história também criaram seus herói como o Rei Artur, Beowulf, Guilherme Tell, entre outros.  Aliás, muitos destes heróis mitológicos foram pessoas normais que conseguiram feitos impressionantes e devidamente exagerados por aqueles responsáveis pelo registro histórico destes.  Os mais céticos alegarão que religiões foram criadas de maneira similar.

O Século XX viu o nascimento dos gibis dos super-heróis, resultando na "guerra" entre a Marvel e a DC Comics.  Esta última criou talvez o mais famoso dos super-heróis, o Super-Homem e seu alter ego Clark Kent, em 1938.  Quem viveu a década de 1970 certamente vai lembrar do filme de 1978, estrelado pelo saudoso Christopher Reeve no papel do herói e Gene Hackman no papel do arqui-inimigo Lex Luthor.  Este é o filme do Super-Homem que me marcou, pois não me entusiasmei com as tentativas de reboot estreladas por Brandon Routh e Henry Cavill.  O retrato de 1978 de Clark Kent era de um sujeito normal dotado de uma bússola moral ímpar que sempre o guiava na luta contra seus inimigos, como Luthor.  Este era retratado de maneira até cômica por Hackman, mas no fundo era um personagem inescrupuloso capaz de matar milhões por especulação imobiliária.  Olhando para trás, vejo que o que mais me incomodava nas estórias de heróis, em específico as do Super-Homem, era como os humanos comuns eram retratados.  Nós, meros mortais, nestas estórias, éramos sempre incompetentes para lidarmos com nossos problemas.  Os criminosos aterrorizavam a população sem que as autoridades fossem minimamente capazes de controlá-los, e até mesmo quando estes criminosos eram presos, eles escapavam de maneira muitas vezes fácil.  Esse retrato da inépcia humana é até ofensivo, mas muitas vezes realista.  Basta ver quantos de nós adulamos figuras públicas na esperança que estas venham a resolver nossos problemas.  Esperamos que estas figuras sejam como o Clark Kent, um sujeito até certo ponto tedioso e ordinário, e se revelem super-heróis para colocar todos os criminosos na cadeia.

Lembro de um momento na história brasileira que boa parte da população foi tomada por uma euforia incomum.  Naquele instante, a população passou a acreditar que todos os problemas de corrupção, miséria, criminalidade, etc, seriam resolvidas por um homem que era visto como íntegro, honesto e determinado a corrigir todos os desvios da nação.  Era um super-herói brasileiro que estava surgindo.  O ano era 2002 e o homem era Lula.  Quantos não foram as ruas comemorar a eleição de Lula?  Poucos realmente se interessaram em saber quais eram os planos do presidente eleito para tirar o Brasil do sufoco.  Na época, estava preocupado se Lula não iria colocar em prática suas mais tresloucadas propostas apresentadas nas eleições perdidas de 1989, 1994 e 1998.  Estas certamente arruinariam o país em tempo recorde, mas nada que mais de 13 anos de irresponsabilidade fiscal e corrupção desenfreada não resolvessem.  Hoje, vários dos que comemoraram a eleição de Lula comemorarão uma eventual prisão deste.  Lula foi de herói para vilão para muitos, haja visto sua alta rejeição em pesquisas de opinião, mas continua sendo adorado por alguns de maneira irracional.

O julgamento do Mensalão iniciado em 2012 revelou outro potencial herói para a população brasileira: o ministro do STF Joaquim Barbosa.  Surgiu até mesmo como um nome para presidente em pesquisas de opinião.  Felizmente, essa ideia não foi para frente devida à veia meio autoritária do ex-ministro.  Ninguém se preocupou com a teoria do domínio do fato, mas sim se os políticos julgados seriam condenados.  Inocência ou culpa era uma questão secundária.  Como ousar questionar o julgamento de um herói como Barbosa?  Bastava que Barbosa decidisse para que houvesse apoio incondicional a esta decisão.  Felizmente, o julgamento decorreu de maneira que vários corruptos e o facínora do José Dirceu fossem condenados.

O mesmo acontece agora na Operação Lava-Jato.  Sérgio Moro foi alçado a uma condição de super-herói e de salvador da pátria.  Claro que há questionamentos sobre se as prisões preventivas têm sido excessivas ou usadas como uma maneira de extorquir confissões.  Aliás, este tipo de artimanha não é exclusiva do Ministério Público brasileiro, até mesmo as promotorias dos Estados Unidos forçam acordos goela abaixo de acusados.  Mas aqui, estamos se aproximando de um ponto que basta a Polícia Federal, Ministério Público ou o Sérgio Moro suspeitar da culpa de alguém para este dever estar trancafiado sem sequer poder exigir qualquer direito constitucional.  Ainda não vivemos algo parecido com o Reino do Terror da França pós-revolucionária de 1793, mas me incomoda a ausência de questionamento jurídico de boa parte da população quanto às ações da Operação Lava-Jato.  Claro que há críticos, entre eles Reinaldo Azevedo e seu histrionismo.  Nota-se que o vazamento da conversa de Azevedo com Andrea Neves dá a nítida impressão de retaliação do Ministério Público contra Azevedo.  O Brasil se encontra em um ponto perigoso em sua história.

O episódio que envolveu a gravação de Michel Temer com o mega-criminoso e dublê de empresário Joesley Batista é escandaloso.  É claro que Temer foi pego em uma situação para lá de constrangedora, mas a maneira que foi pego é preocupante.  Uma gravação ilegal, não peritada e de qualidade para lá de duvidosa foi usada para se lançar o país para uma tempestade.  Porém, o atual repúdio ao acordo de delação com Joesley e agregados mostra que há claramente um limite que o Ministério Público ultrapassou.  Se o pescoço de Joesley fosse "oferecido à guilhotina" junto com os de Temer e Aécio Neves, esse tipo de ação ilegal seria amplamente comemorado.  O fato do Ministério Público brasileiro não ter que responder a ninguém além do próprio Ministério Público preocupa, uma vez que este tipo de ação não é repreendida sob temor da opinião pública considerar qualquer repreensão como uma retaliação por parte de políticos corruptos.

O sucesso da Operação Lava-Jato é necessário por vários motivos, entre eles extirpar sistemas viciados da coisa pública, mostrar punições exemplares a corruptos e corruptores e também resgatar a esperança brasileira em que o país ainda tem chance de dar certo, sabe-se lá quando!  Esses motivos me lembram aqueles mostrados na população que adorava os super-heróis.  A derrota de Lex Luthor para o Super-Homem sempre era um alento à população castigada.  Não interessava se o Super-Homem (ou qualquer outro super-herói) transgredisse as leis desde que o resultado fosse a derrota do vilão.  A retidão moral e ética de Clark Kent era quase um passe livre para suas ações.  Qualquer policial, promotor e juiz que se julgar acima da lei para agir de qualquer maneira para atingir fins específicos está violando o estado democrático.  Se isto ocorre repetidamente, então cria-se um estado de exceção e com apoio popular.

Não devemos esquecer que apesar de cidadão de destaque, ainda positivo, os protagonistas da Operação Lava-Jato não devem receber um cheque em branco da sociedade para fazer o que bem entendem para atingir os resultados.  Estes são sim subordinados às leis descritas na Constituição Brasileira, por mais que esta seja problemática.  E também devemos lembrar que os vilões nossos, Joesley Batista e até mesmo Lula, estão aí por nossa responsabilidade.  Como gosto de lembrar, mesmo diante de um apoio maciço da população ao julgamento dos mensaleiros, Lula foi re-eleito em 2006 por essa mesma população, cúmplice da corrupção amplificada pelo PT e dos conchavos do governo lulopetista com criminosos da laia de Joesley Batista.  O Brasil atravessará uma sequência de crises enquanto nos portarmos como os pusilânimes humanos das estórias do Super-Homem.

sábado, 15 de abril de 2017

O Ataque das Formigas Reforçadas

A Guerra Fria e a constante ameaça de um holocausto nuclear foi algo que não só marcou a minha geração, e outras anteriores, como também inspirou a criação de algumas peças de ficção memoráveis, a exemplo de bons filmes como The Day After, Testament Threads, além dos dois últimos filmes da trilogia original de Mad Max, que mostravam os devastadores efeitos que esse tipo de conflito poderia ter sobre a humanidade.  Já outras peças de ficção apesar de não terem esta qualidade eram igualmente marcantes pela imaginação fértil do que poderia acontecer, como foi o filme de 1977 Damnation Alley.  Nessa pérola do cinema trash apocalíptico, os sobreviventes do ataque nuclear entre os vários perigos que se deparavam, tinham que enfrentar enxames de baratas indestrutíveis que rapidamente dizimavam os atores coadjuvantes, desesperados para colocarem em seus pífios currículos ao menos 5 minutos de participação em qualquer filme meia-boca .  Essa foi a época que se acreditava que, em um pós-guerra nuclear, o planeta Terra seria dominado pelos insetos como baratas e formigas.  Na década de 1990, o impagável Pinky and the Brain dedicou um episódio no qual o Pinky e o Cérebro viajavam para um futuro dominado pela civilização das baratas que ascenderam à posição de espécie dominante na Terra após os EUA, governado literalmente pela cabeça de Bill Clinton conservada em uma jarra, entram em guerra com o Canadá causando o holocausto nuclear.  Também nesta década, surgiu a franquia de RPG para computador Fallout, aonde o protagonista após anos em um abrigo nuclear saía para a superfície e tinha que batalhar com várias criaturas resultantes da radiação como formigas gigantes.

A divulgação da lista de Edson Fachin está sendo comparada à explosão de uma mega bomba atômica no Brasil.  O conteúdo das delações de Emílio e Marcelo Odebrecht são realmente estarrecedoras.    A política é um meio sujo, isso já era conhecido há muito tempo, conforme já dizia o chanceler alemão Otto von Bismarck, em uma frase atribuída a este, os cidadãos não poderiam dormir se soubessem como são feitas as leis e as salsichas.  Mas o que choca é que existe um sistema em vigor a serviço da corrupção no Brasil.  É a famosa cleptocracia, no qual só os bandidos ascendem ao poder.  A Odebrecht financiava todos os partidos de expressão, os da situação ganhavam mais sob forma de propinas e similares, mas os de oposição também recebiam.  Esses últimos eram compostos por políticos que não recebiam propinas por não estarem em posição de recebe-las, mas tinham todo o potencial de quando no governo cometerem os mesmos desmandos em troca de propinas.  A esquerda brasileira cria a narrativa que os políticos são corrompidos graças aos empresários inescrupulosos, uma variante das teorias de Jean-Jacques Rousseau.  Mas também pode ser elaborada a narrativa que os políticos só permitem a existência de empresas corruptas, já que as idôneas não sobreviveriam sem molhar as mãos dos burocratas.  É inútil nesta hora discutir o que veio antes, se o ovo ou a galinha.  É necessário repensar a democracia brasileira, e aí mora o perigo, pois no momento ela está sendo repensada por políticos corruptos.

Em meio às atordoantes notícias recentes, dois pontos são relevados a segundo plano diante do alarde, quando não deveriam ser.  Primeiro, essa lista não é uma bomba atômica e sim uma poderosa arma convencional como a tal da MOAB (Mother of All Bombs) lançadas no Afeganistão pelos americanos para destruir membros do Estado Islâmico.  Os políticos atingidos pelas delações estão ainda em posição de poder.  A lista contém nomes de políticos que estão sendo investigados, que sequer foram denunciados quanto mais condenados.  Basta ver a morosidade das investigações e da justiça brasileira para se traçar uma linha de tendência que aponta que talvez em 2030 se conclua todas essas investigações.  O segundo ponto é que não se dá crédito à ímpar resiliência do político corrupto brasileiro.  Há quanto tempo Renan Calheiros está no cenário político em posição de eminência apesar de quase todos, menos seus eleitores, saberem o tipo de político que ele é?  Enquanto não forem afastados, ou por cassação ou pelo voto, essas pragas estarão tramando maneiras de continuarem no poder.  O famigerado projeto de voto em lista fechada é uma maneira de Renan e similares de escaparem os efeitos da explosão da MOAB tupiniquim.

Mas não há dúvida, a lista de Fachin surtirá efeitos drásticos no cenário político.  Neste momento, o maior estrago foi feito na oposição ao PT.  Pelo menos enquanto Lula não for preso.  O PSDB neste momento é o partido mais duramente atingido por estas delações.  O partido que durante os governos do PT  se tornou o mais forte de oposição, por exclusão e não exatamente por opção espontânea, tem seus principais líderes atingidos.  Mesmo que o PSDB não tenha participado do assalto à Petrobras, que é o foco da Lava-Jato, só o fato de Aécio Neves, José Serra, Geraldo Alckmin e outros tucanos graúdos serem citados pelos Odebrecht já causa um dano irreversível em qualquer pretensão destes à presidência da república.  Se estes realmente agiram de maneira criminosa, que sejam punidos após investigações diligentes.  Mas o fato de estarem na lista já demonstra que o PSDB flertava com uma instituição podre em seu âmago.  O DEM também foi atingido, mas lembrando que este era o antigo PFL e que era por sua vez uma dissidência do PDS, isso não deveria espantar ninguém que é atento à política.

Os danos infligidos aos dois partidos que mais fizeram oposição ao PT durante seu governo faz surgir um vácuo entre possíveis presidenciáveis para 2018.  A esquerda até certo ponto se satisfaz com esta devastação, pois como já foi dito por alguns cronistas, o PT almejou igualar diante da opinião pública todos os partidos na corrupção assim que as investigações da Lava-Jato chegaram à imprensa.  Caso Lula não seja preso e impossibilitado de concorrer, esse é um candidato forte para o posto, para o desespero da nação.  Marina e Ciro Gomes são outros nomes para 2018 e apesar de ser improvável a eleição de qualquer um dos dois, a possibilidade destes conseguirem atrair eleitores de oposição para si e se classificarem para um segundo turno é preocupante.  O pior cenário seria aquele no qual Lula enfrenta Marina ou Ciro no segundo turno.  Outros candidatos de esquerda como oriundos do PSOL, PCdoB e outros partidos similares não assustam pois não terão suporte financeiro ou estratégico para alcançar a maioria dos eleitores.

Aquilo que é chamado pelos esquerdistas como "direita", que na verdade são demais políticos e partidos que não compartilham da ideologia que colocou o Brasil na crise, tem de apresentar candidatos fortes para 2018.  Em 2014, Aécio Neves deu um rosto à oposição e quase conseguiu derrotar Dilma.  Depois foi alvo de sistemáticos e implacáveis ataques do PT que foram bem eficazes em minar sua popularidade.  Os últimos eventos sepultaram sua chance em 2018, apesar que podem não ter sepultado sua candidatura propriamente dita.  Caso o PSDB queira realmente ter chance em 2018, o nome do seu candidato, no momento pelo menos, é João Dória.  Por mais que negue e diga que não é candidato, pelo andar da carruagem, Dória será forçado a concorrer a presidência.  Vem fazendo uma boa administração na prefeitura de São Paulo, apesar de ser cedo ainda para uma avaliação mais concreta.  Indago se seu estilo vai ter eficiência similar na presidência.

Como a lista de Fachin não é uma bomba atômica, não seremos atacados por formigas gigantes ou similares, mas sim pelo que eu chamo de formigas reforçadas, isto é seres de segundo escalão que não teriam destaque em condições normais, mas que neste cenário de devastação ganham eminência de maneira igualmente preocupante.  Jair Bolsonaro é um que em outras épocas não teria chance, e nem agora tem muita, mas pode tirar votos de candidatos melhores.  Sua plataforma parece se resumir a soluções simplistas para reduzir a criminalidade, algumas até soam como corretas, e populistas para a economia.  Não tenham dúvida que uma improvável eleição sua traria um retrocesso na economia, pois vejo em Bolsonaro as mesmas ideias equivocadas implementadas no final da ditadura militar como maior intervenção do estado, como se isso fosse possível, e uma possível estatização de alguns setores da economia.  Em suma, esperem aumento de despesas do governo no longo prazo sem preocupação em se aumentar receitas, sem contar mais focos de corrupção.

O pior é que outros aventureiros podem surgir ainda antes de 2018.  Difícil vislumbrar se irão ter chance de ganhar, mas não consigo ver ninguém fazendo uma campanha baseada em redução do tamanho do estado, reformas tributária, trabalhista e previdenciária, pois não tem apelo popular esta plataforma.  Basta lembrar da eleição de 1989 e ver as propostas absurdas dos principais candidatos, especialmente os de esquerda.  A tempestade perfeita é a ascensão dessas formigas em um cenário de crise econômica como esta no qual o Brasil atravessa.

Não há dúvidas que a Lava-Jato deve prosseguir.  Sua interrupção seria um incentivo aos corruptos continuarem a devastar o Brasil.  Não se deve esquecer que a crise atual é fruto dos esquemas corruptos do PT e não da Lava-Jato em si.  E que a oposição ao PT também deve ser investigada e condenada, se provada a culpa, para que se elimine futuros corruptos e que novos Petrolões e Mensalões não aconteçam.  Basta lembrar que antes de 2002, o PT tentava convencer a todos que era o mais idôneo dos partidos.  Entretanto, uma dose de pragmatismo é suficiente para se notar que o futuro que se desenha para o Brasil é sinistro.






segunda-feira, 20 de março de 2017

A Eterna Infância Brasileira

Em 1953, foi publicado o livro O Fim da Infância do autor britânico Arthur C. Clarke que narra a estória da chegada de alienígenas ao nosso planeta e as consequências finais terríveis decorrentes deste contato.   Os alienígenas, conhecido como os Overlords, aparecem no ápice da Guerra Fria com a humanidade se preparando para se destruir por completo, sim estivemos bem perto disso, e impedem esta destruição.  A Terra passa a ser tutelada pelos visitantes que inicialmente oferecem várias vantagens como o fim do apartheid, das touradas e um período de paz ímpar na história da humanidade.  O livro termina com a raça humana deixando de existir após décadas de jugo alienígena quando os Overlords transformam a última geração de crianças em seres telepatas desprovidos de humanidade que vão se juntar ao Overmind, uma consciência única formada de civilizações extintas na galáxia a quem os Overlords serviam.  Os últimos capítulos do livro são simplesmente tétricos e melancólicos.

Algumas interpretações podem ser feitas sobre esta obra de um dos principais autores de ficção científica da história, mas a minha é que há um preço alto a se pagar quando somos tutelados em consequência de não sabermos tomar as decisões necessárias para gerir nossas vidas.  No caso da Guerra Fria, esta “esfriou” em 1991 quando a União Soviética se desmantelou resultado de anos de devastação socialista na economia do Segundo Mundo.  Atualmente, quando vejo Trump e Putin no poder, indago se os Overlords estariam próximos a se revelarem a nós.

Mas a incapacidade de auto-gerência não é só aplicável à paz mundial e sim a de se manter uma sociedade economicamente estável.  A infinita e extraterrestre incompetência do governo Dilma em gerir o país e a conivência de boa parte da população brasileira em eleger e reeleger Dilma devastou a economia do país.  O resultado é um déficit público assustador capaz de arruinar as futuras gerações brasileiras e a única maneira de sair desta situação é o Brasil como um todo se unir e aceitar os sacrifícios necessários que devem ser feitos.  A Reforma da Previdência proposta é o mais importante destes sacrifícios que devem ser feitos, caso isto não seja feito este déficit não será revertido.  Infelizmente, não há a consciência de boa parte da população brasileira da gravidade da situação e das consequências da manutenção das atuais regras da previdência.

Debates resultantes deste tema giram em torno da “supressão de direitos” do povo, como se a atual crise não suprimisse estes mesmos direitos, e até mesmo a teses de contabilidade criativa tentando nos convencer que a crise previdenciária não existe.  Castas do funcionalismo público brasileiro de número reduzido, mas com muito poder de se fazerem ouvidas, estão preocupadas com o fim de seus privilégios e não se importam que o resto da população tenha que arcar com os custos destes privilégios.  Enquanto isto, boa parte dos trabalhadores são obrigados a contribuir ao INSS e não só com o que é descontado do salário bruto, mas também com outros encargos impostos ao empregador e que são esquecidos na conta final.  Ao se aposentarem receberão menos do que contribuírem.

Faço então a pergunta que o Brasil como um todo deveria estar fazendo: por que precisamos do governo gerindo a nossa previdência?  O INSS deveria existir?  Quando olho para meu holerite e vejo o quanto o governo confisca do meu salário sob o eufemismo de contribuição, lembro que eu poderia gerir melhor este dinheiro do que o governo.  O principal motivo para isto é que tenho interesse em fazer este dinheiro render muito mais do que qualquer governante ou burocrata terá.  Alguém poderia dizer que a minha contribuição é necessária para aqueles mais desfavorecidos se aposentarem.  E mais uma vez o país segue atolado em políticas assistencialistas que não reduzem e sim perpetuam a pobreza.  Se aplicasse em um fundo de renda fixa ou caderneta de poupança, poderia obter uma melhor renda no futuro do que tendo o dinheiro “confiscado”.  É mais do que conhecido que o regime previdenciário brasileiro deveria ser de capitalização e não de contribuição, isto é a aposentadoria é fruto do quanto se poupou e não de um confisco da produção das gerações mais novas.  Quem quiser aposentar no “ápice da velhice” aos 45 anos que faça isso ganhando dinheiro suficiente para se sustentar pelo resto de sua vida e não metendo a mão no bolso alheio.

Qualquer estudo demográfico mais simplório é capaz de escancarar que a situação piorará e muito se as regras da previdência não forem alteradas.  O envelhecimento da população brasileira e mundial é um fato consumado e a passividade diante disto resultará em um desastre anunciado.  Portanto, estas gerações mais novas que sofrem confiscos terão seus direitos de saúde, segurança e educação subtraídos para que se mantenham privilégios de uma geração anterior.  O argumento que é necessário trabalhar 49 anos para conseguir uma aposentadoria integral é em seu âmago risível.  Quer dizer que alguém que trabalhe 49 anos não foi capaz de gerir o seu sustento para que pudesse ter recursos próprios para se sustentar?  Recomendo àqueles que reclamam disto conversarem com seus respectivos gerentes de banco para contribuírem (voluntariamente) com um plano de previdência privado.  São investimentos ruins, mas que podem dar um retorno digno e merecido no futuro, em um tempo mais curto que 49 anos.


O que me choca nesta celeuma absurda toda é que o brasileiro exige cada vez mais uma tutela maior do estado sobre nossa vida, e uma tutela nociva.  Tirando um punhado de liberais que sabem somar e subtrair, além daqueles que pertencem às castas privilegiadas que usam os conhecimentos de aritmética em benefício próprio, o que me parece é que o resto da população dá uma declaração de incompetência de gerir as próprias finanças.  Se não souberem vão ter que aprender de alguma maneira, ou irão arcar com os resultados desta incompetência.  Ignorância disseminada não pode ser desculpa para se arruinar o país como um todo.  Enquanto não tivermos controle sobre nossas decisões e pedirmos tutela de outros, os Overlords que habitam Brasília, que como já disse é um mundo existente em outra dimensão, continuarão trabalhando para ceifar em um futuro muito próximo as nossas futuras gerações.  O Brasil precisa virar adulto.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Riqueza e Investimentos

Muito já foi falado aqui sobre a retórica populista e batida dos ricos serem os culpados pela pobreza no país.  O que não deixa de ser verdade, pois a maior concentração de ricos se encontra no universo da política que sufoca o país, mas as armas estão na verdade apontadas para a classe empresarial e até mesmo os melhores assalariados que compõem a classe média.  Quando a crise econômica explodiu no início do segundo mandato de Dilma (e não no início do governo Temer), as soluções vindas das "grandes mentes" da esquerda variavam em torno de taxar os mais ricos.  Solução simples, populista e completamente equivocada.  O maior erro de uma nação é querer destruir sua classe rica produtora, que não é aquela detentora de privilégios estatais.

Guardar, torrar ou investir, essas são as 3 opções que um rico tem com seu dinheiro.  A primeira opção é a de usar o dinheiro como um meio de se obter rendimentos por dividendos para se sustentar.  Não são raros os que optam por isso, mas não são muitos.  O dinheiro é aplicado em investimentos de relativo baixo rendimento e risco mínimo.  Isso é feito se emprestando este dinheiro para instituições relativamente seguras, cujas chances de dar calote são bem reduzidas, como o próprio governo ou uma empresa de elevada solidez.  É um recurso necessário aos devedores para ser usado como capital de giro, aliviar déficits momentâneos ou como investimento de maiores riscos por estes tomadores de dívidas.  A opção de guardar, em suma, é a aquela em que o rico amarra o burro na sombra.

A segunda é aquela mais alardeada na mídia que é quando o rico resolve usufruir de seu direito legítimo de gastar o quanto quiser no que quiser.  Se é grosseiro ou não escancarar essa opulência diante dos mais desfavorecidos, isso é um outro debate.  Por certa ótica, é uma maneira de se distribuir renda, pois torra-se esse dinheiro normalmente com supérfluos e caprichos que abastam uma miríade de prestadores de serviço e comerciantes.  São vários cabeleireiros, decoradores, comerciantes de roupas e carros caros que simplesmente adoram quando um rico entra em um frenesi de gastança, afinal essa gastança garante o ganha pão desses trabalhadores.  Desde que o rico não gaste até ficar pobre, esse pessoal tem um emprego.  E eis que surge um problema, pois muitos consideram que os ricos tem riqueza infinita.  Basta abrir a torneira que milhões terão dinheiro para a vida, basta distribuir a riqueza que o Brasil fica bem.  Rico que gasta além do que pode é candidato para se tornar ex-rico.  

Realmente, o nosso alto coeficiente Gini, que mede a desigualdade de uma nação, de 51,5 nos coloca no topo da lista dos países mais desiguais do mundo.  Mas outro índice, mais tradicional, é mais significativo: a renda per capita brasileira é de cerca de US$8.500 anuais (números de 2015) contra cerca de US$56.000 dos americanos.  O contraste é duro e escancara a realidade que nós somos pobres.  O problema do Brasil não é a distribuição de riqueza e sim a falta dessa riqueza.  Precisamos aumentar o PIB para que se possa diminuir a miséria.  Só com investimentos em produção isso vai ser obtido, e não com programas assistencialistas como Bolsa Família.  Muito menos com delírios de riqueza resultante de petróleo e nióbio.

Eis que se chega a terceira opção do rico quanto ao seu dinheiro a de se investi-lo.  Quando falo em investir dinheiro quero dizer gerar mais dinheiro a partir deste.  Esta difere de guardar pois o rico deseja aumentar o seu patrimônio e não subsistir dele, e ele pode até gastar este dinheiro, mas isto deixa de ser o objetivo principal.  A primeira condição para se investir é acreditar que haverá um retorno sobre o investimento, apesar do risco, ou seja o lucro, aquele que é execrado pelos invejosos e pseudo-intelectuais de plantão.  O Brasil como povo e nação não incentiva o lucro e sim o condena.  Para piorar, existe uma burocracia interminável para se abrir qualquer negócio nesse país, licença disso, alvará disto, vistoria daquilo, todos longos e intermináveis.  Para depois ser acionado na justiça trabalhista por pessoas que foram agraciadas com empregos mas querem muitas vezes regalias, basta ver o que está acontecendo com a Uber.  Sem contar os impostos, afinal o governo no discurso odeia o lucro privado, mas gosta tanto deste lucro que o confisca.

Se os ricos por iniciativa privada não investem, então o governo passa a ter essa incumbência.  Só que o governo é um mau investidor e um gastador inveterado.  E pior, muitas vezes esses investimentos tem viés ideológico que só atrapalha.  No governo Dilma, programas de concessão de estradas limitavam o lucro dos proponentes.  Claro que não funcionou e basta ver o estado deplorável destas estradas para ver o mal que este viés faz à nação.  E quando o governo investe diretamente ou quase diretamente também não dá certo.  Nossas estatais são modelos de ineficiência e atualmente estão à beira de um colapso financeiro.  O BNDES emprestou dinheiro de impostos em negócios que simplesmente não dão lucro.

A segunda condição para se investir é que o investidor tenha responsabilidade sobre seu capital de investimento.  Um bom investidor pode ser arrojado, mas será sensato e diligente.  Afinal é seu dinheiro que está lá e se o negócio for ruim a perda será sua.  O governo pega dinheiro dos outros, em outras palavras não tem responsabilidade sobre este, e empresta sem fazer a mínima diligência, em outras palavras empresta mal.  Para piorar quem toma este dinheiro, às vezes não tem a responsabilidade de retornar este dinheiro e é até agraciado com mais empréstimos para afundar de vez o negócio.  Como diria Roberto Campos, o Brasil é um país que não corre o menor risco de dar certo.  Não com essa atitude.  Desse jeito, os ricos vão investir em outro lugar, ou gastar a grana até ficarem pobres, melhor assim do que sendo taxado pelo governo e processado na justiça trabalhista por picaretas.

sábado, 28 de janeiro de 2017

A Desvirtuação dos Protestos


A transição da Idade Moderna para a Idade Contemporânea entre os Séculos XVIII e XIX foi marcada pela industrialização e a adoção do sufrágio universal, pelo menos em boa parte das nações.  Historicamente, essa transição é marcada pela Revolução Francesa em 1789, iniciada com o protesto que culminou com a invasão à prisão da Bastilha, uma revolução burguesa, no qual os produtores da riqueza se revoltaram contra uma elite que nada produzia além de impostos e privilégios.  Revolta também compartilhada do outro lado do Atlântico, na emergente nação americana.  No ano de 1773, houve o Boston Tea Party, um protesto no qual americanos destruíram um carregamento inglês de chá, assim protestando contra as políticas de impostos imposta pelos ingleses nas colônias, entre elas a de Massachusetts, onde Boston é localizada.  Naquela época, os poderes dos colonizadores, déspotas, monarcas e similares não seria cedido aos demais cidadãos sem conflitos.  Além dos EUA e da França, o Reino Unido teve a Revolução Gloriosa em 1688, que é considerada um marco na transição da monarquia absolutista para uma monarquia parlamentar naquela nação.

A história da humanidade é marcada por revoluções, revoltas, insurgências, protestos, levantes e outros.  Nem todas resultaram em mudanças para o melhor.  A própria Revolução Francesa, apesar de marcante, resultou em um novo período de regime absolutista com Napoleão Bonaparte.  Outras resultaram em regimes ainda mais brutais como a Revolução Russa em 1917 e a Iraniana em 1979.  Em 1989, o mundo testemunhou a insatisfação contida dos chineses com os protestos na Praça da Paz Celestial e a brutalidade do governo comunista que massacrou milhares de protestantes. A mais ilustre das vítimas, foi um desconhecido que ficou na frente de uma fileira de tanques num ato em que expressava toda a sua indignação além de um comportamento que ficava entre coragem e insanidade.  Recentemente, protestos na Tunísia, Egito e Líbia culminaram na “Primavera Árabe”, que rapidamente caminha para um “Inverno Árabe”.

Protestos são maneiras da sociedade expressar suas insatisfações e ensejos por mudanças.  As democracias modernas garantem o direito de seus cidadãos protestarem, enquanto nas ditaduras, estes são geralmente repreendidos brutalmente.  Mas isso não quer dizer que todo protesto é por um bom motivo, ou às vezes é bem-intencionado, mas com exigências equivocadas.  Em junho de 2013, os brasileiros protestaram contra o governo.  Fizeram diversas exigências, mas o ponto de partida foi a do aumento das tarifas de transporte público.  Protestar contra este aumento sem entender que era uma consequência de uma política econômica equivocada é miopia.  Os salários de motoristas e cobradores aumentaram, os preços de autopeças subiram, tudo isso causa pressão inflacionária.  Não vi ninguém protestando contra uma política de juros populista que colocou a inflação no teto da meta.  É claro que as empresas de ônibus municipais não são exemplos de eficiência e boa gestão, muito pelo contrário, mas esse aumento nos custos ou é repassado para o usuário, ou para o contribuinte por meio de subsídio da prefeitura, ou isso impacta na capacidade de investimento da empresa.  Mesmo assim, os protestos foram marcantes e como consequência o governo brasileiro cedeu em não aumentar as tarifas e só.  Um ano depois, os brasileiros reelegeram Dilma para implodir de vez a economia do país.  Resumindo, os protestos de junho de 2013 foram espalhafatosos, incômodos e inócuos.

A imprensa tem seu papel em incentivar os protestos na atual história brasileira.  Poucos órgãos em 2013 foram capazes de denunciar que o que o Movimento do Passe Livre exigia não tinha cabimento.  A despreparada polícia paulista reagiu mal aos protestos diante da imprensa e isso foi o combustível necessário para que a população tomasse a rua, junto com os famigerados black blocks.  E aí começa um dos problemas do país que é a permissividade que grupos que atuam à beira da marginalidade, para não dizer a criminalidade, ajam quase impunemente.  Parte da população foi contra a depredação promovida pelos encapuzados, mas poucos denunciaram estes como vândalos truculentos que até mataram um cinegrafista.  E pouco se sabe quem são estes bandidos, como são organizados e como impedir que causem mais terror.  Fica a pergunta, cadê a inteligência da polícia?

O mesmo se aplica a organizações clandestinas que tem notória projeção como o MST e MTST.  O primeiro age quase impunemente há mais de 30 anos invadindo propriedade privada e extorquindo fazendeiros e indústrias.  É uma organização que não tem sequer CNPJ e cujo suporte financeiro é no mínimo escuso.  Se há alguma investigação em prática desta organização, esta é bem ineficiente, pois estes continuam agindo em plena luz do dia cometendo uma série de crimes.  O mesmo pode se dizer do MTST, organização de mesma metodologia e filosofia cujo líder Guilherme Boulos ganha até coluna em jornal de grande circulação.  E aí vem a pergunta, o que impede a polícia de enquadrar esse tipo de organizações?  E o que impede parte da imprensa de denunciar o MST e o MTST como organizações criminosas?

Muito se fala que ir contra o MST e o MTST é criminalizar movimentos sociais, mas não se comenta que as soluções que os dois propões são equivocadas.  No caso do MTST, cujo líder Boulos foi recentemente preso para ser solto em seguida, a solução é invadir qualquer terreno que julgue que deve ser invadido sem se preocupar com o urbanismo ou leis.  É claro que existe um problema de déficit de habitações em São Paulo, mas ignorar que existem problemas como trânsito estrangulado, saneamento básico deficiente e invasões extremamente nocivas em áreas de mananciais é uma agressão aos demais paulistanos e vizinhos.  Os paulistanos elegem prefeito e vereadores para que estes possam gerir a cidade de maneira que todos os cidadãos sejam respeitados, não apenas os militantes do MTST e os simpatizantes de Boulos.

Mas não são só os “organizados” que protestam nesta banda, os desorganizados protestam e tumultuam a torto com enorme complacência das autoridades e um apoio sem sentido de parte da imprensa.  Alunos não gostam que a polícia autue usuários de drogas, invadem reitorias de universidades; sindicalistas são contra mudanças necessárias nas leis trabalhistas, fazem piquetes impedindo trabalhadores de acessarem seus locais de trabalho; sem contar outros tipos de protestos que fecham ruas, depredam patrimônio público ou alheio, queimam pneus, por qualquer motivo tosco.  Os colonos de Boston talvez não conseguissem um impacto tão grande no Século XVIII se não infligissem um dano financeiro e moral à coroa inglesa, mas isso foi em outro momento e em outra época.  Hoje, existe uma democracia vigente (não houve golpe) e os protestos devem respeitar sim os direitos dos demais e as leis existentes.

Infelizmente no Brasil, esses movimentos agem protegidos por um falso escudo moral alegando que protegem os mais humildes dos exploradores.  Estes últimos podem ser o contribuinte ou alguém que juntou dinheiro durante a vida para adquirir uma propriedade e ver o direito desta propriedade ser atacado por pseudomoralistas.  Está na hora desses movimentos sociais e outros protestos feitos por arruaceiros serem denunciados e condenados por serem agressões à democracia e não como defesa da democracia como pregam.  Há quase 250 anos atrás, os protestos eram contra regimes absolutistas e ditatoriais feitos pela sociedade, agora são feitos por marginais simpatizantes de ditaduras contra a sociedade e o cidadão.  Basta ver a foto de Boulos posando ao lado de Raúl Castro, Não é exclusividade do Brasil não enxergar isto, mas agride o brasileiro de bem ver este tipo de desvirtuação seguir impune aqui nessas bandas.