Menos de
duas semanas após a eleição, Dilma “nos presenteou” com aumento da taxa de
juros, das tarifas elétricas e outro da gasolina está por vir. Não estou surpreso. Qualquer um que lembrasse da história recente
desse país e um pouco de economia já esperava por esses “presentes de grego”. No início de 1986, surgiu o Plano Cruzado que
aliviou a inflação com o congelamento de preços até a semana seguinte da
eleição daquele ano, quando veio o Plano Cruzado 2 que promoveu inúmeros aumentos
a produtos com preços represados e que estavam em falta no mercado. Em 1998, Boris Ieltsin declarou a moratória
russa que deixou no vermelho inúmeros investidores e o Brasil em um momento
vulnerável se tornou foco das agências de risco, que erraram feio ao endossarem
a Rússia, que previram destino semelhante ao Brasil. Diante de uma política equivocada de banda
cambial, o Brasil perdia mais de US$1 bilhão por dia para defender a cotação
contra o pânico e a especulação. A
liberação do câmbio só veio em janeiro de 1999, após a eleição presidencial e
um ato de completa inconsequência de Itamar Franco. O país teve que suportar alguns momentos
tensos, como o dia 31 daquele mês, com direito a uma boataria desenfreada que
só serviu a especuladores. Em suma, esse
tipo de surpresa pós eleição não é exclusivo de Dilma, mas há diferenças
consideráveis desta vez.
Em 1986, a
inflação escalava a níveis de 12% ao mês, e surgiu a equivocada ideia de Dilson
Funaro que uma “solução mágica” resolveria facilmente o problema do aumento
escorchante dos preços. O Brasil foi
duramente castigado com a aceleração da inflação nos anos seguintes. Impressionante que um exemplo claro que
soluções que visavam só atenuar sintomas de sérios desequilíbrios financeiros
não tenham sido assimilados por aqueles que comandam nossa economia. O uso da banda cambial deveria ter sido
abandonado antes já em 1997, na crise dos Tigres Asiáticos, mas foi mantida,
diga-se de passagem com juros reais superiores a 40% por um curto período, e a
liberação do câmbio foi descontrolada.
Isso foi a demonstração que quanto mais demorada forem as ações corretivas
da economia mais duro será o período de transição.
A política
econômica dos últimos 4 anos foi um equívoco considerável. A equipe econômica de Dilma, encabeçada pela
própria, procurou soluções mágicas para todos os problemas econômicos brasileiros. O aviso tinha sido dado quando a Carta
Capital comemorou a saída de Henrique Meirelles da presidência do Banco Central
para ser substituído por Alexandre Tombini, um fantoche. Esta equipe econômica entendeu que o problema
para o crescimento do país eram os juros altos, então diminuiu-se os juros sem
se preocupar com o efeito que isto iria causar ao controle da inflação, isso
sem falar da armadilha do endividamento preocupante da população. Para resolver o problema da inflação, manteve-se
o preço da gasolina artificialmente baixo, independente que isto colocou a
Petrobras e o setor sucroalcoleiro no vermelho.
Para se diminuir o custo Brasil e também manter a inflação baixa, se
cometeu atrocidades no setor elétrico. A
Eletrobras também está em apuros, e não é a única! Agora estamos pagando a conta destes
equívocos. As medidas tomadas
recentemente eram sim necessárias para não se perder controle da inflação, que
continua sem muito controle, e evitar a bancarrota de Petrobras, Eletrobras,
usinas de cana de açúcar, etc. Quem sabe
um pouco de economia já esperava por isso.
O grande
estelionato não foram estes aumentos, mas sim a promessa que muitos incautos
acreditaram que as soluções para o Brasil seriam simples e fáceis, que apenas a
boa vontade dos governantes, que eu não acredito que tenham, seria suficiente
para se resolver tudo. Os outros
governos não as fizeram não porque eram equivocadas e sim porque eram a favor
dos ricos e contra os pobres. Ricos e
pobres pagaram a conta agora. Infelizmente,
o Brasil não crescerá sem reformas profundas e sem uma política de
investimentos sérias, pois os PACs são piadas de mau gosto. Como em 1986 e em 1998, as medidas corretivas
demoraram para serem todmadas e a situação é crítica.
Sendo franco com vários crédulos, mas lembrei da estória de Pinóquio, que foge para uma Terra dos Brinquedos com outro colega
gazeteiro achando que não precisaria trabalhar e só brincaria. Descobre que na verdade a Terra dos
Brinquedos era uma armadilha e todos os gazeteiros eram transformados em
burros. Pinóquio foge antes de
se transformar por inteiro em burro. Já
seu colega gazeteiro não consegue ter a mesma sorte. Passamos tempo demais na Terra dos
Brinquedos. E desde 1986 (ou antes)
estamos lá!
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