quinta-feira, 6 de novembro de 2014

De Marco Antônio ao Emperador Palpatine



Um dos eventos mais marcantes da Idade Antiga com certeza foi o assassinato em 44 AC do cônsul romano Júlio César pelos auto-entitulados Liberadores no qual estava incluso seu amigo Marcus Brutus. O grande dramaturgo inglês William Shakespeare relata boa partes destes eventos em sua peça homônima Júlio César. O cônsul após vitoriosas campanhas militares se recusou a entregar seus poderes como exigia o senado da República Romana e após uma guerra civil se tornou ditador vitalício. Promoveu várias reformas, inclusive reformas agrárias, desagradando de membros do senado e outros membros da elite da República Romana. O resultado é seu assassinato onde consta a lenda que olhou para seu ex-amigo e proferiu a famosa frase “Até tu Brutus”. Shakespeare retrata um dos discursos mais marcantes da história dos discursos feito por Marco Antônio, aliado de Júlio César, poucos dias após o assassinato. Na ocasião, Brutus é o primeiro a se dirigir ao povo para discursar e racionalizar explicando o porquê de seus atos, pois Júlio César estava subvertendo o estado de direito e tentando derrubar a república. Já Marco Antônio “pede emprestado o ouvido do povo” e durante o seu discurso lê o testamento de Júlio César no qual o finado cônsul deixava para cada cidadão romano 75 dracmas, talvez algo em torno de 100 dólares. Era o que faltava para execração pública de Brutus e os Liberadores e o início de suas derrocadas. No final das contas, Brutus falhou pois o filho adotivo de Júlio César, Augusto César se tornaria o primeiro imperador romano após outra guerra civil. E Brutus ganhou merecidamente a infâmia por ser um dos maiores traidores da história da humanidade.

 Mas o que mais me chamou atenção na peça de Shakespeare foi o que ocorreu em portas fechadas após o discurso de Marco Antônio. Os aliados de Júlio César combinam entre si uma maneira de diminuir a herança de Júlio César e ficar com parte do dinheiro destinado ao povo (cidadãos romanos). Independente das reais intenções de Júlio César e seus aliados, e ressalto que este impulsionou o Império Romano para seu auge, estes pretendiam subverter a República Romana. Para o escritor italiano Dante Alighieri em sua obra prima a Divina Comédia, Brutus passaria o resto da eternidade condenado a ser mastigado por Satanás, pois havia assassinado o enviado divino para governar toda a Europa. Faltou dizer isso aos povos que as tropas de Júlio César subjugou. Sem contar que o Império Romano jamais considerou adotar algo semelhante ao sufrágio universal. A lição que tiramos da história de Júlio César é para desconfiarmos das reais intenções de atitudes demasiadamente populistas e excessivamente altruístas. Estes gestos são muitas vezes meios para se obter um apoio popular para interesses que conflitam com a liberdade e a democracia. E tenha certeza que governos que almejam projetos de poder vão agir como Marco Antônio e seus aliados, vão querer se apoderar de parte dos “75 dracmas”.

 O Império Romano também inspirou algumas obras da ficção científica, como Fundação de Isaac Asimov, Jornada nas Estrelas e a saga de Guerra nas Estrelas. Como fã da saga, lembro me do Episódio III (A Vingança dos Sith) narra o fim da guerra civil que assolava a República. Guerra que havia sido instigada em segredo pelo Chanceler Palpatine como meio para ascender ao poder, prolongando seu mandato para poder comandar as tropas republicanas. Ao fim deste episódio, Palpatine diante do senado se auto proclama o primeiro imperador do Império Galáctico sob aplausos. E a protagonista Padmé comenta que “É assim que a liberdade morre sob estrondosos aplausos.” Guerra nas Estrelas é uma obra de ficção mas chama a atenção quantas vezes na história tiranos, ditadores e déspostas ascenderam sob aplausos de pessoas cegas às reais intenções destes.

Não acho que Lula, Rui Falcão, Gilberto Carvalho e demais tenham a competência de Júlio César ou a sagacidade do Imperador Palpatine, mas não é por falta de tentativa. Não tenho dúvida que o PT tem como objetivo se perpetuar no governo minando a democracia. O primeiro sinal evidente disto é a associação repugnante com ditaduras como Cuba e Venezuela e o segundo são as seguidas tentativas de cerceamento à liberdade de imprensa, disfarçada de controle social da mídia. Mas a cereja encima do bolo é o famingerado Decreto 8243 no qual os “companheiros” pretendem continuar com voz ativa no governo mesmo que não sejam eleitos. Mesmo diante destas evidências, para uma parcela da população ir contra o atual governo é o mesmo que ir contra enviados divinos que estão aqui para olhar pelos mais desfavorecidos. Mesmo que estes enviados procurem abocanhar o erário nacional, o que fazem sem pudor. As minhas liberdades e direitos valem mais que 75 dracmas e certamente não quero vê-las serem subtraídas sob aplausos.

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