Um dos eventos mais marcantes da Idade Antiga com certeza foi o
assassinato em 44 AC do cônsul romano Júlio César pelos auto-entitulados
Liberadores no qual estava incluso seu amigo Marcus Brutus. O grande
dramaturgo inglês William Shakespeare relata boa partes destes eventos
em sua peça homônima Júlio César. O cônsul após vitoriosas campanhas
militares se recusou a entregar seus poderes como exigia o senado da
República Romana e após uma guerra civil se tornou ditador vitalício.
Promoveu várias reformas, inclusive reformas agrárias, desagradando de
membros do senado e outros membros da elite da República Romana. O
resultado é seu assassinato onde consta a lenda que olhou para seu
ex-amigo e proferiu a famosa frase “Até tu Brutus”. Shakespeare retrata
um dos discursos mais marcantes da história dos discursos feito por
Marco Antônio, aliado de Júlio César, poucos dias após o assassinato.
Na ocasião, Brutus é o primeiro a se dirigir ao povo para discursar e
racionalizar explicando o porquê de seus atos, pois Júlio César estava
subvertendo o estado de direito e tentando derrubar a república. Já
Marco Antônio “pede emprestado o ouvido do povo” e durante o seu
discurso lê o testamento de Júlio César no qual o finado cônsul deixava
para cada cidadão romano 75 dracmas, talvez algo em torno de 100
dólares. Era o que faltava para execração pública de Brutus e os
Liberadores e o início de suas derrocadas. No final das contas, Brutus
falhou pois o filho adotivo de Júlio César, Augusto César se tornaria o
primeiro imperador romano após outra guerra civil. E Brutus ganhou
merecidamente a infâmia por ser um dos maiores traidores da história da
humanidade.
Mas o que mais me chamou atenção na peça de Shakespeare
foi o que ocorreu em portas fechadas após o discurso de Marco Antônio.
Os aliados de Júlio César combinam entre si uma maneira de diminuir a
herança de Júlio César e ficar com parte do dinheiro destinado ao povo
(cidadãos romanos). Independente das reais intenções de Júlio César e
seus aliados, e ressalto que este impulsionou o Império Romano para seu
auge, estes pretendiam subverter a República Romana. Para o escritor
italiano Dante Alighieri em sua obra prima a Divina Comédia, Brutus
passaria o resto da eternidade condenado a ser mastigado por Satanás,
pois havia assassinado o enviado divino para governar toda a Europa.
Faltou dizer isso aos povos que as tropas de Júlio César subjugou. Sem
contar que o Império Romano jamais considerou adotar algo semelhante ao
sufrágio universal. A lição que tiramos da história de Júlio César é
para desconfiarmos das reais intenções de atitudes demasiadamente
populistas e excessivamente altruístas. Estes gestos são muitas vezes
meios para se obter um apoio popular para interesses que conflitam com a
liberdade e a democracia. E tenha certeza que governos que almejam
projetos de poder vão agir como Marco Antônio e seus aliados, vão querer
se apoderar de parte dos “75 dracmas”.
O Império Romano também
inspirou algumas obras da ficção científica, como Fundação de Isaac
Asimov, Jornada nas Estrelas e a saga de Guerra nas Estrelas. Como fã
da saga, lembro me do Episódio III (A Vingança dos Sith) narra o fim da
guerra civil que assolava a República. Guerra que havia sido instigada
em segredo pelo Chanceler Palpatine como meio para ascender ao poder,
prolongando seu mandato para poder comandar as tropas republicanas. Ao
fim deste episódio, Palpatine diante do senado se auto proclama o
primeiro imperador do Império Galáctico sob aplausos. E a protagonista
Padmé comenta que “É assim que a liberdade morre sob estrondosos
aplausos.” Guerra nas Estrelas é uma obra de ficção mas chama a atenção
quantas vezes na história tiranos, ditadores e déspostas ascenderam sob
aplausos de pessoas cegas às reais intenções destes.
Não acho que
Lula, Rui Falcão, Gilberto Carvalho e demais tenham a competência de
Júlio César ou a sagacidade do Imperador Palpatine, mas não é por falta
de tentativa. Não tenho dúvida que o PT tem como objetivo se perpetuar
no governo minando a democracia. O primeiro sinal evidente disto é a
associação repugnante com ditaduras como Cuba e Venezuela e o segundo
são as seguidas tentativas de cerceamento à liberdade de imprensa,
disfarçada de controle social da mídia. Mas a cereja encima do bolo é o
famingerado Decreto 8243 no qual os “companheiros” pretendem continuar
com voz ativa no governo mesmo que não sejam eleitos. Mesmo diante
destas evidências, para uma parcela da população ir contra o atual
governo é o mesmo que ir contra enviados divinos que estão aqui para
olhar pelos mais desfavorecidos. Mesmo que estes enviados procurem
abocanhar o erário nacional, o que fazem sem pudor. As minhas
liberdades e direitos valem mais que 75 dracmas e certamente não quero
vê-las serem subtraídas sob aplausos.
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