A temporada de Fórmula 1 terminou neste dia 23
de novembro. Lewis Hamilton ganhou seu
segundo título, Felipe Massa disputou a liderança da corrida, Sebastian Vettel
fez sua última corrida na Red Bull e Fernando Alosno fez também a sua última na
Ferrari. Mas a notícia mais importante
na minha opinião vem do final do grid.
Duas equipes nanicas, Caterham e Marussia, finalmente abriram o bico, a
primeira não se sabe se vai continuar em 2015 e a segunda se foi de vez. Eram equipes inexpressivas e que dificilmente
fariam diferença na Fórmula 1. Mas
chamou a atenção para a crise financeira da categoria e a chiadeira de Sauber,
Lotus e Force India é preocupante.
Considerando as encarnações anteriores dessas equipes, lembremos que por
elas passaram Ayrton Senna, Kimi Raikkonen, Fernando Alonso, Sebastian Vettel,
Jenson Button, entre outros. Michael
Schumacher correu pela Sauber no Mundial de Protótipos, pela Force India,
quando esta era Jordan, e pela Lotus, quando esta era Benetton. São equipes históricas e de tradição de
revelarem bons pilotos. Quando essas
equipes reclamam desta situação, talvez seja o momento de ver se estas
reclamações têm mérito e se são o sinal de algo mais sério.
A Fórmula 1 já foi auto-proclamada o 3º evento
esportivo mais importante do mundo, só perdendo para a Copa do Mundo da FIFA e
as Olimpíadas de Verão. Hoje sua
audiência está diminuindo a cada ano e envelhecendo. Mas ao invés de procurar soluções, o supremo
Bernie Ecclestone debocha das redes sociais e dos jovens consumidores, alegando
que estes não conseguem comprar relógios caros e abrir contas em bancos. Alguém esqueceu que a atual geração de
Twitter e Facebook daqui a 20 anos estará comprando relógios caros e abrindo
contas em mais de um banco, mas provavelmente não estará assistindo Fórmula 1
nos domingos, nem no autódromo e nem na TV.
Existe uma grande possibilidade que a Fórmula 1 simplesmente não exista
daqui a 20 anos.
Muitas teorias podem ser elaboradas para o
ocaso da categoria, mas a realidade está aí para quem quiser ver. A Fórmula 1, desde o final da década de 1970
quando a categoria se tornou mais lucrativa e bem sucedida, passou a ter uma
maior participação das montadoras de automóveis. Estas haviam debandado da categoria após o
horrendo acidente nas 24 Horas de Le Mans de 1955 que matou mais de 80
pessoas. Os custos da categoria
começaram a aumentar geometricamente nas décadas de 80 e 90, sendo que equipes
tradicionais como Brabham, Lotus, Ligier e Tyrrell se viram obrigadas a fechar
as portas. Em seus lugares vieram as equipes
oficiais das montadoras e em 2008 o campeonato tinha Ferrari, Renault, Honda,
Toyota, Mercedes e BMW, estas duas últimas acionistas majoritárias de McLaren e
Sauber, respectivamente. O orçamento
anual de uma equipe dessas ultrapassava fácil os US$200 milhões. A opulência e o desperdício reinaram. A categoria deixou de ser disputada por equipes
independentes, cujos alguns donos até hipotecaram casas para poder manter as
equipes vivas, que foram substituídas por equipes controladas por uma montadora, cujos acionistas
muitas vezes se mostravam descontentes com os gastos na Fórmula 1. Veio o estouro da bolha imobiliária em 2008 e
as montadoras começaram a debandar.
Nesse meio tempo, surge o fundo CVC para
adquirir os direitos comerciais da Fórmula 1 em 2005, o que agravadou a crise
posteriormente. O CVC em sua ganância de
maximizar seus lucros neste investimento esportivo deixa apenas algumas “migalhas”
para as equipes. As montadoras, no auge
de suas presenças na categoria, já haviam mostrado profunda revolta contra este
status quo. Hoje as montadoras como Toyota e BMW disputam
outras categorias de esporte a motor com custos bem menores e no qual estas
montadoras podem realmente usar tecnologias úteis ao desenvolvimento de seus veículos de passeio.
O resultado é que os custos da Fórmula 1
continuam em patamares altos, as receitas das equipes são minadas pelo próprio
parceiro comercial, e para piorar o espetáculo esportivo muitas vezes fica a
desejar. A chance de em 2016 o grid ser
formado por menos de 15 carros não é nada desprezível, muito pelo
contrário. A categoria sempre atraiu
equipes que substituíam outras que desistiam da categoria. A única nova no horizonte é a americana Haas,
que seria uma irmã da Stewart-Haas que disputa a NASCAR nos EUA. Indago se Gene Haas, dono da equipe, tem
realmente noção daquilo em que está se metendo.
Não é difícil de enxergar os motivos que me
levam a crer que o esporte que eu sou fã está em perigo. O modelo adotado pela categoria resultou em aumentar
os custos, atrair parceiros cujos envolvimentos com o esporte era frágil,
dificultar a situação daqueles realmente envolvidos, não procurar atrair novos
consumidores e não conseguir melhorar o produto oferecido. Por certa ótica, a questão não é a
possibilidade da Fórmula 1 acabar e sim se ela realmente merece continuar
existindo. Qualquer empresa que em seu
auge de sucesso comece a tomar um modelo empresarial equivocado e muito arriscado
está sujeita ao fracasso, esta é uma das regras do capitalismo mais básicas.
Se acabar, o CVC irá investir em outro negócio com
parceiros que não estão atentos ao que foi feito na Fórmula 1, a Mercedes continuará
produzindo seus carros de luxo, a Ferrari e a McLaren continuarão vendendo seus
carros esportivos de luxo, a Red Bull estará focada em vender bebida energética
e boa parte do resto fechará as portas. A
cidade de Hinwil na Suíça é sede da Sauber que emprega boa parte dos 10 mil
habitantes dela sofrerá um bocado, como outros envolvidos na Fórmula 1. Os fãs que sobraram da categoria ficarão
órfãos sim, mas se ocuparão de outra maneira nos domingos. É a tal destruição criativa do economista
austríaco Joseph Schumpeter. Eu espero
estar sendo pessimista e continuar assistindo as corridas no fim de
semana. Que a FIFA e o COI estejam
alertas para que seus eventos no futuro continuem sólidos.
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