As Lições de Eike
Recentemente, conversando com um
amigo veio à tona o caso da derrocada do império industrial de Eike
Batista. Muito já se comentou sobre o
porquê do Grupo X ter ido para o buraco e agora o CVM (Comissão de Valores
Mobiliários) chegou à conclusão que Eike fez uso de informações privilegiadas. Não pretendo discutir Eike e ou a derrocada
de seu castelo de cartas, mas sim o que levou vários brasileiros a investirem em
um negócio que vários outros colocavam em dúvida a viabilidade. Lembro-me de outro colega comentar sobre as
empresas do Grupo X ressaltando que aquilo estava mais para um esquema de
pirâmide do que qualquer outra coisa.
Não era preciso ler qualquer relatório de agências de risco para
perceber que o Grupo X representava um altíssimo risco aos investidores.
Nunca fui atraído por
investimentos de risco, sempre tive receio de perder dinheiro que ganhei com
suor. É claro que isso não me impediu de
levar meus tombos durante minha vida, mas em geral sempre me mantive em terreno
sólido, mesmo que isso tenha me custado talvez a possibilidade de um lucro
maior. O investidor prudente também tem
a mesma visão, então entra a arte de se atrair os incautos e aqueles que apesar
de negarem, lá no fundo querem arriscar.
Dos 7 pecados capitais, talvez
aquele que mais instigue a burrice seja a ganância. Quem nunca desejou ter dinheiro suficiente
para largar um emprego ruim, poder comprar um imóvel ou um carro sem um
financiamento oneroso ou simplesmente torrar este dinheiro como um playboy desvairado. Muitos não querem cometer atos ilícitos para
ganharem vantagem financeira, ainda bem, e sabem que a chance de ganhar em uma
loteria é ínfima, então sonham com uma oportunidade de ouro. Antes do estouro da bolha imobiliária
americana, se falavam dos novos milionários da bolsa, que foram até capa da
Revista Época. Indago se continuam
milionários nos dias de hoje... Mas
estas estórias de sucesso atiçaram estes desejos mais íntimos de mudar a vida
por meio de sucesso financeiro quase instantâneo. Não sou contra ter-se ambição na vida, mas
ela deve ser comedida. Quando não se
controla estes desejos, vem a ganância, e quando esta aparece, passa-se por
cima da cautela e do bom senso. E aí é
que se até perde as economias de uma vida.
Eike Batista foi um exemplo de
marketing bem sucedido. Sua imagem foi
vendida como a de um empresário muito bem sucedido, não que ele não tivesse
seus méritos, um campeão brasileiro que iria tornar um seleto grupo de
brasileiros em parceiros de seu sucesso.
Apareceu em capas de revistas, lista de bilionários, etc. Para um golpe ser bem sucedido é necessário
sabê-lo vender muito bem. Afinal de
contas a taxa de sucesso do golpe nigeriano é baixíssima, mas tem sempre um
tolo para cair nesse golpe. Apesar de
não ter extraído uma gota de petróleo, a OGX era já um exemplo de sucesso. Trouxa era quem não comprou ações da
OGX. Veio o que veio.
O que levou pessoas inteligentes
e antes prudentes a investirem em uma empreitada que sempre pareceu, pelo menos
para mim, uma barca furada? Só
ganância? Ou foi inveja de outros que
foram bem sucedidos no mercado financeiro?
Ou foi o desespero de se libertar de uma situação de vida
indesejável? Tenho um amigo que investiu
na OGX, mas apenas parte de seu dinheiro, talvez tenha sido uma compulsão por
um risco, algo semelhante aquilo que os jogadores inveterados sentem em Las
Vegas.
A justiça tem que ir atrás de Eike, é
claro. Ele deve ser punido, em minha
opinião, e é culpado por vários investidores perderem dinheiro. Porém, estes investidores são responsáveis
pelo próprio insucesso. Sempre existirão
golpistas, desde o spammer da Nigéria
até os “clones” de Eike, passando por Herbalife e Clube Alpha. Cabe a nós termos a prudência, a
inteligência, a paciência e o controle necessários para não cairmos nas
armadilhas. Depois nem com uma justiça
mais eficiente conseguiremos recuperar o prejuízo.