domingo, 27 de abril de 2014

As Lições de Eike

Recentemente, conversando com um amigo veio à tona o caso da derrocada do império industrial de Eike Batista.  Muito já se comentou sobre o porquê do Grupo X ter ido para o buraco e agora o CVM (Comissão de Valores Mobiliários) chegou à conclusão que Eike fez uso de informações privilegiadas.  Não pretendo discutir Eike e ou a derrocada de seu castelo de cartas, mas sim o que levou vários brasileiros a investirem em um negócio que vários outros colocavam em dúvida a viabilidade.  Lembro-me de outro colega comentar sobre as empresas do Grupo X ressaltando que aquilo estava mais para um esquema de pirâmide do que qualquer outra coisa.  Não era preciso ler qualquer relatório de agências de risco para perceber que o Grupo X representava um altíssimo risco aos investidores.

Nunca fui atraído por investimentos de risco, sempre tive receio de perder dinheiro que ganhei com suor.  É claro que isso não me impediu de levar meus tombos durante minha vida, mas em geral sempre me mantive em terreno sólido, mesmo que isso tenha me custado talvez a possibilidade de um lucro maior.  O investidor prudente também tem a mesma visão, então entra a arte de se atrair os incautos e aqueles que apesar de negarem, lá no fundo querem arriscar.

Dos 7 pecados capitais, talvez aquele que mais instigue a burrice seja a ganância.  Quem nunca desejou ter dinheiro suficiente para largar um emprego ruim, poder comprar um imóvel ou um carro sem um financiamento oneroso ou simplesmente torrar este dinheiro como um playboy desvairado.  Muitos não querem cometer atos ilícitos para ganharem vantagem financeira, ainda bem, e sabem que a chance de ganhar em uma loteria é ínfima, então sonham com uma oportunidade de ouro.  Antes do estouro da bolha imobiliária americana, se falavam dos novos milionários da bolsa, que foram até capa da Revista Época.  Indago se continuam milionários nos dias de hoje...  Mas estas estórias de sucesso atiçaram estes desejos mais íntimos de mudar a vida por meio de sucesso financeiro quase instantâneo.  Não sou contra ter-se ambição na vida, mas ela deve ser comedida.  Quando não se controla estes desejos, vem a ganância, e quando esta aparece, passa-se por cima da cautela e do bom senso.  E aí é que se até perde as economias de uma vida.

Eike Batista foi um exemplo de marketing bem sucedido.  Sua imagem foi vendida como a de um empresário muito bem sucedido, não que ele não tivesse seus méritos, um campeão brasileiro que iria tornar um seleto grupo de brasileiros em parceiros de seu sucesso.  Apareceu em capas de revistas, lista de bilionários, etc.  Para um golpe ser bem sucedido é necessário sabê-lo vender muito bem.  Afinal de contas a taxa de sucesso do golpe nigeriano é baixíssima, mas tem sempre um tolo para cair nesse golpe.  Apesar de não ter extraído uma gota de petróleo, a OGX era já um exemplo de sucesso.  Trouxa era quem não comprou ações da OGX.  Veio o que veio.
 
O que levou pessoas inteligentes e antes prudentes a investirem em uma empreitada que sempre pareceu, pelo menos para mim, uma barca furada?  Só ganância?  Ou foi inveja de outros que foram bem sucedidos no mercado financeiro?  Ou foi o desespero de se libertar de uma situação de vida indesejável?  Tenho um amigo que investiu na OGX, mas apenas parte de seu dinheiro, talvez tenha sido uma compulsão por um risco, algo semelhante aquilo que os jogadores inveterados sentem em Las Vegas.


 A justiça tem que ir atrás de Eike, é claro.  Ele deve ser punido, em minha opinião, e é culpado por vários investidores perderem dinheiro.  Porém, estes investidores são responsáveis pelo próprio insucesso.  Sempre existirão golpistas, desde o spammer da Nigéria até os “clones” de Eike, passando por Herbalife e Clube Alpha.  Cabe a nós termos a prudência, a inteligência, a paciência e o controle necessários para não cairmos nas armadilhas.  Depois nem com uma justiça mais eficiente conseguiremos recuperar o prejuízo.

sábado, 12 de abril de 2014

A Pessoa Errada no Lugar Errado

Em 1996, o Flamengo no auge da estratégia de contratar por critérios de marketing e não por critérios técnicos, contratou os atacantes Marques e Amoroso para o time que já contava com Sávio e Romário.  O time até ganhou o campeonato carioca de maneira invicta, mas a eliminação na semifinal da Copa do Brasil era um prenúncio que o time iria falhar miseravelmente no Campeonato Brasileiro, quando já não tinha esses 4 jogadores juntos.  Para escalar todos estes atacantes, o técnico Joel Santana é claro que recuava 2 para o meio de campo, que ficava capenga de um bom armador.  Mas o importante era fazer o “oba-oba” em torno das contratações para alegrar a torcida que estava profundamente irritada com o “Melhor Ataque do Mundo” de 1995, com Sávio, Romário e Edmundo.  É claro que a torcida ficou mais irritada ainda com os pífios resultados do Flamengo no segundo semestre de 1996.

Sempre que eu ouço que Joaquim Barbosa deveria se candidatar, penso que vão colocar a pessoa errada no lugar errado.  Ao contrário do Flamengo de 1996, quando sobravam bons atacantes e faltavam bons meio-campistas, o Brasil carece de um bom presidente, mas tem um bom juiz no STF.  Para que colocá-lo em um lugar onde os defeitos de Barbosa irão ser acentuados e suas virtudes escondidas?  Quando a “torcida” pede por Barbosa na presidência, eu não me preocupo, pois é uma expressão da frustração com o Poder Executivo, mas enquanto Barbosa não dava uma negativa contundente às perguntas sobre suas intenções presidenciais, eu me preocupava.  Pelo visto agora o problema fica para 2018.

Primeiro, Barbosa já mostrou uma veia autoritária e pior já teve seus episódios de destempero.  Nossa atual presidente é autoritária e destemperada, entre outros defeitos, e o que consegue com esta atitude é alienar sua equipe.  E para quem já teve que lidar com chefe carrasco, sabe que no momento que se aliena os subordinados, perde-se a comunicação com a base e a chefia acaba sendo a última a saber das coisas.  E pior, ninguém é capaz de alertar a chefia dos equívocos, pois ou são repreendidos ou são afastados.  Dilma já passou por isto e não aprendeu a lição.  O líder do Poder Executivo tem que ter metas claras para economia, saúde, educação, segurança, meio-ambiente, relações internacionais, etc.  De preferência tentar atingir estas metas com bem menos que 39 ministérios.  Quais são as metas de Barbosa para estas áreas?  Ninguém sabe.  E mesmo que ele tenha metas e que sejam boas metas, não consigo enxergar Barbosa liderando uma equipe sem aliená-la ou se indispor irreversivelmente com qualquer um que discorde dele.

Segundo, todos nós precisamos ter a consciência, mesmo que tarde, que não é só o Poder Executivo que é importante, e sim o Legislativo e o Judiciário também.  Preocupa-me a entrada de Luís Roberto Barroso no STF torne a entidade máxima do Poder Judiciário uma entidade ideológica que siga a “consciência” de seus membros e na pior das hipóteses do Gilberto Carvalho.  O STF tem que se ater às leis do país e não aos interesses de partidos.  Um país onde a entidade judicial máxima não respeita as leis é um país condenado ao declínio.  Se as leis são injustas, cabe ao Legislativo reparar isto.  Barbosa já demonstrou que sabe qual é a função de um juiz, haja vista sua participação no julgamento do mensalão.  O STF precisa de Barbosa e o país precisa de Barbosa no STF.

Na verdade, boa parte dos brasileiros é desiludida com os atuais (e os futuros também) políticos e quer acreditar que qualquer um que mostre retidão pode ser o salvador da pátria.  Esquecem que o presidente na verdade não apenas precisa mostrar ter retidão, mas sim liderança e objetivos claros para o país.  Alguns torcedores aplaudiram e comemoraram as contratações do Flamengo em 1996, mas os resultados causaram rapidamente uma profunda desilusão.  Joel Santana no segundo semestre de 1996 chegou até a escalar o zagueiro Júnior Baiano no ataque (!).  Joaquim Barbosa não é centroavante.
Ecos de 1987

Este post é só para quem tem paciência de discutir futebol.

Já que o STJ resolveu dar seu parecer nesta questão, então resolvi fazer uma análise detalhada do assunto.

Ainda 1987, ainda a infindável discussão de quem é realmente o campeão brasileiro daquele ano. O Sport sempre mostrou o acórdão de 1994 no qual foi julgado na justiça comum, diga-se de passagem, que é o campeão legítimo perante a CBF, e agora a decisão do STJ, e a justiça comum e ameaça todos com processo que disserem o contrário. O Flamengo diz que venceu a final que interessa e o campeonato de verdade organizado e disputado pelos principais clubes e que a CBF no meio do caminho mudou o regulamento. A verdade é que a história de 1987 é repleta de erros e demagogia de todos os lados, incluindo CBF, Clube dos 13, Flamengo, Sport, São Paulo, imprensa e demais.

A CBF é a maior culpada da situação, sem dúvida. Criou um monstrengo de campeonato de 1986, que fazendo uso de critérios técnicos obscuros não incluiu entre os 44 clubes da 1ª fase o Brasil de Pelotas (semifinalista em 1985) e a Internacional-SP (campeã paulista de 1986), estes dois clubes foram parar no Torneio Paralelo, uma espécie de 2ª divisão. Daí teve a criação de 4 vagas biônicas para a segunda fase para resolver o problema jurídico envolvendo Vasco e Joinville. Mas o cúmulo foi a breve desclassificação da Portuguesa, rapidamente revista após os times paulistas, num raro ato de coragem e bom senso, ameaçarem abandonar o torneio caso se mantivesse a punição ao time do Canindé. Os problemas do campeonato não terminaram após a eletrizante final do torneio (disputada em 1987!) entre Guarani e São Paulo, já que o torneio de 1986 serviria de classificatório para a 1ª divisão de 1987. Botafogo (na justiça desportiva) e Coritiba (na justiça comum) conseguiram pleitear vagas na 1ª divisão com sucesso e evitar o vexame destes dois clubes disputarem a 2ª divisão já que não estavam entre os 28 primeiros do torneio de 1986. Abriu se a porta para outros times pleitearem vagas na justiça. Nesse meio tempo, a CBF anunciou que estava sem dinheiro para organizar o torneio nacional. O que se espera da entidade de futebol maior de um país é que tenha as condições mínimas necessárias para organizar o certame nacional, o mais importante de todos a nível nacional. O que ficou patente é que a CBF era um poço de incompetência sem fim, que o campeonato brasileiro de 1987 não tinha condições jurídicas e financeiras de ser disputado como se propôs 1 ano antes e que foi aberta brecha para o rompimento do Clube dos 13.

E o rompimento aconteceu, segundo o Clube dos 13 com a anuência da própria CBF. Otávio Pinto Guimarães e Nabi Abi Chedid ficaram perdidos. Estavam pressionados por um lado pelos clubes excluídos para organizarem um torneio para eles e de outro pela FIFA que não gostou nenhum pouco de saber que existia um “torneio pirata” em curso no Brasil. De início a CBF tentou mostrar força impondo sua tabela para a 1ª rodada que foi humilhantemente ignorada pelo Clube dos 13 que havia não só elaborado toda a tabela da Copa União como criado um regulamento para o torneio. A CBF simplesmente nem tinha regulamento para qualquer torneio. No final a CBF englobou a Copa União criada pelo Clube dos 13 e criou um Módulo Amarelo copiando o exato modelo e regulamento concebido pelo Clube dos 13 para o seu torneio. Até copiaram a final prevista para definir o campeão da Copa União. O cúmulo foi o abandono da disputa de pênaltis da final do Módulo Amarelo, pois Sport e Guarani definiram que aquela decisão não valia muita coisa. A seqüência de atitudes patéticas ajudou a culminar na derrocada de Guimarães e Chedid dois anos depois.

O Clube dos 13 tinha várias condições para vingar no vácuo administrativo deixado pela CBF. Mas pecou em vários pontos. O primeiro erro foi a truculência na concepção da Copa União. De maneira autoritária passou por cima de todos e definiu 13 clubes para disputar o torneio de maneira autoritária e desprezando qualquer critério técnico, e ali começava a ruir seu plano de estabelecer uma nova ordem. Por mais que o torneio de 1986 não prezasse por critérios técnicos, o Clube dos 13 não podia ignorá-los. Faltou humildade e a percepção que poderia exercer uma liderança não só para os “eleitos” e sim para todos os clubes de futebol brasileiros. Se incluísse a estes 16 “eleitos” o Guarani e o América-RJ, teria dado um golpe duro naqueles que reclamavam da falta de critério técnico, por mais que ainda houvesse distorções. Claro que para organizar um torneio com 18 clubes seria mais difícil, mas seria mais difícil “deslegitimizar” o torneio.

Estabelecido os 16 clubes que iriam disputar a Copa União, o regulamento e a promoção do torneio, o Clube dos 13 cometeu o segundo erro ao vacilar em manter seus objetivos iniciais. O rompimento total se tornou parcial, provavelmente por medo de retaliações por parte da FIFA e da própria CBF, o Clube dos 13 se aproximou da CBF. Ou se rompe ou não se rompe, meio termo neste caso era uma porta aberta para criar os problemas que vieram depois. Era o momento de impor um cruzamento entre os módulos verde e amarelo nas condições do Clube dos 13, como, por exemplo, os 3 primeiros do módulo verde disputariam o título com o melhor do módulo amarelo, ou simplesmente dizer que os participantes da Copa União não iriam disputar qualquer partida naquele ano sob a chancela da CBF. Fez a opção pelo segundo caminho. Só que Carlos Miguel Aidar, presidente do Clube dos 13 e do São Paulo, ou não teve pulso firme suficiente para conduzir seus aliados nesta direção ou foi sabotado por outros membros do Clube dos 13 (i.e. Eurico Miranda), ou foi uma mistura das duas situações. Apesar de ser notória a aparente intenção dos membros do Clube dos 13 de não participar do cruzamento, esta entidade sempre flertou com o reconhecimento do torneio pela CBF. A solução de tentar tornar o Flamengo como campeão legítimo via CND foi juridicamente míope. Isso sem contar que se a CBF realmente se dispôs a entregar a organização do torneio para o Clube dos 13, este último deveria ter formalizado isto. Faltou coragem de assumirem publicamente que o torneio da Copa União não era o campeonato brasileiro “oficial” e sim outra competição. Em suma, romper com uma entidade para organizar seu torneio depois querer que esta entidade oficialize o título do torneio foi incoerente para não dizer um erro primário.

O terceiro erro do Clube dos 13 foi a falta de união, ironicamente algo alardeado no próprio título da Copa União. O casuísmo aos poucos foi falando mais alto dentro da própria entidade que não percebeu que se mantivesse a postura de conclamar o Flamengo como campeão nacional, mesmo que não o da CBF, o resultado seria uma vitória sobre a CBF e que a organização do torneio passaria da enfraquecida CBF para o Clube dos 13. Possivelmente, a entidade rebelde sucumbiu ao receio de retaliação aos seus membros pela FIFA e de prejuízos financeiros caso mantivesse a rebelião. O próprio Aidar reconheceu que o Clube dos 13 não teve a percepção do momento histórico de então e não conseguiram tirar proveito dele. Dado que o Clube dos 13 na década de 90 se mostrou mais interessada em proteger seus membros do rebaixamento que de reorganizar o futebol brasileiro, talvez o fato da CBF recuperar a organização de um único campeonato brasileiro não tenha sido de todo ruim, apesar de ser longe do ideal. A Copa João Havelange de 2000 organizada pelo Clube dos 13 para salvar o Botafogo do rebaixamento e tirar Fluminense e Bahia da segunda divisão foi um fiasco de público e de organização. Os próprios membros do Clube dos 13 já publicamente desprezavam o título do Flamengo em 1987. Isso tudo mostrava que os ideais de 1987 pertenciam a um passado distante. Faltaram ao Clube dos 13 o estabelecimento de objetivos claros e maior ambição. Os interesses mesquinhos imperavam na organização que se esfacelou anos depois.

Já o Flamengo não pode se considerar vítima do casuísmo ou silêncio mostrado pelos outros 15 membros originais do Clube dos 13. O Flamengo sob a liderança de Márcio Braga idealizou com o São Paulo de Aidar a Copa União e abraçou até o fim o seu torneio. Faltou perceber que iria ser fatalmente “traído” com o tempo por seus “parceiros no crime” e iria brigar sozinho contra todos? Realmente, se disputasse o famingerado quadrangular teria enterrado o projeto do Clube dos 13 para revolucionar o campeonato brasileiro. Só que os outros clubes já tinham na verdade deixado o Flamengo sozinho nesta empreitada e abandonado o projeto inicial. Pelo menos o Internacional não foi de um oportunismo indigno e também não disputou o quadrangular. Parece que faltou visão estratégica ao clube carioca. Quando o Sport recorreu à justiça comum para definir o campeão brasileiro de 1987, onde estava o clube para pressionar a CBF e a FIFA para retaliar o time pernambucano? Kléber Leite condicionou a entrada do Sport no Clube dos 13 à divisão do título de 1987 entre os dois rubro-negros e fez o Sport assinar uma ata reconhecendo esta condição. Sério, uma ata de reunião do Clube dos 13? Que tal se fosse uma declaração pública ou jurídica disto, de preferência ambas? Isso teria resultado em bem menos polêmica atualmente.

O Sport se vangloria de ser o campeão legítimo, de jure, oficial e único de 1987 e acusa para quem quiser ouvir que o Flamengo desrespeitou o regulamento. Por mais que seja o campeão reconhecido pela CBF, o Sport em sua postura é demagógico. Muitos dos argumentos pró-Sport, inclusive aqueles manifestados pelo próprio clube, é de que a Copa União não era legítima, pois não incluía o vice-campeão (Guarani) e semifinalista (América-RJ) de 1986. Só que se esquece de dizer que se não fosse a criação da Copa União pelo Clube dos 13, o Sport teria disputado a segunda divisão, pois não ficou entre os 28 primeiro colocados de 1986, a não ser que conseguisse uma vaga via justiça comum ou desportiva. E para completar, o reconhecimento da CBF é manifestado via decisão jurídica comum. Ninguém que argumenta a favor do Sport contra a imoralidade do Clube dos 13 se atentou que o Sport não respeitou uma norma internacional da própria FIFA que não se deve recorrer à justiça comum nestes casos? Ou que a punição em casos como este deveria ser até de desfiliação do clube? Em 2009, o Sport ameaçou todo mundo que dissesse que o Flamengo era hexacampeão com processo e ficou na ameaça. Fazer isto quando seu time era rebaixado é um tanto ridículo, ainda mais que a Placar sempre publicou que o Flamengo era campeão de 1987 e nunca, aparentemente, foi processada pelo Sport. Sem contar que vários periódicos que disseram que o Flamengo se tornou hexacampeão naquele ano não foram processados. Quando a CBF resolveu reconhecer o Flamengo também como campeão de 1987, o Sport daí se mexeu na justiça. Sob certa ótica, me parece que o maior mérito do clube pernambucano é seu departamento jurídico, e seu maior troféu o acórdão de 1994 e não o troféu conquistado em campo contra o Guarani no início de 1988.

Se o Sport flerta com a demagogia, o São Paulo a abraça por completo. O time sob a liderança de Aidar foi o principal mentor do Clube dos 13. Aidar fez questão de entregar o troféu ao Flamengo em 1987 após derrotar o Internacional. E depois fez questão de se proclamar primeiro pentacampeão nacional e pleitear por definitivo a Taça das Bolinhas? Cadê a hombridade da diretoria são-paulina? Aidar parece ao menos coerente, e dispor do mínimo de vergonha, ao querer dividir o troféu com o Flamengo. Mas conforme mencionado, o Clube dos 13 foi tomado por interesses mesquinhos, e essa divisão não deve ocorrer.

A imprensa deu grande destaque à Copa União na época. Após a conquista do título da Copa União pelo Flamengo, vários órgãos da imprensa anunciaram o time como campeão, mas rapidamente abandonaram a posição. “Corneteiros” de carreira como Milton Neves adoram tripudiar encima do Flamengo, mas esquecem convenientemente de suas posições durante a Copa União em 1987. Procurar informações sobre o que houve realmente durante a Copa União resulta em inúmeras informações desencontradas e poucas balizadas por objetividade.

Voltando à pergunta inicial de quem é o campeão brasileiro de 1987, a resposta parece óbvia de que o Sport é o campeão do torneio organizado pela CBF. Afinal o time ganhou o quadrangular previsto no regulamento da CBF e recebeu o troféu previsto pela entidade. A CBF é soberana para definir o campeão dos torneios que organiza. Ressalta-se só que neste caso isso é feito sob decisão jurídica. O que me faz indagar é o que diabo de investigação a CBF pretendeu fazer em 2007 do real campeão brasileiro se na verdade não podia ser proclamar o Flamengo sob ameaça de punição jurídica?

O Flamengo é também campeão nacional de 1987. Ganhou um torneio concebido, organizado e promovido pela entidade que ajudou a criar, que contou com a participação de vários times importantes. O título do Flamengo foi reconhecido por estes participantes logo em seguida. O casuísmo e a amnésia seletiva dos demais membros do Clube dos 13 não tiram este reconhecimento dado em 1987 ao Flamengo. O único detalhe que o Flamengo esquece é que esse título não é o da organização afiliada à FIFA, e sim de outra entidade. Os erros estratégicos é que fazem com que esta conquista seja contestada e time seja conhecido como o campeão do asterisco.
Porque o Congresso Nunca Vai Mudar

Que o nosso Congresso é formado por picaretas com anel de doutor, todos nós sabemos, inclusive pelos picaretas sem anel de doutor. Mas o brasileiro parece não entender é como se criou este monstro. Afinal, no Congresso existe de tudo, traficantes, homofóbicos, (muitos) bandidos de colarinho branco, idealistas sem compromisso com as instituições, políticos manipuláveis e até alguns políticos honestos, mas todos tem algo em comum: foram eleitos. O brasileiro subestima o poder do Legislativo, acha que o Brasil é ainda uma ditadura onde o presidente e os governadores têm poderes ilimitados para mudar tudo. Mas esquecem que existem o Legislativo e o Judiciário. O que esperar de uma braço de poder onde os líderes são Renan Calheiros, do implante capilar, e Henrique Alves, do bode empresário? 

Existem dois problemas graves, ao meu ver, de como o Legislativo é eleito. O primeiro é justamente aquele já mencionado, o brasileiro não escolhe bem seus representantes. Uma minoria vota em subcelebridades como protesto, vide Tiririca e Clodovil entre outros, ou pior em candidatos incompetentes e/ou meliantes. Poucos se lembram em quem votaram na última eleição para o Legislativo. Já vi no passado idealistas, como aquele da tartaruga e do coelho, que são eleitos porque o eleitorado o acha uma pessoa honesta, mas que na verdade são absorvidos por partidos que quando na oposição sabotam indiscriminadamente o governo e quando no governo procuram pastas e posições para “meterem a mão”. Nada de novo no que estou falando. Mas continuamos não dando importância a quem votamos para o Legislativo, que tem muitos poderes e pouca responsabilidade.

O segundo problema é algo menos comentado, mas é, em específico para a Câmara de Deputados, a lei eleitoral. Não temos voto distrital e, portanto, políticos com alto índice de rejeição (mensaleiros) e sem proposta séria nenhuma (Tiririca) são eleitos mesmo recebendo até menos 1% de votos porque os votos para deputados são pulverizados e às vezes candidatos mais bem votados “carregam” outros menos votados. Pseudo-estados, como alguns ex-territórios, com menos de 1 milhão de habitantes tem direito a eleger 8 deputados federais. Muitos deles são párias. Estados com população grande proporcionalmente não conseguem eleger tantos. Quem quiser mudar isto vai ser taxado de elitista e de querer perpetuar a exploração econômica das áreas mais pobres do país. Nos EUA, o Alaska com cerca de 500 mil habitantes elege 1 deputado. Aqui esta distorção criada no fim da ditadura militar perdura e não deve ser alterada, pois quem pode mudar isso é o próprio Congresso...
Isso tudo resulta na proliferação dos “loucos”, como definido pelo Tiririca, que não resolvem nada.

O Pará, mais específico Belém, teve uma participação importante em 2011 para conter a Bolha quando votou no plebiscito estadual contra a criação dos estados de Carajá e Tapajós. Cada um desses pseudoestados teriam direito a 3 senadores, 8 deputados (no mínimo) e 1 time “meia boca” na Copa do Brasil. O resto do Brasil precisa continuar este trabalho.


A Crise Institucional da Bolha Assassina

O filme de terror de 1958 “A Bolha Assassina”, que gerou uma refilmagem 30 anos depois, tratava de uma criatura amorfa que “fagocitava” todos que estavam em volta as absorvendo e assim aumentando seu tamanho. A Bolha, ao contrário de vilões de filmes de terror mais clássicos como o Drácula e a Criatura de Frankenstein, não tinha uma moral corrompida ou uma personalidade perturbada e complexa. Seu único objetivo era fagocitar mais e mais seres humanos para aumentar de tamanho. Meu pai comparou o PMDB atual a esta clássica criatura de horror “cult trash”. O PMDB de 20 anos para cá não tem um projeto para o Brasil, como teve na sua origem na década de 1970, e quer apenas se apoderar cada vez de mais e mais poder. A Bolha tinha apêndices, como os pseudópodes das amebas, que usava para fagocitar suas vítimas. O PMDB tem membros que fagocitam cargos no executivo, congresso, ministérios, secretarias, câmaras, etc. Não dá para definir o PMDB como partido de esquerda, centro ou direita, é uma massa disforme que só quer crescer de tamanho. Na verdade, o PMDB algumas vezes funciona como uma entidade criminosa que cobra do Executivo cargos para não atacá-lo. O PMDB não é o único mal do Congresso, que na verdade é infestado por outras bolhas menores. A impressão que tenho é que todas juntas agem como uma Bolha-Mestre.

Eu considero o governo da Dilma péssimo em todos os sentidos, não realizou nada em 4 anos e do jeito que vai não realizará nada em mais 4 anos se esta for reeleita. Dilma é uma governante despreparada, prepotente e inepta, mas atualmente tem que lidar com uma criatura que durante anos foi se fagocitando cargos em todos os governos e agora quer mais. Criatura alimentada por muito “carinho” nos desde a redemocratização do país ainda mais nos últimos 12 anos. Na distribuição de boquinhas (vulga reforma ministerial) recente, o PMDB não fagocitou o número de cargos suficientes, então um dos seus pseudópodes resolveu fazer chantagem. Aliás não é mais chantagem e sim represália. O Congresso tem como uma de suas funções principais a de fiscalizar o Executivo, ainda mais com os desmandos ocorridos na Petrobras que lesaram todos os seus acionistas, com as aquisições de escravos cubanos, com as articulações sórdidas de Gilberto Carvalho entre uma miríade de escândalos e descalabros. Mas para mim, o que o Eduardo Cunha está fazendo é mostrar poder. Não há interesse do PMDB em esclarecer estes pontos e sim em atingir o governo da Dilma. Se não for por estes métodos, existem outros como a votação de emendas, medidas populistas que oneraram mais ainda o nosso erário. Eles podem sabotar todas as medidas do Executivo, dificultar aprovação de orçamento – isso até aconteceu nos EUA. Não existe interesse da Bolha na melhoria do país e sim apenas de reafirmação de seu poder perante o Executivo.


Este é um dos maiores problemas deste país. O nosso Legislativo está quase todo corrompido e encontrou mecanismos de estender seu poder e seus membros são de uma ganância infinita. Não há mais compromisso com o país. Projetos importantes como reformas previdenciária, política, tributária e trabalhista sequer são levadas em pauta. Porém, quando um pouco de sangue cai na água, como a distribuição de royalties, as piranhas se agitam com uma sanha estarrecedora e procuram mordiscar o maior número de pedaços do contribuinte, o sangrando financeiramente de maneira grave. A Bolha fagocita os eleitores ao aprovar leis beneficiando minorias com o dinheiro alheio, ao usar verbas públicas para interesses paroquiais, etc.


Até congressistas desprovidos de malícia - e de projetos decentes - como Tiririca agem involuntariamente como pseudópodes de uma bolha, que é o próprio congresso. Não se resolvem nada que possa melhorar o país, mas resolvem bastante para aumentar o poder da Bolha. O Executivo para saciar a ganância da Bolha cria 39 ministérios, alguns deles esdrúxulos e sem propósito, para alocar pseudópodes. Lá estes podem aparelhar departamentos inteiros procurando aumentar a eficiência da dilapidação do erário por corrupção ou simplesmente fazendo mau uso do orçamento.Isso, além do custo direto no orçamento da nação, tem o custo indireto de “engessar” o Executivo. Ou alguém acredita que com 39 ministérios fagocitados por diferente pseudópodes é possível se estabelecer um metas atingíveis para o país? Como por exemplo melhorar o sistema rodoviário, construir ferrovias se o PR aparelhou o Ministério dos Transportes com o intuito de cobrar 5% (só?) de propina.

Mas a Bolha não precisa só fagocitar ministérios para aumentar seu poder, ela pode fagocitar o erário público simplesmente criando mais cargos inúteis como ascensorista do Senado e outros semelhantes, pode criar atos secretos, etc. Um parlamentar pseudópode custa para o contribuinte mais de 10 milhões de reais anuais, um dos mais caros do mundo. Brasília é a cidade com a maior renda per capita da América Latina. Este é o problema do Brasil e não as “zelite” e a burguesia. Nós podemos reclamar e protestar à vontade, mas quem pode mudar a legislação do Congresso é a própria Bolha. E esta não tem moral e não age contra seu próprio interesse.
O Brasil precisa remover Dilma do governo urgentemente. Imaginem mais 4 anos dela como presidente e de Guido Mantega como Ministro da Fazenda? Mas precisamos limpar o Congresso. Os protestos de junho de 2013 deveriam ter atacado mais incisivamente este ponto. Este é a raiz da esmagadora maioria dos problemas. Não adianta só fechar o trânsito, tumultuar as cidades e depredar patrimônio alheio. Temos que no dia da eleição dar uma resposta nas urnas, e não simplesmente irmos para praia para depois justificarmos a ausência na Justiça Eleitoral. Eleger representantes esclarecidos e competentes para o Congresso é essencial para mudar o país. A Bolha não irá morrer fácil, aliás no máximo encolherá de tamanho.
Apresentação

Já tentei criar um blog antes.  Não deu certo, faltou paciência e assunto para escrever.  Ainda não sei se terei esses 2 itens para criar meu novo blog, muito mais se terei alguém para ler.  Mas se eu não começar a escrever nunca saberei.  O objetivo é postar 1 texto por semana.  Aos poucos que começarem a ler, aproveitem.