Uma vez no escritório onde trabalhava, foi organizado um bolão para apostar na Mega-Sena que tinha o prêmio acumulado. Nossa chefe ficou sabendo do bolão e pediu para também participar, alegou que se fosse bem sucedida a aposta, ela não queria ir trabalhar sozinha no departamento na semana seguinte. Todos nós já devemos ter ouvido piadas, estórias ou delírios de colegas, amigos e familiares do que fazer se ganhássemos vários milhões de reais, passando por mansões, carros, viagens e até investimentos de longo prazo. Mas não conheço ninguém que tenha falado que pretendia fazer um curso de especialização para investir na carreira, se dedicar mais ao trabalho, apesar de existirem, aliás a grande maioria gostaria no primeiro ato pedir demissão. Alguns até pensam em abrir um negócio próprio para se ocuparem, mas uma boa parte pensa em relaxar e aproveitar. Obviamente que não foi bem sucedida a aposta e todos os participantes foram trabalhar, minha ex-chefe inclusive. Mas fico imaginando a cena insólita de uma segunda-feira no qual chegaria para trabalhar com o departamento vazio. Para empresa seria um completo desastre e, dependendo da quantidade de ganhadores, até significaria uma inevitável falência.
Na obra-prima de Scott Adams, O Princípio Dilbert, o último capítulo é
dedicado ao sistema concebido por Adams de OA5, em inglês Out at 5, ou seja no qual ele defendia que os funcionários saíssem
às 17:00, pois longas horas de trabalho implicariam mais funcionários
desmotivados e descontentes no trabalho.
Exageros à parte, afinal todo o universo do Dilbert era engraçado por
ser justamente exagerado, Adams tem um ponto válido. Nem todos nós temos motivações ou condições
de nos tornarmos milionários, condição que para se chegar demanda na esmagadora
maioria das vezes esforço, dedicação, diligência e sacrifício. A motivação para se gastar horas do dia, e da
vida, longe de casa, aturando algumas vezes superiores intragáveis é que
receberemos um salário não-milionário, apesar do esforço, dedicação, diligência
e sacrifício, para podermos sobreviver e até guardar algo para o futuro. Tire a necessidade desta pessoa dispender
este tempo para sobreviver e guardar algo para o futuro, e esta pessoa não terá
mais essa motivação para trabalhar.
Claro, alguns realmente gostam do que fazem, não sabem o que podem fazer
com o tempo livre, possuem um senso de civismo diferenciado e, portanto,
trabalham por motivações diferentes. Não
devemos julgar nem aqueles que sonham em se aposentarem com o prêmio da loteria
e nem aqueles que apesar de não admitirem não iriam mudar a rotina. Mas as motivações mudariam na situação de se
ganhar um prêmio polpudo.
Desde que me conheço como brasileiro, sempre
ouvi que se achássemos petróleo ou outros minerais preciosos, como o nióbio
(!), seríamos ricos. Lula no auge do seu
populismo bradou que tínhamos achado um bilhete de loteria premiado com
pré-sal. Sempre tive dúvida se realmente
achamos este bilhete premiado, apesar da certeza que muitos do governo lulopetista
acharam uma verdadeira mina na Petrobras para rapinar e pilhar durantes estes
13 anos. Mas partindo do pressuposto que
realmente ganhamos um bilhete de loteria naquela época, o que faríamos com este
dinheiro? Sempre ouvi que se achando
petróleo, o povo brasileiro seria rico e membro da OPEP. Isso significaria que todos seríamos
milionários e poderíamos em tese parar de trabalhar e nos aposentar? Que poderíamos ter um padrão de vida igual ao
de países do primeiro mundo sem ter os mesmos índices de produtividade, nível
de educação e consciência cívica? Os tais
dos royalties do petróleo do pré-sal
foram alvo de acalorado debate no congresso brasileiro. Mesmo sem sabermos se era economicamente
viável explorar ou não esse petróleo, vários queriam participação nessa
possível renda. Estados milhares de
quilômetros distantes do litoral fluminense pleiteavam parte do prêmio do
suposto bilhete premiado, enquanto o governo fluminense tentava enxotar essa
turma alegando que sem esse dinheiro não haveria as Olimpíadas de 2016. Argumentos a favor e contra a distribuição
dos royalties proliferam, mas pelo menos para mim ficou claro algo, se é que já
não estava antes, nós os brasileiros, não só a classe política, preferimos
discutir a distribuição da riqueza alheia a discutir o que realmente é
necessário fazer para o país entrar nos trilhos. Não lembro de ter visto esse tipo de empenho
para se realizar reformas previdenciária, trabalhista e tributária.
É mais do que sabido que países como Japão,
Finlândia, Holanda, entre alguns outros, são ricos sem terem ganho bilhetes
premiados da loteria. Alguns países
membros da OPEP são também ricos, mas seus índices culturais, educacionais e
até mesmo sociais são medíocres. Basta
olhar a Venezuela para se ver que petróleo não se traduz em riquezas e nem em
mais justiça social. Na verdade,
enquanto um povo se ater aos princípios mercantilistas da Idade Média e
Moderna, esse povo estará condenado à mediocridade. Somente uma sociedade empenhada em gerar
riquezas pelo trabalho, e enfatizo pelo trabalho qualificado, conseguirá ser
próspera. Não precisamos de uma
sociedade composta por workaholics, mas sim por pessoas que acreditam que não
há caminho fácil para o sucesso. Apesar
de uma esmagadora maioria desejar ser premiada na loteria, não podemos ficar
sentado esperando isso acontecer. Se o
Brasil não achar petróleo, ou até nióbio, suficiente em seu território, isso
não quer dizer que seremos condenados à pobreza crônica.
Lembro do clipe da música Rubão da banda Charlie Brown Jr no qual é mostrado um pobretão
achando uma carteira recheada de dólares e ao invés de se investir em seu
futuro, o sujeito resolve torrar em festas, carros e mulheres. Nunca consegui descobrir se a banda quis
fazer uma apologia à “virtude da pobreza”, ou ridicularizar aqueles que acham
que por descobrirem um punhado de dinheiro irão ser eternamente
milionários. Mas existem muitos que
sonham em ganhar uma “grana fácil” para não fazer nada, é só pesquisar e ver
quantos parentes de artistas e esportistas bem sucedidos se penduram
nestes. Apesar que há alguns artistas
que quando se tornaram famosos resolveram colocar todos os seus familiares para
trabalhar em seus negócios, e estes foram o que mais prosperaram. Na minha experiência de vida, dinheiro que é
ganho fácil nunca tem seu valor reconhecido, e quanto menos alguns não
trabalham, mais eles exigirão daqueles que trabalham. No dia em que ficarmos todos milionários por
termos achado bilhetes premiados de loteria, petróleo abundante no país ou até
por termos todos parentes ricos, seremos todos miseráveis, pois ninguém vai
querer trabalhar. Se todo mundo relaxar
e resolver não trabalhar mais, quem irá
produzir alimentos, vestimentas, energia, etc? Daí vai acontecer que nem um antigo colega de
trabalho meu profetizava, quem tiver um saco de batata vai ser o realmente
milionário.