terça-feira, 6 de setembro de 2016

50 Tons de Flicts

O livro infantil "Flicts" do escritor Ziraldo foi editado pela primeira vez em 1969.  Descrevia os augúrios de uma cor que tentava descobrir sua identidade, até que ao final da estória se identifica com a cor do solo lunar, em suma "A Lua é Flicts!".  Na minha terceira série, há mais de 30 anos, encenamos uma peça da estória e, é claro, que como vários alunos quis ser Flicts, mas acabei com o papel do Laranja.  Nem cor primária consegui ser para minha decepção...

Naquela época, eram apenas 5 partidos, PDS, PTB, PT, PDT e PMDB, sendo que o primeiro e o último disputavam a hegemonia política brasileira, elegendo 22 dos 23 governadores na eleição de 1982.  O Brasil caminhava a passos constantes para sua redemocratização, sendo que o PDS abrigava os políticos aliados aos governantes militares e o PMDB englobava uma oposição amorfa e heterogênea, mas com amplo e crescente apoio popular.  O PT ainda não tinha a dimensão que atingiu no seu auge, mas apesar de não ser levado tão a sério, já assustava pelo radicalismo de suas propostas.  Curiosamente, o PT se aliou aos demais 4 partidos em vários momentos de seus quase 14 anos de governo, levando em conta que o PDS é o atual PP após várias mudanças de nome.  Eis a definição de fisiologismo.

Os tempos não eram fáceis no início daquela década, a inflação era altíssima, havia escândalos de mau uso de empréstimos subsidiados, o grau de endividamento da nação era exorbitante, a nossa indústria era sucateada devido ao alto grau de protecionismo e Brasília já era Brasília desde então.  Em muitos aspectos, os tempos eram tão ruins ou piores que agora.  Olhando sob esta ótica, é muito fácil se tomar pelo pessimismo, ou no mínimo pelo ceticismo quanto ao que virá pela frente.  Michel Temer apresentou um discurso no qual pelo menos faz um diagnóstico correto da atual situação e propõe atitudes contrárias àquelas de Dilma.  O problema é que Temer é cercado de políticos do pior naipe possível, alguns sobreviventes do final da ditadura e do início da redemocratização.  Basta ver que Renan Calheiros é líder do senado, tendo estado em posição de eminência no congresso há muito tempo.  O próprio Temer sempre esteve nessa posição, inclusive de aliança com governos anteriores.  O lema do PMDB parece ser "Hay gobierno soy a favor"!

Recentemente, muito se discutiu sobre as tendências de esquerda da maioria dos partidos brasileiros e de muitos congressistas.  Um post chamava o espectro partidário brasileiro, hoje em mais de 30 partidos, de "50 tons de vermelho".  É claro que há políticos presos a ideologias esquerdopáticas como Dilma, uma ex(?)-guerrilheira marxista, mas a maioria não é comunista exatamente, e sim criminosa e parasita, como vários políticos do próprio PT.  Quando se observa a existência do Partido Nacional Corinthiano, do Partido Ecológico Nacional e outras aberrações similares, a minha conclusão é que o espectro partidário brasileiro é formado por "50 tons de Flicts".  Enquanto a maioria dos brasileiros têm cores primárias ou secundárias, os habitantes de Brasília têm cores únicas e especiais.

Brasília parece existir em um mundo paralelo, como um planeta distante, uma dimensão paralela ou o mundo da lua mesmo, onde as regras aplicadas a nós não são válidas.  A conexão de Brasília com nossa realidade não é feita por rodovias ou por aeroporto e sim pelo verdadeiro sorvedouro do nosso dinheiro criado lá, resultando em leis e burocracias kafkianas.  A crise brasileira pode ser facilmente resumida em uma estatística, o PIB per capita do Distrito Federal é o maior de uma unidade federativa do Brasil e quase o dobro do segundo lugar, o estado de São Paulo.  É também simplesmente entre as principais cidades da América Latina, o maior PIB per capita.  Não é necessário recorrer a mais estatísticas para notar que o parque industrial e de serviços candango é medíocre e que a grande atividade de Brasília é a burocracia e o funcionalismo público, para não dizer corrupção.  A crise não atingiu tanto o Planalto Central pois o funcionalismo público é protegido por lei, às custas dos demais cidadãos, e os políticos detêm o poder de votar nos próprios salários.

Isso tudo não é novidade para a grande maioria da população brasileira, cansada da classe política, mas eleitora desta.  O problema é que estes "selenitas" que habitam o mundo da lua de Brasília são necessários para que se aprovem as reformas necessárias para tirar o país do atoleiro.  Como convencer um deputado, preocupado com sua reeleição em 2018, que as reformas previdenciária e trabalhista são mais do que cruciais, sem arriscar perder eleitores que tem medo dessas reformas?  Como fazer uma reforma tributária, sem que os governadores e prefeitos esperneiem com possíveis perdas de receitas?  E principalmente, como fazer uma reforma política, não aquela proposta por Dilma, que possa permitir que outras cores possam ser inseridas no espectro partidário político brasileiro?  Quem souber me avise.