No dia 22 de novembro de 2015 os argentinos
foram às urnas e elegeram o liberal Mauricio Macri como seu presidente. Para os demais latinos americanos, em
específico os brasileiros, cansados do populismo da turma do Foro de São Paulo
e dos demais bolivarianos e socialistas que infestam essas bandas, a eleição de
Macri foi motivo de comemoração e um alento de esperança. É um marco que significa a derrocada do
bolivarianismo e, portanto, a recolocação dos países acometidos de populistas
de esquerda em um caminho virtuoso.
Muita calma nesta hora, pois o caminho que a Argentina terá de percorrer
é longo e traiçoeiro.
Há 100 anos atrás, a Argentina era uma nação
com renda per capita superior a de países como Itália, Dinamarca, Japão,
Espanha, ocupando a notável 7ª posição neste ranking. Mas nenhuma economia sólida é capaz de resistir
a políticas populistas que no longo prazo corroem quaisquer conquistas. Uma crescente participação do governo na
economia com estatizações de setores industriais lentamente empurraram a
Argentina para a medíocre 53ª posição em renda per capita. Continuam na frente do Brasil, mas para um
país que tinha esse valor 400% maior que o nosso, uma vantagem de quase 50%
mostra que as coisas degringolaram muito ao sul do Rio da Prata. Uma análise completa da decadência argentina resultaria
em várias teses de doutorado extensas, passando pelos inúmeros equívocos das
lideranças argentinas. Mas o que chama
atenção é que Macri é o primeiro liberal eleito lá em mais de 100 anos, mesmo
que em alguns destes anos o governo tenha passado por atrozes e nocivas
ditaduras militares. Os demais eleitos
foram todos populistas do naipe de Cristina Kirchner.
A conclusão que se chega é que apesar da
escassez de lideranças políticas responsáveis por lá, o povo argentino abraçou
o populismo barato até agora como um paradigma de boa governança. A situação do país é crítica, a economia está
emperrada, a inflação está em quase 25% ao ano pelas estimativas não-oficiais,
o crédito do país está arruinado desde a moratória forçada de 2001, e para
piorar a imagem junto aos investidores veio a estatização da YPF realizada em
2012, a imprensa livre foi minada por Cristina Kirchner, a justiça foi
aparelhada e infiltrada por populistas, o país sofre com desabastecimento de
produtos industrializados devido a inúmeras barreiras comerciais, sendo que
algumas delas existem graças a uma conivência inaceitável do governo
brasileiro. O desafio de Macri é
recuperar o país diante de um cenário muito difícil. Sem crédito na praça e com uma gastança
desenfreada, a Argentina precisa de recursos para crescer e mostrar que é
merecedora da confiança de investidores.
A iniciativa de Macri de querer acionar a cláusula democrática contra a
Venezuela no Mercosul é não só louvável como um acertado primeiro passo.
O mundo precisa perceber que o liberalismo veio
para ficar na Argentina e o primeiro passo é demonstrar que o país não quer se
associar com uma nação como a Venezuela que notoriamente cerca os direitos individuais mais
básicos e é uma protoditadura. Os demais
passos são mais complicados. A
negociação com fundos abutres que em 2014 conseguiram na justiça americana a
exigência que os títulos argentinos sejam pagos em sua totalidade é um desafio
maior que a postura adotada perante a Venezuela. Isso sem contar que qualquer país que queira
migrar do socialismo ou do populismo barato para uma economia liberal precisa
lidar com uma inevitável parcela da população acostumada a receber privilégios
sem uma contrapartida. Reformas liberais
demoram para surtir efeitos, ainda mais em países devastados economicamente,
mas afetam rapidamente aqueles acostumados a ganhar sem produzir.
No curto prazo, decisões populistas são bem
sucedidas e tentadoras, mesmo que o posterior desastre seja certeiro. Quando 48% da população vota em Daniel
Scioli, candidato do kirchnerismo / peronismo / bolivarianismo, isso é uma
demonstração que boa parte da população não estará muito propensa a aceitar
medidas de saneamento da economia necessárias como privatização de estatais,
redução de privilégios trabalhistas, corte em programas assistencialistas,
etc. O maior desafio de um país em crise
não é tomar decisões amargas, é convencer a toda população que todos sem
exceção terão de amargar essas decisões.
Arrisco ainda a dizer que entre os eleitores de Macri estão vários
desiludidos com o kirchnerismo, mas não com o populismo. Isso quer dizer que surgindo outro candidato
populista, descolado de Cristina Kirchner, pode vir a bater de frente com Macri
e reverter qualquer avanço conquistado.
Toda esta análise sobre a Argentina pode ser
aplicada ao Brasil feitas algumas modificações devido a percursos históricos
diferentes entre os dois países. Mais do
que nunca temos de estar atentos aos nossos vizinhos. As dificuldades de Macri podem ser as mesmas
enfrentadas por qualquer político que venha a substituir Dilma e sua agenda
populista e incompetente. A principal
oposição ao PT é ainda o PSDB com sua agenda “encima do muro” e com algumas
lideranças desgastadas. Um maior
desgaste a ser infligido aos tucanos aumenta a chance de um aventureiro
populista vir a ascender em um cenário de devastação econômica como o
enfrentado neste país.
Nunca torci pela seleção argentina, mas torço
muito para que o país saia do buraco que se encontra. É importante que isso ocorra para que o
Brasil tenha em quem se espelhar para nos livrarmos das nossas pragas populistas. Mas para tal os argentinos terão de enfrentar
muitos percalços neste caminho longo.
Tomara que consigam. E tomara que Macri realmente adote uma agenda liberal e não caia em tentação populista.