sábado, 18 de fevereiro de 2017

Riqueza e Investimentos

Muito já foi falado aqui sobre a retórica populista e batida dos ricos serem os culpados pela pobreza no país.  O que não deixa de ser verdade, pois a maior concentração de ricos se encontra no universo da política que sufoca o país, mas as armas estão na verdade apontadas para a classe empresarial e até mesmo os melhores assalariados que compõem a classe média.  Quando a crise econômica explodiu no início do segundo mandato de Dilma (e não no início do governo Temer), as soluções vindas das "grandes mentes" da esquerda variavam em torno de taxar os mais ricos.  Solução simples, populista e completamente equivocada.  O maior erro de uma nação é querer destruir sua classe rica produtora, que não é aquela detentora de privilégios estatais.

Guardar, torrar ou investir, essas são as 3 opções que um rico tem com seu dinheiro.  A primeira opção é a de usar o dinheiro como um meio de se obter rendimentos por dividendos para se sustentar.  Não são raros os que optam por isso, mas não são muitos.  O dinheiro é aplicado em investimentos de relativo baixo rendimento e risco mínimo.  Isso é feito se emprestando este dinheiro para instituições relativamente seguras, cujas chances de dar calote são bem reduzidas, como o próprio governo ou uma empresa de elevada solidez.  É um recurso necessário aos devedores para ser usado como capital de giro, aliviar déficits momentâneos ou como investimento de maiores riscos por estes tomadores de dívidas.  A opção de guardar, em suma, é a aquela em que o rico amarra o burro na sombra.

A segunda é aquela mais alardeada na mídia que é quando o rico resolve usufruir de seu direito legítimo de gastar o quanto quiser no que quiser.  Se é grosseiro ou não escancarar essa opulência diante dos mais desfavorecidos, isso é um outro debate.  Por certa ótica, é uma maneira de se distribuir renda, pois torra-se esse dinheiro normalmente com supérfluos e caprichos que abastam uma miríade de prestadores de serviço e comerciantes.  São vários cabeleireiros, decoradores, comerciantes de roupas e carros caros que simplesmente adoram quando um rico entra em um frenesi de gastança, afinal essa gastança garante o ganha pão desses trabalhadores.  Desde que o rico não gaste até ficar pobre, esse pessoal tem um emprego.  E eis que surge um problema, pois muitos consideram que os ricos tem riqueza infinita.  Basta abrir a torneira que milhões terão dinheiro para a vida, basta distribuir a riqueza que o Brasil fica bem.  Rico que gasta além do que pode é candidato para se tornar ex-rico.  

Realmente, o nosso alto coeficiente Gini, que mede a desigualdade de uma nação, de 51,5 nos coloca no topo da lista dos países mais desiguais do mundo.  Mas outro índice, mais tradicional, é mais significativo: a renda per capita brasileira é de cerca de US$8.500 anuais (números de 2015) contra cerca de US$56.000 dos americanos.  O contraste é duro e escancara a realidade que nós somos pobres.  O problema do Brasil não é a distribuição de riqueza e sim a falta dessa riqueza.  Precisamos aumentar o PIB para que se possa diminuir a miséria.  Só com investimentos em produção isso vai ser obtido, e não com programas assistencialistas como Bolsa Família.  Muito menos com delírios de riqueza resultante de petróleo e nióbio.

Eis que se chega a terceira opção do rico quanto ao seu dinheiro a de se investi-lo.  Quando falo em investir dinheiro quero dizer gerar mais dinheiro a partir deste.  Esta difere de guardar pois o rico deseja aumentar o seu patrimônio e não subsistir dele, e ele pode até gastar este dinheiro, mas isto deixa de ser o objetivo principal.  A primeira condição para se investir é acreditar que haverá um retorno sobre o investimento, apesar do risco, ou seja o lucro, aquele que é execrado pelos invejosos e pseudo-intelectuais de plantão.  O Brasil como povo e nação não incentiva o lucro e sim o condena.  Para piorar, existe uma burocracia interminável para se abrir qualquer negócio nesse país, licença disso, alvará disto, vistoria daquilo, todos longos e intermináveis.  Para depois ser acionado na justiça trabalhista por pessoas que foram agraciadas com empregos mas querem muitas vezes regalias, basta ver o que está acontecendo com a Uber.  Sem contar os impostos, afinal o governo no discurso odeia o lucro privado, mas gosta tanto deste lucro que o confisca.

Se os ricos por iniciativa privada não investem, então o governo passa a ter essa incumbência.  Só que o governo é um mau investidor e um gastador inveterado.  E pior, muitas vezes esses investimentos tem viés ideológico que só atrapalha.  No governo Dilma, programas de concessão de estradas limitavam o lucro dos proponentes.  Claro que não funcionou e basta ver o estado deplorável destas estradas para ver o mal que este viés faz à nação.  E quando o governo investe diretamente ou quase diretamente também não dá certo.  Nossas estatais são modelos de ineficiência e atualmente estão à beira de um colapso financeiro.  O BNDES emprestou dinheiro de impostos em negócios que simplesmente não dão lucro.

A segunda condição para se investir é que o investidor tenha responsabilidade sobre seu capital de investimento.  Um bom investidor pode ser arrojado, mas será sensato e diligente.  Afinal é seu dinheiro que está lá e se o negócio for ruim a perda será sua.  O governo pega dinheiro dos outros, em outras palavras não tem responsabilidade sobre este, e empresta sem fazer a mínima diligência, em outras palavras empresta mal.  Para piorar quem toma este dinheiro, às vezes não tem a responsabilidade de retornar este dinheiro e é até agraciado com mais empréstimos para afundar de vez o negócio.  Como diria Roberto Campos, o Brasil é um país que não corre o menor risco de dar certo.  Não com essa atitude.  Desse jeito, os ricos vão investir em outro lugar, ou gastar a grana até ficarem pobres, melhor assim do que sendo taxado pelo governo e processado na justiça trabalhista por picaretas.