segunda-feira, 20 de março de 2017

A Eterna Infância Brasileira

Em 1953, foi publicado o livro O Fim da Infância do autor britânico Arthur C. Clarke que narra a estória da chegada de alienígenas ao nosso planeta e as consequências finais terríveis decorrentes deste contato.   Os alienígenas, conhecido como os Overlords, aparecem no ápice da Guerra Fria com a humanidade se preparando para se destruir por completo, sim estivemos bem perto disso, e impedem esta destruição.  A Terra passa a ser tutelada pelos visitantes que inicialmente oferecem várias vantagens como o fim do apartheid, das touradas e um período de paz ímpar na história da humanidade.  O livro termina com a raça humana deixando de existir após décadas de jugo alienígena quando os Overlords transformam a última geração de crianças em seres telepatas desprovidos de humanidade que vão se juntar ao Overmind, uma consciência única formada de civilizações extintas na galáxia a quem os Overlords serviam.  Os últimos capítulos do livro são simplesmente tétricos e melancólicos.

Algumas interpretações podem ser feitas sobre esta obra de um dos principais autores de ficção científica da história, mas a minha é que há um preço alto a se pagar quando somos tutelados em consequência de não sabermos tomar as decisões necessárias para gerir nossas vidas.  No caso da Guerra Fria, esta “esfriou” em 1991 quando a União Soviética se desmantelou resultado de anos de devastação socialista na economia do Segundo Mundo.  Atualmente, quando vejo Trump e Putin no poder, indago se os Overlords estariam próximos a se revelarem a nós.

Mas a incapacidade de auto-gerência não é só aplicável à paz mundial e sim a de se manter uma sociedade economicamente estável.  A infinita e extraterrestre incompetência do governo Dilma em gerir o país e a conivência de boa parte da população brasileira em eleger e reeleger Dilma devastou a economia do país.  O resultado é um déficit público assustador capaz de arruinar as futuras gerações brasileiras e a única maneira de sair desta situação é o Brasil como um todo se unir e aceitar os sacrifícios necessários que devem ser feitos.  A Reforma da Previdência proposta é o mais importante destes sacrifícios que devem ser feitos, caso isto não seja feito este déficit não será revertido.  Infelizmente, não há a consciência de boa parte da população brasileira da gravidade da situação e das consequências da manutenção das atuais regras da previdência.

Debates resultantes deste tema giram em torno da “supressão de direitos” do povo, como se a atual crise não suprimisse estes mesmos direitos, e até mesmo a teses de contabilidade criativa tentando nos convencer que a crise previdenciária não existe.  Castas do funcionalismo público brasileiro de número reduzido, mas com muito poder de se fazerem ouvidas, estão preocupadas com o fim de seus privilégios e não se importam que o resto da população tenha que arcar com os custos destes privilégios.  Enquanto isto, boa parte dos trabalhadores são obrigados a contribuir ao INSS e não só com o que é descontado do salário bruto, mas também com outros encargos impostos ao empregador e que são esquecidos na conta final.  Ao se aposentarem receberão menos do que contribuírem.

Faço então a pergunta que o Brasil como um todo deveria estar fazendo: por que precisamos do governo gerindo a nossa previdência?  O INSS deveria existir?  Quando olho para meu holerite e vejo o quanto o governo confisca do meu salário sob o eufemismo de contribuição, lembro que eu poderia gerir melhor este dinheiro do que o governo.  O principal motivo para isto é que tenho interesse em fazer este dinheiro render muito mais do que qualquer governante ou burocrata terá.  Alguém poderia dizer que a minha contribuição é necessária para aqueles mais desfavorecidos se aposentarem.  E mais uma vez o país segue atolado em políticas assistencialistas que não reduzem e sim perpetuam a pobreza.  Se aplicasse em um fundo de renda fixa ou caderneta de poupança, poderia obter uma melhor renda no futuro do que tendo o dinheiro “confiscado”.  É mais do que conhecido que o regime previdenciário brasileiro deveria ser de capitalização e não de contribuição, isto é a aposentadoria é fruto do quanto se poupou e não de um confisco da produção das gerações mais novas.  Quem quiser aposentar no “ápice da velhice” aos 45 anos que faça isso ganhando dinheiro suficiente para se sustentar pelo resto de sua vida e não metendo a mão no bolso alheio.

Qualquer estudo demográfico mais simplório é capaz de escancarar que a situação piorará e muito se as regras da previdência não forem alteradas.  O envelhecimento da população brasileira e mundial é um fato consumado e a passividade diante disto resultará em um desastre anunciado.  Portanto, estas gerações mais novas que sofrem confiscos terão seus direitos de saúde, segurança e educação subtraídos para que se mantenham privilégios de uma geração anterior.  O argumento que é necessário trabalhar 49 anos para conseguir uma aposentadoria integral é em seu âmago risível.  Quer dizer que alguém que trabalhe 49 anos não foi capaz de gerir o seu sustento para que pudesse ter recursos próprios para se sustentar?  Recomendo àqueles que reclamam disto conversarem com seus respectivos gerentes de banco para contribuírem (voluntariamente) com um plano de previdência privado.  São investimentos ruins, mas que podem dar um retorno digno e merecido no futuro, em um tempo mais curto que 49 anos.


O que me choca nesta celeuma absurda toda é que o brasileiro exige cada vez mais uma tutela maior do estado sobre nossa vida, e uma tutela nociva.  Tirando um punhado de liberais que sabem somar e subtrair, além daqueles que pertencem às castas privilegiadas que usam os conhecimentos de aritmética em benefício próprio, o que me parece é que o resto da população dá uma declaração de incompetência de gerir as próprias finanças.  Se não souberem vão ter que aprender de alguma maneira, ou irão arcar com os resultados desta incompetência.  Ignorância disseminada não pode ser desculpa para se arruinar o país como um todo.  Enquanto não tivermos controle sobre nossas decisões e pedirmos tutela de outros, os Overlords que habitam Brasília, que como já disse é um mundo existente em outra dimensão, continuarão trabalhando para ceifar em um futuro muito próximo as nossas futuras gerações.  O Brasil precisa virar adulto.