No dia 14 de julho de 2015, os franceses
comemoraram a data da queda da Bastilha, simbólico evento que é considerado o
início da Revolução Francesa. Aqui no
Brasil assistimos ao espetáculo pirotécnico da Polícia Federal conduzir uma busca
nas residências do ex-presidente e atual senador alagoano Fernando Collor de
Mello em Brasília e em Maceió. Nesta
ação integrada à Operação Lava-Jato foram encontrados uma Ferrari, um Porsche e
uma Lamborghini. Na teoria, não há nada
de ilegal em possuir carros esportivos, desde que tenham sido adquiridos usando
recursos legais e estejam devidamente regularizados perante a lei. Fica a dúvida de onde Collor pretende andar
com estes carros em Maceió, já que as ruas do bairro da Jatiúca não são
adequados para se desenvolver altas velocidades, inclusive no quarteirão da
residência dele há uma lombada que é uma verdadeira “assassina de
suspensões”. Imagino que se ele tentar
passar por esta lombada com um dos seus (ex-)carros o prejuízo será grande.
Em se tratando de Collor, não dá para esperar
que as coisas estejam dentro dos conformes, muito menos que a imprensa e a
opinião pública tenham um jugamento imparcial dele depois do que aprontou
durante sua passagem na presidência do país.
Como atenuante do desastre administrativo, deve-se lembrar que Collor
recebeu o país na beira do precipício.
Segundo o ex-presidente do Banco Central, Ibrahim Eris, na verdade o
Brasil já estava dentro do precipício. A
inflação em fevereiro de 1990 atingiu inacreditáveis 80% ao mês, a moratória
declarada por Sarney arruinou a reputação brasileira por mais de uma década,
nossas reservas cambiais eram uma fração da atual, etc. Medidas drásticas eram necessárias, e surgiu o
tal do revólver com uma bala só. O
problema era que quem atirou tinha uma mira muito ruim e não só errou o alvo
como atingiu toda a população, que rapidamente passou a odiar Collor com todas
as forças.
O confisco do dinheiro declarado no início de
seu governo não só arruinou financeiramente várias famílias e jogou o Brasil em
uma recessão sem precedentes, como também foi uma forma disfarçada do governo
dar um calote generalizado na população brasileira. Afinal o dinheiro confiscado foi remunerado
em quase 1% para um mês de 80% de inflação!
Seu plano deveria ser estudado como exemplo de fracasso, pois em menos
de 1 ano, o volume de dinheiro em circulação já havia sido retomado e a
inflação disparou de novo. Não dava para
levar a sério um governo cercado de ministros de 5º escalão para baixo como
Zélia Cardoso. Rapidamente, o congresso
se tornou hostil ao frustrado caçador de marajás que habitava a Casa dos
Jardins Suspensos da Dinda, não só criando enormes dificuldades para um mínimo
de governabilidade como procurando um pretexto para abreviar o mandato de
Collor. Qualquer motivo, como a notória
Fiat Elba, serviria para expurgar alguém que a BBC definiu como o presidente playboy do Brasil. O impeachment veio com um alívio de uma nação
que simplesmente não suportava mais a aventura de alguém tão despreparado e
amador, mas também com uma oportunidade de vários opositores tentarem lucrar
com a euforia que assolou o país com a destituição de Collor.
Do lado positivo, Collor deu início a uma
abertura do nosso mais do que fechado mercado e também às privatizações. Este também tentou enxugar o número de
ministérios extinguindo vários existentes na época de Sarney e unificando
outros, resultando num total de 13, número que foi inflacionado no governo de
seu vice-presidente Itamar Franco. O
Brasil mostrou resiliência e em um pouco mais de 4 anos com o Plano Real voltou
a crescer e domou a inflação. Servem de
alento essas memórias que podemos emergir de crises sérias.
Quase 24 anos depois da derrocada de Collor,
Dilma enfrenta um índice de rejeição de fazer inveja ao fluminense radicado em Alagoas,
bem como um congresso hostil que a sabota com todas as forças não pensando se
prejudicará o país ou não, apesar de enterrar as aspirações bolivarianas de
Dilma e do PT. Dilma não tem o olhar de
alguém alucinado como Collor mas tem um péssimo temperamento e uma incapacidade
ímpar de conseguir expressar qualquer pensamento lógico. Como Collor, Dilma não consegue mais
transitar pelo país sem ser vaiada ou insultada, a população simplesmente
cansou da “Mandioca sapiens”. É
possível, infelizmente, que Dilma consiga terminar seu segundo mandato pois
possui ainda um mínimo de sustentação partidária. Dilma não recebeu o país na beira do
precipício mas fez um notável trabalho de conduzi-lo até lá. Fica a reflexão: quem foi o pior presidente
Collor ou Dilma? Qual aquele que mais
estragos causou ao país?
O PT foi peça importante no embate com Collor
durante o governo deste último. A lógica
ditaria que Collor estivesse na oposição do atual governo tentando lucrar com
as auguras da atual presidente. Mas como
coerência e falta de vergonha na cara são raras neste país, Collor notoriamente
se tornou aliado do PT! No país da piada
pronta, nos divertimos vendo que o escândalo da simpática Elba se tornou um
delito menor perante ao incidente onde foram encontrada uma verdadeira coleção
de carros esportivos. Talvez alguém um
dia contabilize, mas fica a impressão que Collor lucrou mais com o dinheiro
alheio como senador de Alagoas do que como presidente. Após seu calvário pós-impeachment, Collor foi
até defender o aero-trem de Lavyr Fidélix no horário eleitoral, hoje é
defendido por PT, PC do B, blogueiros chapas brancas entre outros. O fato de Collor ter ressurgido com relativo
sucesso é uma mostra de que o país passa por uma crise moral séria com efeitos
sob certa ótica mais deletérios que aqueles decorrentes do famingerado Plano
Collor.
Qualquer um que teve seu dinheiro confiscado,
para não dizer roubado, em 1990 vai sempre repudiar Collor, mas o estrago de
Dilma, e até mesmo de seu antecessor Lula, é menos evidente, apesar de não ser
exatamente sutil. Dilma e o PT
difundiram país afora uma mentalidade que a culpa da miséria no país é da
classe rica, que exclui os milionários e bilionários membros da alta cúpula do
partido, que os problemas do país podem ser resolvidos com soluções simplistas
como redução forçada de juros e de preços administrados, além de exarcebar
rixas entre as regiões brasileiras e a animosidade racial. Não que essas crenças já não existissem, mas elas
foram amplificadas perigosamente. Isso
sem contar que programas de assistência social foram convertidos em programas
de compra de votos, alianças foram feitas com a escória do planeta e ainda por
cima ajuda a regimes ditatorias estão sendo fornecidas com dinheiro do
contribuinte. O pior foi ver o PT
convencer o eleitorado que como estava “do lado do povo”, a corrupção praticada
pelo partido era aceitável. O Brasil
endossou uma quadrilha em 2006 ao re-eleger Lula, ao invés de rejeitá-la como
em 1992.
Mesmo que Dilma seja destituída, vai demorar
para se livrarmos da crença que a distribuição de riquezas – dinheiro da classe
média alta destinado em pequena parte para os miseráveis e em maioria para a
elite (parasitas do governo) – é a meta superior de todo o governo e não
fomentar um crescimento sustentável que possa impulsionar a população a pegar
carona nele. Cuspimos na cara de países
com estreitos laços sociais e econômicos como a Itália para nos tornarmos
aliados de protoditaduras como a da Venezuela.
Apesar de toda a rejeição à Dilma, boa parte da população ainda acredita
nas bandeiras que o PT sempre defendeu, só não acredita que o PT seja mais
capaz de realizá-las. O prejuízo moral é
incalculável.
Devemos nos atentar sim que o símbolo da
corrupção deixa de ser um carro popular para ser um esportivo de alto luxo
importado.