Apesar de ser paulistano, fui criado no Rio de
Janeiro. Frequentei bastante na minha
infância as praias de Ipanema, Leblon e, também, Barra e São Conrado. Gostava de ver os vôos de asa delta nestas
últimas 2 praias, para uma criança pequena aquilo era fascinante. Mas imagino que seja uma atividade que
requeira uma boa dose de recursos financeiros para praticar e para piorar não
deve dar muito retorno. O fato da mídia
dar pouquíssima cobertura a este esporte é um indicativo que apesar de um número
respeitável de praticantes, ele não é rentável e não movimenta muito dinheiro
em premiações. Honestamente admiro quem
é capaz de trabalhar só pelo prazer sem se preocupar muito com o lado
financeiro. Suponho que trabalhar como
instrutor de vôo livre deve ser algo gratificante apesar de não ser
provavelmente uma profissão que remunere tão bem.
Neste mês, voltou às principais manchetes
da mídia que o “instrutor de vôo de asa delta” Marco Archer Moreira, também
conhecido por “Curumim”, preso há 11 anos na Indonésia seria e foi executado pelo
crime de tráfico de drogas. Honestamente,
tenho só uma vaga lembrança da notícia de quando ele foi preso e sentenciado na
época. Mas quando deparei com a
informação que ele contrabandeava cerca de 13 kg de cocaína tive certeza que não
se tratava de um instrutor coisíssima nenhuma, era traficante mesmo. A quantia de cocaína encontrada para mim
infere duas conclusões que foram pouco discutidas: primeiro que Archer já deve
ter praticado essa “modalidade” mais de uma vez, segundo que apesar do discurso
oficial do presidente indonésio Joko Widodo e de suas notórias leis draconianas
contra o tráfico de drogas o país asiático, dono da quarta maior população do
planeta, enfrenta um sério problema de consumo de drogas.
A quantida de 13 kilogramas é considerável,
especula-se que Curumim arrecadaria alguns milhões de dólares vendendo ela no
aparente amplo mercado consumidor da Indonéisa.
O mundo do crime é populado por pessoas do mais alto grau de estupidez,
mas não acredito que um traficante tenha confiado a um novato tamanha
quantidade de pó. Alguém que traz
consigo tanta droga tem que antes de mais nada ter tranquilidade e jogo de
cintura para não aparentar ser traficante diante das autoridades. Inicialmente, Curumim alegou que levava a droga
para pagar despesas hospitalares em Cingapura... Uma estória no mínimo estranha.
E eis que surge a notícia que Curumim
reconheceu ao jornalista Renan Antunes de Oliveira que era traficante
mesmo. E de longa data e que possuía
vários bens e uma vida digamos cheia de regalias graças à carreira criminosa. Então fica a indagação de porque alguns
veículos de comunicação o descreveram como um instrutor de vôo e não como
traficante? Feita a necessária diligência,
veículos mais sérios o retrataram como traficante mesmo e não como um coitado
que por um triste motivo foi levado ao mundo do crime.
Nesse meio tempo, nossa presidente pediu
clemência à Indonésia e que poupasse a vida de Curumim. Justo, pois convenhamos que a pena de morte é
uma barbárie que ainda perpetua no atual século em países de pouca tradição
democrática e com sistemas judiciais questionáveis, com a exceção notável dos Estados
Unidos. O que não pode é o Brasil tomar
uma postura hostil a uma nação soberana por causa de um criminoso. Deixando de lado aqueles que usaram este
incidente para clamar pela pena de morte aqui, poucos realmente se comovem quando
um traficante de drogas é preso ou até morto.
Curumim incluso nisso!
A Indonésia tem um comércio com o Brasil
relativamente restrito, cerca de US$2 bilhões por ano, mas é uma nação de
destaque na Ásia e com potencial para aumentar este valor. Criar um incidente diplomático ao chamar o
embaixador de Jacarta de volta é insultar a Indonésia e criar mais uma
dificuldade, apesar de pequena, para o nosso combalido comércio exterior. É mais um exemplo que o país precisa de uma
política exterior séria e não de dirigentes “jogando para torcida” com o nome
da nação. Até porque neste caso a
torcida não se empolgou.