sábado, 15 de abril de 2017

O Ataque das Formigas Reforçadas

A Guerra Fria e a constante ameaça de um holocausto nuclear foi algo que não só marcou a minha geração, e outras anteriores, como também inspirou a criação de algumas peças de ficção memoráveis, a exemplo de bons filmes como The Day After, Testament Threads, além dos dois últimos filmes da trilogia original de Mad Max, que mostravam os devastadores efeitos que esse tipo de conflito poderia ter sobre a humanidade.  Já outras peças de ficção apesar de não terem esta qualidade eram igualmente marcantes pela imaginação fértil do que poderia acontecer, como foi o filme de 1977 Damnation Alley.  Nessa pérola do cinema trash apocalíptico, os sobreviventes do ataque nuclear entre os vários perigos que se deparavam, tinham que enfrentar enxames de baratas indestrutíveis que rapidamente dizimavam os atores coadjuvantes, desesperados para colocarem em seus pífios currículos ao menos 5 minutos de participação em qualquer filme meia-boca .  Essa foi a época que se acreditava que, em um pós-guerra nuclear, o planeta Terra seria dominado pelos insetos como baratas e formigas.  Na década de 1990, o impagável Pinky and the Brain dedicou um episódio no qual o Pinky e o Cérebro viajavam para um futuro dominado pela civilização das baratas que ascenderam à posição de espécie dominante na Terra após os EUA, governado literalmente pela cabeça de Bill Clinton conservada em uma jarra, entram em guerra com o Canadá causando o holocausto nuclear.  Também nesta década, surgiu a franquia de RPG para computador Fallout, aonde o protagonista após anos em um abrigo nuclear saía para a superfície e tinha que batalhar com várias criaturas resultantes da radiação como formigas gigantes.

A divulgação da lista de Edson Fachin está sendo comparada à explosão de uma mega bomba atômica no Brasil.  O conteúdo das delações de Emílio e Marcelo Odebrecht são realmente estarrecedoras.    A política é um meio sujo, isso já era conhecido há muito tempo, conforme já dizia o chanceler alemão Otto von Bismarck, em uma frase atribuída a este, os cidadãos não poderiam dormir se soubessem como são feitas as leis e as salsichas.  Mas o que choca é que existe um sistema em vigor a serviço da corrupção no Brasil.  É a famosa cleptocracia, no qual só os bandidos ascendem ao poder.  A Odebrecht financiava todos os partidos de expressão, os da situação ganhavam mais sob forma de propinas e similares, mas os de oposição também recebiam.  Esses últimos eram compostos por políticos que não recebiam propinas por não estarem em posição de recebe-las, mas tinham todo o potencial de quando no governo cometerem os mesmos desmandos em troca de propinas.  A esquerda brasileira cria a narrativa que os políticos são corrompidos graças aos empresários inescrupulosos, uma variante das teorias de Jean-Jacques Rousseau.  Mas também pode ser elaborada a narrativa que os políticos só permitem a existência de empresas corruptas, já que as idôneas não sobreviveriam sem molhar as mãos dos burocratas.  É inútil nesta hora discutir o que veio antes, se o ovo ou a galinha.  É necessário repensar a democracia brasileira, e aí mora o perigo, pois no momento ela está sendo repensada por políticos corruptos.

Em meio às atordoantes notícias recentes, dois pontos são relevados a segundo plano diante do alarde, quando não deveriam ser.  Primeiro, essa lista não é uma bomba atômica e sim uma poderosa arma convencional como a tal da MOAB (Mother of All Bombs) lançadas no Afeganistão pelos americanos para destruir membros do Estado Islâmico.  Os políticos atingidos pelas delações estão ainda em posição de poder.  A lista contém nomes de políticos que estão sendo investigados, que sequer foram denunciados quanto mais condenados.  Basta ver a morosidade das investigações e da justiça brasileira para se traçar uma linha de tendência que aponta que talvez em 2030 se conclua todas essas investigações.  O segundo ponto é que não se dá crédito à ímpar resiliência do político corrupto brasileiro.  Há quanto tempo Renan Calheiros está no cenário político em posição de eminência apesar de quase todos, menos seus eleitores, saberem o tipo de político que ele é?  Enquanto não forem afastados, ou por cassação ou pelo voto, essas pragas estarão tramando maneiras de continuarem no poder.  O famigerado projeto de voto em lista fechada é uma maneira de Renan e similares de escaparem os efeitos da explosão da MOAB tupiniquim.

Mas não há dúvida, a lista de Fachin surtirá efeitos drásticos no cenário político.  Neste momento, o maior estrago foi feito na oposição ao PT.  Pelo menos enquanto Lula não for preso.  O PSDB neste momento é o partido mais duramente atingido por estas delações.  O partido que durante os governos do PT  se tornou o mais forte de oposição, por exclusão e não exatamente por opção espontânea, tem seus principais líderes atingidos.  Mesmo que o PSDB não tenha participado do assalto à Petrobras, que é o foco da Lava-Jato, só o fato de Aécio Neves, José Serra, Geraldo Alckmin e outros tucanos graúdos serem citados pelos Odebrecht já causa um dano irreversível em qualquer pretensão destes à presidência da república.  Se estes realmente agiram de maneira criminosa, que sejam punidos após investigações diligentes.  Mas o fato de estarem na lista já demonstra que o PSDB flertava com uma instituição podre em seu âmago.  O DEM também foi atingido, mas lembrando que este era o antigo PFL e que era por sua vez uma dissidência do PDS, isso não deveria espantar ninguém que é atento à política.

Os danos infligidos aos dois partidos que mais fizeram oposição ao PT durante seu governo faz surgir um vácuo entre possíveis presidenciáveis para 2018.  A esquerda até certo ponto se satisfaz com esta devastação, pois como já foi dito por alguns cronistas, o PT almejou igualar diante da opinião pública todos os partidos na corrupção assim que as investigações da Lava-Jato chegaram à imprensa.  Caso Lula não seja preso e impossibilitado de concorrer, esse é um candidato forte para o posto, para o desespero da nação.  Marina e Ciro Gomes são outros nomes para 2018 e apesar de ser improvável a eleição de qualquer um dos dois, a possibilidade destes conseguirem atrair eleitores de oposição para si e se classificarem para um segundo turno é preocupante.  O pior cenário seria aquele no qual Lula enfrenta Marina ou Ciro no segundo turno.  Outros candidatos de esquerda como oriundos do PSOL, PCdoB e outros partidos similares não assustam pois não terão suporte financeiro ou estratégico para alcançar a maioria dos eleitores.

Aquilo que é chamado pelos esquerdistas como "direita", que na verdade são demais políticos e partidos que não compartilham da ideologia que colocou o Brasil na crise, tem de apresentar candidatos fortes para 2018.  Em 2014, Aécio Neves deu um rosto à oposição e quase conseguiu derrotar Dilma.  Depois foi alvo de sistemáticos e implacáveis ataques do PT que foram bem eficazes em minar sua popularidade.  Os últimos eventos sepultaram sua chance em 2018, apesar que podem não ter sepultado sua candidatura propriamente dita.  Caso o PSDB queira realmente ter chance em 2018, o nome do seu candidato, no momento pelo menos, é João Dória.  Por mais que negue e diga que não é candidato, pelo andar da carruagem, Dória será forçado a concorrer a presidência.  Vem fazendo uma boa administração na prefeitura de São Paulo, apesar de ser cedo ainda para uma avaliação mais concreta.  Indago se seu estilo vai ter eficiência similar na presidência.

Como a lista de Fachin não é uma bomba atômica, não seremos atacados por formigas gigantes ou similares, mas sim pelo que eu chamo de formigas reforçadas, isto é seres de segundo escalão que não teriam destaque em condições normais, mas que neste cenário de devastação ganham eminência de maneira igualmente preocupante.  Jair Bolsonaro é um que em outras épocas não teria chance, e nem agora tem muita, mas pode tirar votos de candidatos melhores.  Sua plataforma parece se resumir a soluções simplistas para reduzir a criminalidade, algumas até soam como corretas, e populistas para a economia.  Não tenham dúvida que uma improvável eleição sua traria um retrocesso na economia, pois vejo em Bolsonaro as mesmas ideias equivocadas implementadas no final da ditadura militar como maior intervenção do estado, como se isso fosse possível, e uma possível estatização de alguns setores da economia.  Em suma, esperem aumento de despesas do governo no longo prazo sem preocupação em se aumentar receitas, sem contar mais focos de corrupção.

O pior é que outros aventureiros podem surgir ainda antes de 2018.  Difícil vislumbrar se irão ter chance de ganhar, mas não consigo ver ninguém fazendo uma campanha baseada em redução do tamanho do estado, reformas tributária, trabalhista e previdenciária, pois não tem apelo popular esta plataforma.  Basta lembrar da eleição de 1989 e ver as propostas absurdas dos principais candidatos, especialmente os de esquerda.  A tempestade perfeita é a ascensão dessas formigas em um cenário de crise econômica como esta no qual o Brasil atravessa.

Não há dúvidas que a Lava-Jato deve prosseguir.  Sua interrupção seria um incentivo aos corruptos continuarem a devastar o Brasil.  Não se deve esquecer que a crise atual é fruto dos esquemas corruptos do PT e não da Lava-Jato em si.  E que a oposição ao PT também deve ser investigada e condenada, se provada a culpa, para que se elimine futuros corruptos e que novos Petrolões e Mensalões não aconteçam.  Basta lembrar que antes de 2002, o PT tentava convencer a todos que era o mais idôneo dos partidos.  Entretanto, uma dose de pragmatismo é suficiente para se notar que o futuro que se desenha para o Brasil é sinistro.






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