quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Cenário de Incertezas e Ameaças

Recentemente, alguns indicadores econômicos têm mostrado que a economia brasileira entrou nos eixos.  Realmente, a inflação está abaixo de 3,0% anuais, a bolsa está oscilando em um patamar acima dos 70.000 pontos, algo não visto há anos, a taxa de juros caiu para abaixo de 8,0% e o PIB mostra um tímido crescimento.  Esses números eram até esperados pela simples saída de Dilma Rousseff e toda a sua infinita incompetência do planalto.  Bastou alguém com um mínimo de respeito a pilares macroeconômicos que foi possível reverter a trajetória de queda.  O mercado brasileiro mostrou certa resiliência, mas ainda é muito cedo para comemorar.

Os números preocupantes e que os investidores, diretamente ou via agências de risco, estão de olho são outros.  O nosso déficit primário está acima de 1% do PIB, o fiscal é astronômico e beira os 9% e a dívida pública se aproxima de 80%.  Qualquer um que saiba o mínimo de economia sabe que essa situação é insustentável e o Brasil caminha no médio prazo para a insolvência.  É preciso estancar a hemorragia de qualquer maneira para reverter este quadro.  Ou o Brasil aumenta a arrecadação, que seria resultado de um crescimento do PIB bem maior que o tímido atual, ou diminui os gastos.  Para o PIB crescer, o Brasil precisa de mais investimentos, o que é desestimulado diante do quadro de alto endividamento e classificação de risco ruim.  Precisaria cortar gastos e aí o buraco é bem embaixo.

Graças a uma constituição equivocada em vários pontos, o Brasil rapidamente comprometeu o seu orçamento em gastos chamados de incompressíveis.  O maior de todos é o com a previdência.  Pessoalmente, sou a favor de não contribuir com o INSS ou qualquer outra entidade que compulsoriamente tome parte do meu salário para me dar um retorno muito duvidoso no futuro.  Mas somos um país de cidadãos que exigem tutela de governos incompetentes.  Essa tutela é ótima para uma parcela de privilegiados do funcionalismo público que recebem fábulas da aposentadoria, mas ruim para a maioria que recebe uma mixórdia do INSS e ainda defende este.

Independente da eficiência do INSS, é necessário reformar nossa previdência e as demonstrações são que o congresso não é muito propenso a isto.  Se Michel Temer não conseguir aprovar esta reforma, seu sucessor será obrigado a fazer isto, na teoria.  Não ouço nenhum candidato ou pré-candidato falando abertamente em reformar a previdência, pior não ouço nenhum comentando da situação de penúria de nossa dívida pública.  A irresponsabilidade impera da esquerda para a direita neste país.  Por termos uma população que em sua maioria exige tutela, nenhum candidato falará abertamente sobre isto.  Preferem falar em direitos ameaçados, provavelmente os marqueteiros políticos instruem seus clientes a serem razoavelmente populistas.  Outros como Lula, são abertamente populistas e irresponsáveis, mas de vez em quando tem um marqueteiro que manda ele soltar umas frases sobre responsabilidade fiscal para tentar atrair algum investidor incauto.  Estes estão em falta no atual momento.

No espectro da direita, tem o pré-candidato Jair Bolsonaro, que não é bem de direita mas por defender punição mais dura (e necessária) aos bandidos é considerado de direita.  Porém suas ideias sobre economia são altamente equivocadas.  Defende o que a esquerda defende, intervenção no mercado, controle do Banco Central, proteção a estatais, etc.  Recentemente, veio com um papo liberal econômico para tentar atrair os investidores incautos que Lula também tenta atrair.

O PSDB que tem tido um número considerável de votos nas últimas eleições, mais por falta de opção na política que por convicção, mostra sua toda tradicional postura de indecisão.  Irrita o mercado financeiro, eleitores de direita e de esquerda igualmente.  Não consegue montar uma estratégia que passe certeza que vai tratar do descalabro econômico adequadamente.

Em suma, no atual cenário, está difícil de se escolher alguém, pois ou prometem ser irresponsáveis ou não prometem nada na esperança que os eleitores adivinhem o que vão fazer.  O problema é que ameaças de irresponsabilidade ganham votos.  Prometer torrar dinheiro, que não existe, com mais investimentos ruins e mais programas sociais ineficientes dá voto.

Além da bomba previdenciária, há outros pontos que ninguém toca.  O Brasil precisa privatizar o restante das estatais que são verdadeiras tentações para se criarem esquemas de corrupção.  Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica e Eletrobras deveriam ser todas privatizadas.  Funcionários públicos deveriam estar sujeitos às mesmas regras de mercado, isto é, não ter estabilidade quase que inquestionável e com certeza se sujeitarem a análises de desempenho para justificarem seus empregos.

Um discurso que abordasse este tema certamente seria bem visto pelo mercado financeiro.  A implementação destas medidas iria arrefecer os ânimos dos investidores.  Só que aí entra o populismo que infere que estas medidas são a favor dos ricos e contra os pobres.  Falta alguém dizer que se não conseguirmos atrair investidores não conseguiremos pagar a dívida pública, se não pagarmos a dívida pública a economia vai à lona.  Primeiro por que só fecharemos as contas fatalmente imprimindo dinheiro, ou seja com inflação, e que os maiores credores da nossa dívida pública são fundos de pensão nacionais.  Em outras palavras a crise previdenciária afeta a própria aposentadoria da população brasileira.

Então fica mais um dilema Tostines: os candidatos são irresponsáveis por que a população quer ouvir propostas populistas, ou a população só ouve propostas populistas por que os candidatos não se atrevem a falar a verdade?  Não tenham dúvidas, se nada mudar, 2018 será recheado de ameaças e o nosso futuro será bem incerto.

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