segunda-feira, 31 de julho de 2017

Saúde para (Quase) Todos

O filme esquerdófilo de 2013 Elysium, devidamente estrelado por Matt Damon, Alice Braga e Wagner Moura, tratava de um futuro onde uma casta de ricos que viviam no Elísio, situado em órbita terrestre, tinha acesso a uma tecnologia de ponta que tratava de qualquer enfermidade que os membros da casta poderiam sofrer.  Max após receber uma dose letal de radiação tem que entrar em Elísio para se curar.  Debaixo de um monte de maniqueísmo, o filme aborda alguns aspectos interessantes.

Mesmo entre os direitistas, existe um consenso que o governo deve cuidar da saúde de sua população.  Conheço uma mãe solteira cuja criança teve a infelicidade de ser alérgica à proteína do leite.  A lata de leite em pó adequada para crianças com este tipo de intolerância custa mais de R$500,00, mas, felizmente, o governo fornece gratuitamente este leite.  Via dinheiro dos impostos dos contribuintes, é claro.  Desde que esse tipo de tratamento seja restrito a poucos casos, não há mal em a população ser solidária com a mãe e a criança, afinal a ajuda ao próximo não é um lema exclusivo da esquerda.  O problema seria quando houvessem vários casos dessa alergia.  Nesse caso o custo repassado à sociedade seria maior, ao ponto de vários não poderem ajudar e da solidariedade se tornar um sacrifício insustentável.

Mas a conta da saúde não é alta devida a enfermidades raras e sim devido a uma miríade de necessidades dos cidadãos em virtude de estarem simplesmente vivos.  Faço anualmente uma bateria de exames que o meu clínico geral requisita para o meu check-up.  Obviamente, este custo é coberto pelo meu plano de saúde que mensalmente me esfola com uma cobrança salgada.  Duvido que todos os participantes tenham o cuidado que tenho ou que até procurem um tempo para efetuarem estes exames, mas se todos tiverem o plano certamente cobrará mais caro de todos.  Não há segredo e nem milagre, na média o participante do plano de saúde tem que gastar mais por ano com este plano do que o plano gastar com as despesas médicas do participante.  Caso isto não ocorra, o plano vai certamente à falência.  Se alguém conseguisse saber com precisão os gastos futuros com saúde, este poderia até dispensar o plano de saúde e fazer uma poupança para estes gastos e economizar um bom dinheiro.  Infelizmente os imprevistos podem sair demasiadamente caros e nesse caso é bom contar com a cobertura do plano de saúde.  Ou melhor, com o dinheiro dos demais participantes do plano de saúde.  Não adianta demonizar os administradores de planos de saúde, embora alguns devidamente mereçam, o preço de um plano é determinado pela necessidade média dos participantes com gastos de saúde.

Para aqueles que não estão participando de planos de saúde voluntariamente, no Brasil há a adesão (obrigatória) ao plano de saúde "invisível" e caro conhecido como o SUS.  Já fiz uso do SUS e sou testemunha que alguns hospitais são até melhores que particulares que atendem exclusivamente a participantes de plano de saúde.  Mas não há como negar que o SUS não dá conta das demandas da população.  É constante se ouvir de qualquer político que este vai melhorar o SUS e assim o brasileiro em média terá melhor atendimento médico.  Em 13 anos o PT fez um estrago considerável ao SUS, basta checar qualquer estatística da saúde brasileira, como o número de leitos para pacientes, mas não planejo sair do meu plano de saúde para ficar só com o SUS.  A verdade é que dificilmente a conta da saúde vai fechar no Brasil ou até mesmo em qualquer país do mundo.  Conheço suecos que vêm ao Brasil procurar tratamentos médicos e dentários com médicos particulares porque na Suécia, um welfare state, a fila de espera é de anos para se requisitar um tratamento deste.  Não preciso nem procurar dados, mas afirmo que em média o sueco tem melhor acesso à saúde do que o brasileiro.  Porém, a centralização e estatização completa da saúde cria aberrações como esta evasão.

A verdade é que quem tem recursos vai usá-los para sua saúde sempre.  Existem profissionais e empresas que sempre oferecerão serviços e produtos para aqueles dispostos a gastar, inclusive no setor da saúde.  No momento que se tentar "distribuir ou socializar" estes serviços e produtos, estes passarão a perder qualidade.  A "socialização" de tratamentos caros só funcionará enquanto poucos precisarem destes tratamentos.  Por outro lado, um investimento "socializado" da saúde na população geral é necessário até mesmo para se minimizar prejuízos para a sociedade como um todo.  Graças a campanhas maciças de vacinação, a humanidade erradicou doenças como pólio e varíola, sem contar que minimizou-se o número de enfermos com sarampo, difteria e outras doenças.

Ninguém deve se iludir que o custo de saúde é pequeno, muito pelo contrário.  No futuro próximo este custo tenderá a crescer justamente pelos avanços da medicina.  Estes avanços permitirão o cidadão médio a viver mais anos, muitos deles em faixas etárias no qual poucos são abençoados de viverem sem problemas de saúde.  E este custo não se resume a só o quanto de dinheiro é gasto em tratamento de doenças como câncer, diabetes e degenerações como mal de Parkinson ou Alzheimer, mas sim no tempo que cidadãos (mais) saudáveis dispensarão para cuidar de um número crescente de enfermos.  Cada profissional, ou mesmo alguém altruísta, que cuida de pessoas com problemas crônicos ou incuráveis é uma pessoa que não estará produzindo.  Devemos lembrar que os gastos da saúde só serão cobertos se a sociedade como um todo ganhar mais.

No futuro, é possível que a tecnologia possa baratear significativamente os custos de saúde, mas no momento estes estão se tornando um problema complexo e custoso para a humanidade.  A celeuma de Trump com o Obamacare mostra que este é um problema universal e sem solução definida.  Nós temos que ter a consciência de não esperar de ninguém os cuidados com nossa saúde, e sim tomar as providências para isto.  Desde os conhecidos hábitos saudáveis até mesmo a reservar uma boa parte das economias para os imprevistos que infelizmente podem nos acometer.

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