quarta-feira, 27 de maio de 2015

Do Desespero à Euforia e de Volta ao Desespero



Quem vivenciou a redemocratização neste país na segunda metade da década de 1980 vai lembrar de  alguns peculiares momentos que foram enfrentados naquela época.  Muitos deles nada agradáveis, como hiperinflação, recessão, escândalos de corrupção, mas também houve uma enorme euforia com o Plano Cruzado, esta turbinada pela recém vivência da eleição de Tancredo Neves em 1985.  Lá nos idos de 1986, José Sarney e o finado ministro da fazenda Dílson Funaro vieram com um plano simples para conter inflação, que já passava dos 200% ao ano: proibir aumento de preços.  Era uma solução simples que rapidamente foi espalhada pelo país, surgindo os vários “fiscais do Sarney” para coibir os “vilões”, como gerentes de supermercados que “queriam esfolar a população”.  Para quem ficou impressionado com as manifestações recentes, talvez não se lembre o que foram consumidores gritando diante das câmeras e “fechando estabelecimentos em nome de Sarney”.  Não é necessário lembrar que essa solução simples e absurdamente equivocada não duraria além da eleição geral de 1986, algo parecido com que houve no ano passado.  O governo Sarney terminou com uma inflação mensal de 80% em 1990.  Era o desastre.

A ditadura militar alavancou o PMDB à condição de partido que iria trazer o Brasil para o caminho da liberdade e também da prosperidade.  As barbeiragens do governo Sarney, a herança maldita da ditadura militar e a obsessão de Ulysses Guimarães pela presidência enterraram o PMDB que se transformou no atual monstrengo que ele é.  Além dos efeitos nocivos na economia, a crise daquele governo afetou em muito a população brasileira.  O Plano Cruzado devastou várias pessoas e empresas que embarcaram no otimismo desenfreado e depois se viram endividadas até o pescoço.  Desemprego e depauperação sempre foram e serão difíceis de se lidar.  Mas nunca devemos menosprezar os efeitos psicológicos deflagrados por crises econômicas e políticas.

Atualmente vivemos uma onda de mau humor e inconformismo, ou por termos assistido a eleição de Dilma sabendo do desastre que viria ou por termos acreditado nas promessas dela.  Negação, raiva, desespero, depressão e aceitação são os cinco estágios que alguém enfrenta quando se depara com a notícia que irá morrer eminentemente.  Acredito que estes estágios se apliquem também a outras perdas pessoais e também para a população diante de uma situação ruim que se instaura no país.  A negação veio durante o Plano Cruzado quando nos deparamos com sérios indícios que aquela aventura acabaria mal, a raiva veio em seguida quando Sarney enfrentou vários protestos e manifestações além de ver sua popularidade ser dizimada, e o desespero veio com a eleição de 1989 para presidente.

Os momentos mais vulneráveis que alguém enfrenta durante a vida são aqueles no qual está desesperado.  O pânico e a vontade irracional de remediar ou reverter uma situação de desespero faz com que as pessoas tomem decisões erradas.  Todos já ouvimos estórias de pessoas que acreditam em verdadeiros charlatões para resolverem problemas de saúde, dinheiro e afeto.  Basta olhar a TV aberta durante a madrugada para testemunhar a quantidade de charlatões prometendo o céu na terra para se ter uma ideia do quão perigoso é o desespero.  Quando uma população está desesperada, os charlatões são até mais perigosos.  Basta ver os três mais votados e suas propostas de governo em 1989.

O que Lula e Leonel Brizola, respectivamente segundo e terceiro mais votados, propunham era o decreto de arruinar economicamente o país por um bom tempo.  Tanto que Lula jamais cogitou durante seus mandatos dar calote na dívida externa, estatizar bancos privados, ou aumentar irresponsavelmente o salário mínimo.  Mesmo assim ele nos endividou mais ainda, pilhou os bancos estatais e aumentou vergonhosamente o salário de alguns seletos companheiros!  Já Brizola nem programa de governo tinha...

Mas o Brasil elegeu notoriamente Fernando Collor, alguém que vinha com a promessa de modernidade e com a fama de Caçador de Marajás.  O fato que Alagoas, onde governou, jamais ter se livrado de seus “marajás” era indício que Collor não seria a solução.  E lembro de um que debochadamente prometeu desfilar de elefante para receber o seu salário de funcionário público fantasma.  Collor por mais que as pessoas esqueçam tocou durante sua campanha em pontos que realmente são necessários para colocar o país nos trilhos.  Foi um dos poucos que prometeu austeridade fiscal, diminuição da máquina governamental e privatização das estatais.  É claro que a ausência de suportação política no congresso, uma equipe econômica incompetente, acessos de megalomania e enorme ganância para enfiar a mão no dinheiro público fizeram com que seu governo fosse um fracasso de bilheteria e terminasse antes do que o previsto.  Além de não ter matado a inflação com um tiro só e ter substituído seus ministros “imexíveis”, Collor nos jogou em uma recessão sem paralelo (ainda).  Pelo menos deu início às privatizações neste país e derrubou algumas proteções comerciais medievais, tudo isso a um preço muito caro.  Depois do desespero da eleição de 1989, veio a depressão com a dura realidade do governo Collor.  Ainda bem que nunca chegamos ainda no estágio da aceitação.

Lula também chegou ao poder em 2002 sob uma enorme onda de euforia neste país.  Testemunhei várias pessoas que acreditaram que o país finalmente elegeu o líder que nos colocaria no caminho da virtuosidade.  Euforia enorme que cegou boa parte da população que não se atentou à vertiginosa escalada da corrupção e à deterioração dos fundamentos econômicos.  O resultado foi que Lula conseguiu empurrar à população Dilma e toda a sua incompetência.  Beira o inacreditável que alguém como ela tenha sido reeleita neste país.

O Brasil se encontra em uma situação extremamente delicada.  A crise política impede que se resolva a crise econômica.  O país precisa que se resolva problemas estruturais gravíssimos como falta de infra-estrutura, de educação e de escassez de mão-de-obra, de segurança pública entre outros.  A nossa reputação com o exterior, onde estão potenciais investidores, está arranhada seriamente pela incompetência e atitudes equivocadas na política de relações exteriores.  Necessitamos urgentemente de reformas políticas, tributárias, previdenciárias e trabalhistas.  O combate à corrupção tem de ser intensificado para muito além da Petrobras.  Tudo isso demandará muito tempo para ser feito, talvez décadas, o que privaria pelo menos uma geração de ver um país melhor.


O desespero de vivenciar um país com uma economia abalada que afeta seriamente a vida de vários é um risco sério para todos nós.  O que não faltam são aventureiros neste país com promessas de resolver quase que imediatamente todos os nossos problemas.  Collor foi um que foi rapidamente expurgado, recebeu o país em frangalhos e nos quebrou mais um pouco.  Lula recebeu o país em melhores condições e promoveu uma verdadeira farra com o dinheiro alheio.  Deixou Dilma na presidência além de inúmeros outros esqueletos.  Cabe aos brasileiros não se desesperarem e nem se deixarem levar por euforias momentâneas.  O país só caminhará para frente com muito trabalho árduo e sacrifício de todos, pobres e ricos.

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