Quem vivenciou a redemocratização neste país na
segunda metade da década de 1980 vai lembrar de
alguns peculiares momentos que foram enfrentados naquela época. Muitos deles nada agradáveis, como
hiperinflação, recessão, escândalos de corrupção, mas também houve uma enorme
euforia com o Plano Cruzado, esta turbinada pela recém vivência da eleição de
Tancredo Neves em 1985. Lá nos idos de
1986, José Sarney e o finado ministro da fazenda Dílson Funaro vieram com um
plano simples para conter inflação, que já passava dos 200% ao ano: proibir
aumento de preços. Era uma solução
simples que rapidamente foi espalhada pelo país, surgindo os vários “fiscais do
Sarney” para coibir os “vilões”, como gerentes de supermercados que “queriam
esfolar a população”. Para quem ficou
impressionado com as manifestações recentes, talvez não se lembre o que foram
consumidores gritando diante das câmeras e “fechando estabelecimentos em nome
de Sarney”. Não é necessário lembrar que
essa solução simples e absurdamente equivocada não duraria além da eleição
geral de 1986, algo parecido com que houve no ano passado. O governo Sarney terminou com uma inflação
mensal de 80% em 1990. Era o desastre.
A ditadura militar alavancou o PMDB à condição
de partido que iria trazer o Brasil para o caminho da liberdade e também da
prosperidade. As barbeiragens do governo
Sarney, a herança maldita da ditadura militar e a obsessão de Ulysses Guimarães
pela presidência enterraram o PMDB que se transformou no atual monstrengo que
ele é. Além dos efeitos nocivos na
economia, a crise daquele governo afetou em muito a população brasileira. O Plano Cruzado devastou várias pessoas e
empresas que embarcaram no otimismo desenfreado e depois se viram endividadas
até o pescoço. Desemprego e depauperação
sempre foram e serão difíceis de se lidar.
Mas nunca devemos menosprezar os efeitos psicológicos deflagrados por
crises econômicas e políticas.
Atualmente vivemos uma onda de mau humor e
inconformismo, ou por termos assistido a eleição de Dilma sabendo do desastre
que viria ou por termos acreditado nas promessas dela. Negação, raiva, desespero, depressão e
aceitação são os cinco estágios que alguém enfrenta quando se depara com a
notícia que irá morrer eminentemente. Acredito
que estes estágios se apliquem também a outras perdas pessoais e também para a
população diante de uma situação ruim que se instaura no país. A negação veio durante o Plano Cruzado quando
nos deparamos com sérios indícios que aquela aventura acabaria mal, a raiva
veio em seguida quando Sarney enfrentou vários protestos e manifestações além
de ver sua popularidade ser dizimada, e o desespero veio com a eleição de 1989
para presidente.
Os momentos mais vulneráveis que alguém
enfrenta durante a vida são aqueles no qual está desesperado. O pânico e a vontade irracional de remediar ou
reverter uma situação de desespero faz com que as pessoas tomem decisões
erradas. Todos já ouvimos estórias de pessoas
que acreditam em verdadeiros charlatões para resolverem problemas de saúde,
dinheiro e afeto. Basta olhar a TV aberta
durante a madrugada para testemunhar a quantidade de charlatões prometendo o
céu na terra para se ter uma ideia do quão perigoso é o desespero. Quando uma população está desesperada, os
charlatões são até mais perigosos. Basta
ver os três mais votados e suas propostas de governo em 1989.
O que Lula e Leonel Brizola, respectivamente
segundo e terceiro mais votados, propunham era o decreto de arruinar
economicamente o país por um bom tempo.
Tanto que Lula jamais cogitou durante seus mandatos dar calote na dívida
externa, estatizar bancos privados, ou aumentar irresponsavelmente o salário
mínimo. Mesmo assim ele nos endividou
mais ainda, pilhou os bancos estatais e aumentou vergonhosamente o salário de
alguns seletos companheiros! Já Brizola
nem programa de governo tinha...
Mas o Brasil elegeu notoriamente Fernando Collor,
alguém que vinha com a promessa de modernidade e com a fama de Caçador de
Marajás. O fato que Alagoas, onde
governou, jamais ter se livrado de seus “marajás” era indício que Collor não
seria a solução. E lembro de um que
debochadamente prometeu desfilar de elefante para receber o seu salário de
funcionário público fantasma. Collor por
mais que as pessoas esqueçam tocou durante sua campanha em pontos que realmente
são necessários para colocar o país nos trilhos. Foi um dos poucos que prometeu austeridade
fiscal, diminuição da máquina governamental e privatização das estatais. É claro que a ausência de suportação política
no congresso, uma equipe econômica incompetente, acessos de megalomania e
enorme ganância para enfiar a mão no dinheiro público fizeram com que seu governo
fosse um fracasso de bilheteria e terminasse antes do que o previsto. Além de não ter matado a inflação com um tiro
só e ter substituído seus ministros “imexíveis”, Collor nos jogou em uma
recessão sem paralelo (ainda). Pelo
menos deu início às privatizações neste país e derrubou algumas proteções comerciais
medievais, tudo isso a um preço muito caro.
Depois do desespero da eleição de 1989, veio a depressão com a dura
realidade do governo Collor. Ainda bem
que nunca chegamos ainda no estágio da aceitação.
Lula também chegou ao poder em 2002 sob uma
enorme onda de euforia neste país.
Testemunhei várias pessoas que acreditaram que o país finalmente elegeu
o líder que nos colocaria no caminho da virtuosidade. Euforia enorme que cegou boa parte da
população que não se atentou à vertiginosa escalada da corrupção e à deterioração
dos fundamentos econômicos. O resultado
foi que Lula conseguiu empurrar à população Dilma e toda a sua
incompetência. Beira o inacreditável que
alguém como ela tenha sido reeleita neste país.
O Brasil se encontra em uma situação
extremamente delicada. A crise política
impede que se resolva a crise econômica.
O país precisa que se resolva problemas estruturais gravíssimos como falta
de infra-estrutura, de educação e de escassez de mão-de-obra, de segurança
pública entre outros. A nossa reputação
com o exterior, onde estão potenciais investidores, está arranhada seriamente pela
incompetência e atitudes equivocadas na política de relações exteriores. Necessitamos urgentemente de reformas
políticas, tributárias, previdenciárias e trabalhistas. O combate à corrupção tem de ser
intensificado para muito além da Petrobras.
Tudo isso demandará muito tempo para ser feito, talvez décadas, o que
privaria pelo menos uma geração de ver um país melhor.
O desespero de vivenciar um país com uma
economia abalada que afeta seriamente a vida de vários é um risco sério para
todos nós. O que não faltam são
aventureiros neste país com promessas de resolver quase que imediatamente todos
os nossos problemas. Collor foi um que
foi rapidamente expurgado, recebeu o país em frangalhos e nos quebrou mais um
pouco. Lula recebeu o país em melhores
condições e promoveu uma verdadeira farra com o dinheiro alheio. Deixou Dilma na presidência além de inúmeros outros
esqueletos. Cabe aos brasileiros não se
desesperarem e nem se deixarem levar por euforias momentâneas. O país só caminhará para frente com muito
trabalho árduo e sacrifício de todos, pobres e ricos.
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