sexta-feira, 15 de maio de 2015

A Combinação Tóxica de Orgulho com Irresponsabilidade



Credibilidade é algo que se conquista a duras penas e se perde rápido se não se tomar cuidado.  Quem não entende isso, sofre as consequências durante a vida.  As nações também precisam ter credibilidade, não só dos seus líderes mas principalmente de seu povo.  O maior mal da democracia é que se o povo escolhe mal, a credibilidade da nação, do povo e dos líderes é afetada.  Lá no final da década de 1980, o país se encontrava em caos financeiro tendo um panorama de hiperinflação, dívida externa astronômica e algo que poucos comentam que era um duradouro e danoso déficit fiscal.  Qualquer país que não queira sofrer com inflação e endividamento, tem que atacar o déficit fiscal, pois esses dois problemas são decorrentes do déficit.  O governo também pode aumentar impostos, como está fazendo agora, para atenuar este problema, mas há um limite para se cobrar impostos e após um ponto a arrecadação diminui, algo que muitos em vários governos parecem esquecer. 

A real solução para reduzir o déficit e transformá-lo em superávit é o controle das contas públicas, não há outra maneira e qualquer outra alternativa é enrolação.  O histórico do Brasil desde o fim da ditadura militar é do uso de inflação, endividamento e aumento de impostos para tapar os rombos.  Com o Plano Real a inflação, pelo menos a hiperinflação, deixou de ser uma opção e para se diminuir os custos a administração de Fernando Henrique Cardoso acelerou as privatizações o que trouxe o benefício de gerar caixa.  Vender ativos, ainda mais aqueles que dão prejuízos, é sempre necessário, mas seu efeito é de duração limitada.  Como a administração FHC, apesar de ter em momentos intuitos de reduzir custos não foi bem sucedida neste objetivo, então teve que passar o chapéu para conseguir empréstimos.

Quando alguém precisa coibir déficits pessoais, este não tem como emitir dinheiro, e se conseguir estará infringindo a lei falsificando dinheiro, ou cobrar impostos, a não ser que infrinja de novo a lei roubando dinheiro alheio.  Então sobram as opções de vender ativos ou pedir dinheiro emprestado.  Como venda de ativos nem sempre é possível, o jeito é apelar para empréstimos.  Os possíveis credores sempre olharão o histórico de crédito do futuro devedor e também a capacidade do sujeito ter como pagar o empréstimo, isto é em um dado momento o devedor tem que ser superavitário e não deficitário.  Ninguém consegue chegar em um banco bufando e proferindo retóricas e obter um empréstimo a juros camaradas sem demonstrar que conseguirá honrar os empréstimos.  Se conseguir pode desconfiar da instituição que emprestou os recursos!  E não levo em conta os empréstimos feitos por amigos e familiares pois estes muitas vezes são na verdade doações onde nunca mais se verá o dinheiro cedido.

Pois bem, quando o Brasil precisava de socorro, tínhamos a nossa reputação arranhada.  Havíamos declarado moratória no final do governo Sarney e a então oposição feita pelo PT e seu líder Lula alardeava sempre que possível que a solução para o Brasil era o calote.  Quem em sã consciência emprestaria dinheiro para nós com este panorama?  Para isso servia o FMI, uma instituição multinacional com o propósito de socorrer nações em desespero.  Obviamente esse dinheiro viria com um preço que era o escrutínio das contas brasileiras por parte dos credores.  Entre as várias exigências estão a apresentação de um superávit primário, que nossos governos só conseguem ou aumentando impostos ou cortando os gastos com investimentos, pois ai de quem mexer na máquina gorda e lenta do governo.

O problema para o devedor é o constrangimento público deste escrutínio.  É o orgulho ferido de quem esbanja mas não tem como arcar com a opulência.  Como diria Lobão, o músico, é Décadance avec Élégance.  No ocaso de seu mandato, FHC começou a ser atacado por se submeter aos “caprichos” do FMI.  Segundo o ultra populista Lindberg Farias, estávamos se curvando a engravatados que trabalhavam em escritórios com ar condicionado.

E então veio Lula e a euforia tomou conta deste país nos primeiros anos da administração lulopetista.  Como Lula, para nossa sorte, não deu o alardeado calote na dívida brasileira pois não era um completo irresponsável, a reputação brasileira perante o mercado financeiro melhorou e foi possível se trocar nossa dívida do FMI por a de outros credores, sendo que alguns imagino eu cobrem juros maiores pois antes de 2008 o Brasil não possuía grau de investimento.  O problema do déficit fiscal no início do lulopetismo era algo a ser atacado, pelo menos para o ministro da fazenda Antônio Palocci.  Como este sucumbiu a vários escândalos de corrupção, a condução da política econômica foi passada para Guido Mantega, um economista com incrível capacidade de fazer previsões furadas e elaborar medidas equivocadas.  Mas o país naquele instante vivenciava os louros do período quase-malthusiano em que nossas commodities eram vendidas a preço de ouro para financiar o esbanjamento do lulopetismo e sua corrupção.  A propaganda e a euforia fizeram com que a população não se desse conta que nossa dívida externa não está paga.

Agora, o rei está nu.  Quem não viu que as contas do Brasil estão em situação calamitosa, está vendo muito claramente isso.  No lugar de Mantega, veio Joaquim Levy, o homem com perfil que o mercado pedia.  O Brasil está sob o escrutínio de todo o mundo financeiro.  Não estamos devendo para o FMI então não precisamos apresentar superávit primário para este, mas à priori temos de mostrar isso para as agências de risco como Moody’s, Standard & Poor e Fitch, que tem histórico questionável pois erraram em suas previsões quase tanto como Mantega.  Já está difícil rolar a dívida brasileira, os investidores estão cautelosos, para não dizer receosos, com o Brasil e o vácuo que impera no executivo brasileiro.  O ajuste fiscal que Levy enfiou goela nossa abaixo é o preço da irresponsabilidade de se promover uma verdadeira farra com o dinheiro do contribuinte.  É pior do que aqueles que o FMI exigia, pois esse ajuste não inclui frear essa farra do governo com 39 ministérios e afins.  Não adianta alardear que somos credores do FMI pois isso só ilude os mais tolos orgulhosos xenófobos que se preocupam mais com aparência do que substância. 


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