O recente acidente com o caminhão transportando
110 porcos em Carapicuíba causou uma comoção, até um certo ponto grande, em
virtude do sofrimento dos animais presos debaixo das ferragens. O “final feliz” para os porcos resgatados é
até emocionante. O sofrimento alheio,
mesmo de animais, é algo que deve ser evitado e combatido, embora nesse caso
não houve dolo e sim um acidente. Apesar
dos porcos terem como destino o matadouro, estes devem ser respeitados até o
fim. Algumas religiões até exigem
rituais específicos para abates de animais, mostrando o devido respeito a estes
animais, por sinal merecido. Não existe
justificativa para tortura e sadismo, mesmo que o animal venha a se tornar
salame ou rosbife e, portanto, em touradas sempre torço pelo touro.
Antes essas exibições de crueldade eram aplaudidas
quase que unanimemente, mas à medida que a (parte da) raça humana evoluiu,
rodeios, farras e espancamentos de animais em gerais estão sendo condenados
publicamente, e mesmo assim ainda existem os fãs destas barbáries. O direito dos animais ganhou uma atenção
maior recentemente, mas fica a dúvida de até onde eles têm direitos. Bovinos e suínos são mamíferos artiodáctilos
que possuem uma inteligência limitada, mas considerável e sentem dor e tristeza. Seria justo condená-los a uma vida de cárcere
cujo encarcerador decide quando estes serão executados? Dizem que porcos são ótimos animais de
estimação, o que torna quase impossível algum dono de porco de estimação comer
presunto. Quem assistiu Babe e City Slickers talvez tenha virado vegetariano. Quem gosta do The Smiths, provavelmente concorda que Meat is Murder. Duvido que
algum dono de cachorro vá à Ásia e procure comer carne de cachorro em
restaurantes.
Quem estudou ecologia, a ciência e não o
modismo, sabe que porcos e vacas ocupam o segundo nível na pirâmide trófica,
acima apenas dos seres autótrofos, os vegetais. O ser humano no seu despertar não estava no
topo desta pirâmide, mas escalamos até o topo basicamente eliminando os nossos predadores. Estou para conhecer alguém que queira, em sã
consciência e livre de hipocrisia, ter um nível trófico acima do nosso atual. Se todos nós nos tornássemos vegetarianos,
então o ser humano deixaria de ser o predador dos porcos e das vacas, e estes
por sua vez se tornariam nossos competidores.
Para se minimizar o sofrimento animal, a pirâmide trófica teria dois
níveis só. Faço a pergunta, existiria
alimento suficiente para 8 bilhões de pessoas, 2 bilhões de vacas e 1 bilhão de
porcos (populações estimadas)? Isso sem
contar os outros herbívoros existentes. Vale lembrar que planejamento familiar
não é exatamente um forte do reino animal e, portanto, alguns animais sem um controle
por predadores tendem a se tornarem pragas.
Os quase inúmeros roedores e insetos ao longo da história sempre competiram
por alimentos conosco, e muitas vezes nos derrotaram.
Sem predadores, os herbívoros podem até se
expandir além da capacidade de geração de alimentos pelo ecossistema, para esse
caso Thomas Malthus estaria certo, o que causaria uma inevitável escassez de
alimentos, possível extinção de vegetais e futura fome disseminada entre os
herbívoros. Se nos tornássemos todos vegetarianos,
a motivação de prover alimentos para nossos novos competidores desapareceria e,
pior, apareceria bastante motivação de lutarmos com eles pela quantidade
limitada dos alimentos disponíveis.
Aliás, de acordo com a ecologia, duas espécies não ocupam o mesmo nicho
ecológico.
E a pergunta que não quer calar, mesmo que a
raça humana se torne herbívora, o que fazer com os seres carnívoros? Nos aliamos a dois seres, cães e gatos, por
estes possuírem hábitos carnívoros. Aliás,
os nossos amigos felinos são exclusivamente carnívoros. E ainda não ouvi falar de cachorro
vegano. Imagino que depois do homem, os
maiores predadores de vacas e porcos são os cães e os gatos, ou algum defensor
dos animais tem outra explicação para a origem das rações para cães e gatos? Na Idade Antiga, para se controlar a
população de roedores que dizimavam colheitas estocadas em celeiros, os gatos
foram introduzidos à sociedade para manter sob controle esse tipo de praga. Pode se dizer que a humanidade prosperou
graças a eles e suas sanhas assassinas.
A evolução das espécies aqui neste planeta
começou com seres autótrofos e depois surgiram os heterótrofos, como nós. Por definição, a sobrevivência dos
heterótrofos depende da alimentação de outros seres. Vai demorar um pouco para alguém descobrir
como os seres humanos, e cães e gatos, possam fazer fotossíntese.
Crueldade é algo indesculpável, definitivamente
não é kosher. Os ativistas devem continuar sua luta por um
tratamento justo aos animais, inclusive àqueles que servirão de alimentos. Mas até alguém me responder o que fazer para
me tornar um ser autótrofo e como ensinar às vacas e aos porcos que todos temos
direito aos alimentos, eu vou assumir publicamente minha posição na pirâmide
trófica. Respeito a opção alheia, mas continuarei
apreciando churrasco. Mesmo que um dia, H.G.
Wells venha a ter razão e meus descendentes se tornem elóis, ou seja alimentos dos morlocks,
conforme retratado na obra A Máquina do
Tempo.
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