domingo, 27 de abril de 2014

As Lições de Eike

Recentemente, conversando com um amigo veio à tona o caso da derrocada do império industrial de Eike Batista.  Muito já se comentou sobre o porquê do Grupo X ter ido para o buraco e agora o CVM (Comissão de Valores Mobiliários) chegou à conclusão que Eike fez uso de informações privilegiadas.  Não pretendo discutir Eike e ou a derrocada de seu castelo de cartas, mas sim o que levou vários brasileiros a investirem em um negócio que vários outros colocavam em dúvida a viabilidade.  Lembro-me de outro colega comentar sobre as empresas do Grupo X ressaltando que aquilo estava mais para um esquema de pirâmide do que qualquer outra coisa.  Não era preciso ler qualquer relatório de agências de risco para perceber que o Grupo X representava um altíssimo risco aos investidores.

Nunca fui atraído por investimentos de risco, sempre tive receio de perder dinheiro que ganhei com suor.  É claro que isso não me impediu de levar meus tombos durante minha vida, mas em geral sempre me mantive em terreno sólido, mesmo que isso tenha me custado talvez a possibilidade de um lucro maior.  O investidor prudente também tem a mesma visão, então entra a arte de se atrair os incautos e aqueles que apesar de negarem, lá no fundo querem arriscar.

Dos 7 pecados capitais, talvez aquele que mais instigue a burrice seja a ganância.  Quem nunca desejou ter dinheiro suficiente para largar um emprego ruim, poder comprar um imóvel ou um carro sem um financiamento oneroso ou simplesmente torrar este dinheiro como um playboy desvairado.  Muitos não querem cometer atos ilícitos para ganharem vantagem financeira, ainda bem, e sabem que a chance de ganhar em uma loteria é ínfima, então sonham com uma oportunidade de ouro.  Antes do estouro da bolha imobiliária americana, se falavam dos novos milionários da bolsa, que foram até capa da Revista Época.  Indago se continuam milionários nos dias de hoje...  Mas estas estórias de sucesso atiçaram estes desejos mais íntimos de mudar a vida por meio de sucesso financeiro quase instantâneo.  Não sou contra ter-se ambição na vida, mas ela deve ser comedida.  Quando não se controla estes desejos, vem a ganância, e quando esta aparece, passa-se por cima da cautela e do bom senso.  E aí é que se até perde as economias de uma vida.

Eike Batista foi um exemplo de marketing bem sucedido.  Sua imagem foi vendida como a de um empresário muito bem sucedido, não que ele não tivesse seus méritos, um campeão brasileiro que iria tornar um seleto grupo de brasileiros em parceiros de seu sucesso.  Apareceu em capas de revistas, lista de bilionários, etc.  Para um golpe ser bem sucedido é necessário sabê-lo vender muito bem.  Afinal de contas a taxa de sucesso do golpe nigeriano é baixíssima, mas tem sempre um tolo para cair nesse golpe.  Apesar de não ter extraído uma gota de petróleo, a OGX era já um exemplo de sucesso.  Trouxa era quem não comprou ações da OGX.  Veio o que veio.
 
O que levou pessoas inteligentes e antes prudentes a investirem em uma empreitada que sempre pareceu, pelo menos para mim, uma barca furada?  Só ganância?  Ou foi inveja de outros que foram bem sucedidos no mercado financeiro?  Ou foi o desespero de se libertar de uma situação de vida indesejável?  Tenho um amigo que investiu na OGX, mas apenas parte de seu dinheiro, talvez tenha sido uma compulsão por um risco, algo semelhante aquilo que os jogadores inveterados sentem em Las Vegas.


 A justiça tem que ir atrás de Eike, é claro.  Ele deve ser punido, em minha opinião, e é culpado por vários investidores perderem dinheiro.  Porém, estes investidores são responsáveis pelo próprio insucesso.  Sempre existirão golpistas, desde o spammer da Nigéria até os “clones” de Eike, passando por Herbalife e Clube Alpha.  Cabe a nós termos a prudência, a inteligência, a paciência e o controle necessários para não cairmos nas armadilhas.  Depois nem com uma justiça mais eficiente conseguiremos recuperar o prejuízo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário