Enquanto a Operação Lava-Jato vai desenterrando
todos os esqueletos imagináveis e inimagináveis na Petrobras e agora no “escalão
de sacrifício” (vulgos bois de piranha) dos partidos de situação, as empresas de
prestação de serviço e fornecimento que negociavam em grande escala com a
Petrobras agonizam tentando escapar ou da justiça ou da falência ou de
ambas. Muitos têm criticado Sérgio Moro
por estar causando danos irreparáveis a este setor da economia brasileira, mas
isto seria uma causa ou uma consequência da Lava-Jato? Falo por conhecimento próprio que a situação
é terrível, profissionais bem qualificados e dedicados vislumbram o desemprego,
se já não estiverem desempregados, e não conseguem enxergar qualquer porto
seguro para atracar. E não adianta nem
cursar o Pronatec pois este está sem verba no momento! Porém desde que comecei a trabalhar nesta
área de projetos, sempre indaguei até onde poderíamos sobreviver neste “Petrocentrismo”.
Desde sempre, se considera como um mandamento
divino que a Petrobras é um patrimônio do povo brasileiro. Qualquer argumentação contra este mandamento
e hordas de fanáticos hidrófobos acusam estes hereges de traição à pátria e de serem
mancomunados do imperialismo americano. Esta
era uma visão em que a própria Petrobras já fez questão de discordar, pois lá
na década de 90 a própria em propagandas institucionais deixava claro que era
uma empresa de capital aberto cujo maior acionista era o governo federal. Então para a própria empresa, a Petrobras não
era do povo brasileiro e sim dos acionistas.
Até onde eu sei, alguém se torna acionista de uma empresa para ganhar
dinheiro e não para fazer filantropia.
E aí reside o maior dos problemas da Petrobras,
pois nem sempre é do interesse do acionista majoritário o lucro da empresa. Nas administrações lulopetistas, a Petrobras
claramente serviu a outros propósitos como o de alavancar setores da economia
brasileiro que há muito tempos estavam estagnados. Para aqueles que lembram da década de 80, a
Lei da Informática serve de aviso que este tipo de incentivo é fadado a termos
produtos e serviços dignos da qualidade dos finados CP 500 e TK 2000. Foram criadas as empresas satélites do Petrocentrismo.
Nunca levei a sério a missão de uma empresa,
sempre me deu a impressão que isto é frase pronta de algum “marqueteiro” que é
pago mais dinheiro do que merece, mas a missão da Petrobras é “Atuar na
indústria de petróleo e gás de forma ética, segura e rentável, com
responsabilidade social e ambiental, fornecendo produtos adequados às
necessidades dos clientes e contribuindo para o desenvolvimento do Brasil e dos
países onde atua.” Creio que a parte de “desenvolvimento
do Brasil” tenha sido extrapolada pelas últimas administrações.
Como acionista minoritário, ênfase no
minoritário, a Petrobras ao meu ver tem que extrair e refinar petróleo e vender
os derivados de petróleo. E só! Mas sob a visão de Lula, a Petrobras passou a
ter outras funções e veio a política de conteúdo nacional. Entre 2005 e 2007, observei que as empresas de
engenharia, prestadoras de serviço da Petrobras, não sabiam nem aonde contratar
engenheiros no Brasil, eram selecionados sem critério qualquer um que tivesse
um diploma de engenharia, mesmo que nunca tivessem atuado na área de
projetos. Imagino que outros prestadores
de serviço e fornecedores tenham feito o mesmo.
Isso sem contar que a Petrobras foi usada para ressuscitar nossa
indústria naval, mesmo que esta oferecesse produtos muito mais caros que os
disponíveis no mercado globalizado. Há
realmente de se reconhecer que isto alavancou a carreira de muitos profissionais
subutilizados no Brasil, mas esta solução “trivial” para os problemas extra-Petrobras
tinha um custo que só foi se tornar claro mais tarde.
Aditivos contratuais eram concedidos aos
satélites do Petrocentrismo a rodo. Não era
um objetivo primordial destes satélites de entregar um produto de qualidade mas
sim de se fazer lobby para conseguir
mais negócios com a Petrobras, que parecia muitas vezes um banco de
investimentos – a fundo perdido!
Veio então a proclamação da auto-suficiência do
petróleo e que com o pré-sal o Brasil seria um exportador de petróleo, isso lá
nos idos de 2006. Na época pré-Grande
Recessão de 2008, tínhamos a impressão que finalmente as teorias de Thomas Malthus
vingariam e os recursos naturais seriam cada vez mais escassos e valiosos. Quem trabalhou em uma empresa de projetos de
engenharia nesta época sabia que a demanda por mão de obra era enorme,
engenheiros eram designados a mais de um projeto simultaneamente, e quase todos
para a Petrobras. Será que faltou visão
naquela época que a Petrobras não poderia se expandir naquela velocidade para
sempre? E uma coisas sempre me
preocupou, pois empresas que contratam sem critério são empresas que demitem
sem critério.
Na euforia, faltou a visão que outros setores
da economia estavam estagnados e o país, pelo menos o governo, tinha abandonado
investimentos em uma matriz energética diversificada. E os investimentos em infra-estrutura (PAC?)
eram muito insuficientes para se atacar o problema do Custo Brasil. O Petrocentrismo sempre foi e será um erro
estratégico desse e de qualquer outro país. Alguém pode me dizer qual o membro da OPEP que
nós devemos se espelhar? A companheirada
se espelha na Venezuela...
E eis que em 2008, o mundo financeiro quase
veio abaixo, a primeira “marolinha” que atingiu os satélites do Petrocentrismo
foi relativamente fraca, mas contratos para novos projetos foram reduzidos, o
que significava que a onda maior chegaria a nossas praias depois. Em 2009, veio o esperado baque e houveram as
demissões, mas logo em 2010 muitos dos que foram demitidos conseguiram se
reposicionar no mercado. O que poucos
perceberam era que o tsunami ainda estaria para chegar.
Para mascarar a incompetência do governo Dilma,
a Petrobras foi usada para conter sem sucesso a inflação. O represamento do preço da gasolina serviu,
além de minar a capacidade de investimento da Petrobras, para turbinar a onda
gigante que atingiu em cheio o setor em 2014.
As atividades petrocêntricas já estavam desacelerando há algum tempo e os
satélites do Petrocentrismo que não cortaram, começaram a segurar em seus
quadros funcionários ociosos. Também, o
setor sucroalcooleiro foi duramente atingido por esta política suicida do
acionista majoritário da Petrobras. Este
é um setor que poderia estar se expandindo resultando em demandas por serviços
de engenharia, construção, e bem como compra de equipamentos.
Qualquer acionista por definição deve tomar
atitudes gerenciais para garantir o lucro da empresa e a capacidade de
investimento, ainda mais diante de um cenário em que a demanda por combustível
estava aumentando. A atitude do governo
de Dilma, na capacidade de acionista majoritário, é por definição criminosa. Quem foi inteligente o suficiente, vendeu as
ações da Petrobras logo que George Soros abandonou o barco. Era o alerta que a coisa ia piorar rápido.
Pois bem, toda essa conjuntura mal tocou no
principal problema da Petrobras: a corrupção.
A ganância desenfreada dos saqueadores tirou o dinheiro que deveria ser
investido em novos projetos, afetando, além dos satélites petrocêntricos, os
clientes que são a população brasileira que compra gasolina e os
acionistas. Os únicos que não são
afetados são os funcionários, pois estes possuem estabilidade de facto na empresa. Longe de querer que trabalhadores percam seu
emprego, mas claramente a Petrobras tem seus quadros inchados, tanto que
recentemente procurou fazer um programa de demissão voluntária.
Então que culpa tem o Sérgio Moro nesta
estória? A de exigir que o contribuinte,
que vai arcar de uma forma ou outra os abacaxis da empresa, tenha justiça? A de exigir que o acionista possa ter seus
direitos respeitados? Ou será que o
acionista é a elite branca burguesa que paga propina ao guarda de trânsito e
então tem que ser esfolada? A política
de uso da Petrobras para outras finalidades que não a de produzir derivados de
petróleo causou o aparelhamento da empresa por indivíduos mais preocupados com
ideologia do que com a empresa, que geraram corrupção e ineficiência, que por
sua vez causou a derrocada da Petrobras.
E esta é a causa de todas as empresas de engenharia, empreiteiras, fornecedores
de equipamentos e outras estarem passando o pires. E sim, nós engenheiros estaremos de volta a
vender suco. Simplesmente lastimável.
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