segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

O Governo sob Vácuo



O vácuo total é definido pela condição de pressão absoluta igual a zero.  Ocorre quando não há matéria como no espaço sideral.  No vácuo o som não se propaga, a temperatura é também zero absoluto e qualquer líquido evapora.  Não há vida no vácuo, qualquer humano que for submetido ao vácuo morre quase que instantaneamente.  Existe o vácuo parcial no qual a pressão é intermediária entre o vácuo total e a pressão atmosférica.  O vácuo administrativo ocorre quando um governo é fraco demais ou incompetente demais para conseguir fazer qualquer coisa.  Como na física e na engenharia, o vácuo administrativo pode ser parcial ou total, sendo que no último caso seria algo equivalente à anarquia ou a fragmentação completa da nação.  O exemplo mais clássico foi a desintegração do Império Romano que de tantas más administrações sucumbiu às várias invasões bárbaras e acabou em 476 DC.

O Brasil se encontra sob vácuo administrativo parcial, essa é a conclusão após pouco mais de um mês do segundo mandato de Dilma Rousseff que se iniciou em 2015 e começa a mostrar sérios indícios de desintegração.  Na verdade os indícios eram previstos por vários antes da reeleição dela, mas logo nos primeiros dias se tornaram visíveis até demais para os mais pessimistas.  Começou quando Nelson Barbosa queria mexer na correção do salário mínimo e um dia depois foi desmentido publicamente e severamente pela presidente.  A bronca é um sinal de que Dilma não mudou seu estilo autoritário de governar que serve para afastar bons profissionais, alienar sua equipe e criar desafetos e inimigos.  Para tirar o país do atoleiro que ela mesma nos conduziu, diga-se de passagem com ajuda de seu antecessor, precisaria de bons profissionais, estar interada com sua equipe e ter mais aliados que inimigos...

E eis que veio a eleição da presidência da câmara onde Dilma sofreu dura derrota.  A escolha de Eduardo Cunha mostra duas coisas: a aliança com o PMDB durará até o momento que este partido julgar satisfatório estar aliado à Dilma e que o próprio PT está se fragmentando e há bastante partidários insatisfeitos com o atual governo o bastante até para sabotá-lo.  Até um certo ponto é bom saber que Dilma está perdendo apoio, assim ela dificilmente conseguirá aprovar qualquer de seus decretos bolivarianos, mas a razão para o mal estar com o PMDB e a dissidência interna do PT não têm raízes em motivos nobres e sim em insatisfação com a distribuição de cargos e dinheiro para os projetos paroquiais desses insurgentes.  Não há honra entre os ratos.

A eleição no congresso foi um duro golpe no projeto de poder do PT e pode se esperar que Dilma seja chantageada de maneira mais escancarada do que tem sido até agora.  Os projetos de lei que poderiam ser realizados para diminuir os gastos do governo e o notório Custo Brasil só serão aprovados salvo grandes incentivos aos ratos rebeldes.  Incentivos como verbas para projetos particulares destes ratos ou como cargos em empresas estatais, autarquias e ministérios agravam as crises das estatais e dificultam ainda mais a quase impossível composição de um ministério qualificado.

Mas os problemas de Dilma não estão só limitados à escolha de Cunha, um desafeto declarado.  Eles são muito bem conhecidos para os brasileiros.  A Operação Lava-Jato a cada dia desenterra um podre de arrepiar os cabelos, a Petrobras flerta com a insolvência, uma crise energética se aproxima no horizonte e o único paliativo para ela no momento é a recessão na qual o país se afunda.  Recessão que significará desemprego e mais perda de popularidade para Dilma, o que já foi comprovado nas últimas pesquisas.  Dilma já é uma pessoa com graves limitações de comunicação, seja pela prepotência e truculência ou pela incapacidade de se expressar claramente, o que a isola como líder e agora passa a ser alguém que sistematicamente vai ser isolada e evitada por vários inclusive seus antigos aliados.

Em suma, Dilma governará sob grandes restrições ou simplesmente não governará.  É o vácuo administrativo.  Além de nada ou muito pouco ser feito para melhorar a situação do país, outra consequência previsível desta situação é o crescimento da oposição.  Não falo necessariamente de PSDB, PSB e DEM se tornarem mais fortes, mas sim do próprio PT sabotar o governo de Dilma.  Joaquim Levy já vem sofrendo vários ataques de “fogo amigo” o que coloca em dúvida se ele vai conseguir estar no cargo em 2018.  No vácuo administrativo rapidamente lideranças menores farejam o momento de mostrarem força e tomarem parte do poder, ainda mais com Dilma sangrando e isolada.  Isso ocorre tanto no Congresso, quanto nos quadros do PT insatisfeitos com Dilma e até em movimentos de rua quase criminosos como o MTST.  Serão quatro anos difíceis pela frente.  Em monarquias ou ditaduras, governantes fracos tinham que ser depostos por golpe ou então governavam por décadas arrasando a nação, vide Cuba.  Em democracias, temos a chance de em 2018 colocar um fim ao vácuo administrativo.  Ou sofreremos as consequências de temperatura baixa, ebulição do sangue e falta de oxigênio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário