segunda-feira, 28 de março de 2016

Como Chegamos Até Aqui?



Recentemente, o americano Mark Manson fez um razoável sucesso e barulho nas redes sociais ao publicar uma carta aberta aos brasileiros relatando no seu entendimento o porquê da antiga Terra de Santa Cruz não dar certo e de nossas tentativas de vôos de águia se transformarem em de galinha.  Lista entre os problemas de nós brasileiros o desrespeito às regras e a complacência com aqueles que desrespeitam as regras, e também cita até a vaidade como um desses problemas, uma vez que nós brasileiros gastamos nossos recursos e tempo em adquirir bens caros sem necessidade.  Realmente, esse último item é verdadeiro, pois nos EUA por preços muito mais acessíveis podemos comprar estes mesmos bens desnecessários.  Pode-se rebater os argumentos de Manson, mas no fundo sabemos que muito do que ele escreveu é verdade apesar de suas conclusões serem um pouco exageradas e incompletas ao meu ver.

À medida que as páginas policiais ditam o rumo de nossa política e economia, o Brasil tem se unido para apear do poder a quadrilha que lá se instalou e tirar a economia do fundo do poço.  Aliás, este é um poço que Dilma insiste em cavar para nos afundar mais ainda.  É provável que consigamos expurgar a encarnação viva da incompetência que habita o Palácio da Alvorada, e que isso traga um alívio momentâneo para nossa combalida economia resultando em maior geração de empregos, menos inflação e menor recessão, mas o que impede de nós continuarmos aumentando este poço?  Para responder isto, o brasileiro deve tentar entender como chegamos até aqui.

Manson afirma que toleramos a desonestidade alheia e endêmica desta terra, o que poderia explicar o porquê de tantos políticos serem corruptos.  Embora políticos corruptos não sejam exclusividade do país, aqui temos uma categoria de políticos corruptos resilientes de fazer inveja a qualquer outro país.  Renan Calheiros e Paulo Maluf são provas vivas que de norte a sul deste país meter a mão no dinheiro público com frequência não resulta em punições eficazes da justiça e nem em reprovação pública.  Porém, nada se compara a reeleição de Lula em 2006 após o escândalo do Mensalão.  Isto é uma mácula na história brasileira no qual o povo brasileiro não pode culpar ninguém mais além de si próprio.  Usando de uma lógica que alternava entre a ignorância consciente e o mais puro cinismo, o eleitorado brasileiro não condenou nas urnas Lula.  A aprovação de um político complacente, para não dizer participante, com um escândalo de corrupção daquela magnitude foi o sinal verde para que a administração do PT avançasse mais ainda encima do patrimônio brasileiro.  Mas mesmo assim a opinião pública aprovou e celebrou a condenação dos demais envolvidos no Mensalão numa demonstração de incoerência.

Lula é dotado de uma esperteza incomum e um carisma singular, o que infelizmente ele usou para eleger Dilma em 2010.  Esta é uma pessoa com um carisma de um morcego e uma liderança de um rinoceronte.  E mesmo com a economia desandando, o brasileiro decidiu reeleger Dilma em 2014.  Como?  As promessas de campanha de Dilma eram tão absurdas que uma análise simples mostrava que o país estava na beira do precipício.  Será que o brasileiro é tão crédulo assim para acreditar em um populismo do mais rasteiro possível?

Aí entra minha percepção dos verdadeiros problemas do Brasil.  Somos um povo que acreditamos em milagres, principalmente se eles vierem do governo.  Esse é para nós uma entidade mística que do éter pode transformar pobreza em riqueza.  Se não faz isso é porque se interessa em defender os interesses dos ricos.  E é claro, no Brasil acredita-se que a pobreza é resultante da exploração dos pobres pelos ricos.   Enquanto um empresário que gera negócios e empregos for visto como um explorador da massa operária, o país estará condenado à estagnação.  Afinal qual o investidor vai querer abrir um negócio, com risco de ser associado a um vilão?  Mais fácil ser especulador ou investir em negócios em outro lugar.  O PT soube e sabe explorar essa percepção equivocada, resultando em vitórias eleitorais.  A inépcia crônica e vergonhosa da oposição fez com que até a reeleição de Dilma o PT fosse o partido dos pobres e os outros demais os partidos dos ricos exploradores.

Mas o que é chocante é que a percepção equivocada da situação não foi exclusiva da população mais pobre e humilde, ela foi compartilhada por uma considerável parcela de pessoas mais instruídas.  E até mesmo pelo mercado financeiro, afinal foi após o Mensalão, em 2008, que a bolsa atingiu 72 mil pontos, patamar jamais repetido, ganhamos grau de investimento, mostrando como as agências de risco são pouco confiáveis, o dólar atingiu um patamar de quase R$1,55, mostrando que até o estrangeiro é equivocado, e a The Economist mostrou o Brasil decolando.  É claro que o mercado financeiro e a The Economist em 2014 tinham revisto por completo a opinião da administração petista, mas isso demonstra como na teoria instituições mais esclarecidas são capazes de menosprezar o efeito nocivo de políticas populistas comandadas por pessoas e organizações com objetivos escusos.

A euforia que assolou o país durante o governo Lula cegou os lúcidos, resultando na nossa incapacidade de reconhecer que era insustentável a manutenção da verdadeira farra promovida então.  Quando se demos conta que beirávamos o precipício, faltou a oposição ser mais incisiva e altiva para minar a campanha de Dilma em 2014.  A vitória dela foi apertada, mas ela ocorreu para a mais completa desgraça brasileira.


Agora o Brasil luta para não sucumbir à tempestade que nos assola, luta para o país não regredir quase 30 anos em termos econômicos e luta para que os corruptos de plantão tenham a punição merecida.  Quando Collor foi destituído em 1992, lutávamos pelas mesmas coisas e em 10 anos colocamos um dos políticos mais corruptos e nefastos no poder.  O PT alega que a corrupção é uma senhora antiga.  Na verdade, o PT não inventou a corrupção, mas ele é fruto de nossa permissividade com práticas pouco éticas com a coisa pública.  Esse é um momento de reflexão que o país deve passar por, para que nunca mais façamos o mesmo erro.  Para isso é necessário admitir que o povo brasileiro errou e identificar o que temos de mudar.

Um comentário:

  1. Concordo com tudo que foi dito e acrescento, para esse país mudar somente com muita educação, muito esforço para educar as próximas gerações e ainda mais educação para quem já está trabalhando no sistema!

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