quinta-feira, 2 de abril de 2015

O Estudo do Oxigênio



O oxigênio é o segundo gás mais abundante na atmosfera terrestre.  O átomo de oxigênio tem número atômico 8 e massa atômica 16.  Ele compõe cerca de 23% em massa da atmosfera, o que o faz o segundo gás mais abundante da atmosfera.  Sua forma mais comum é o gás diatômico, O2, mas também é de suma importância para o planeta o outro alótropo conhecido como ozônio, O3.  O oxigênio é extremamente reativo, somente os gases nobres não combinam com ele, e graças a isso há vida na terra e é possível fazer fogo para gerar energia térmica.  Os seres vivos dependem do oxigênio para a respiração aeróbia no qual este gás combina com glicose gerando energia, dióxido de carbono e água.  Os combustíveis só reagem desprendendo energia se haver a presença de um comburente, o oxigênio, para possibilitar a combustão.

Esses factóides são de conhecimento de quem terminou o colegial e pensa em ingressar em uma faculdade, especialmente uma de medicina, ou de engenharia ou até outras.  Pelo menos é o que se espera.  Mas será mesmo que os egressos do ensino básico têm este conhecimento?  Na verdade, deveriam até saber em mais detalhe a química do oxigênio para melhor compreenderem as disciplinas ministradas em um curso superior.  Na medicina, por exemplo, este conhecimento é necessário para o estudo do sistema respiratório, e na engenharia para o estudo da combustão.  Se o aluno que cursa uma faculdade não tem este conhecimento dificilmente terá capacidade de acompanhar um curso sério.  E aí reside um dos maiores problemas da educação brasileira que é a crença que o diploma universitário é sinônimo de conhecimento e garantia para o sucesso.

O aluno ao ingressar em uma faculdade deveria possuir conhecimento além dos gases que compõe a atmosfera terrestre.  Um bom início seria falar português corretamente, o que nos dias atuais é considerado como um elemento discriminador das camadas mais humildes que se julgam no direito de conjugar os verbos na 3ª pessoa do singular mesmo com o sujeito exigindo a 1ª pessoa do plural.  Devido à quase falência do ensino público e aos preços exorbitantes do ensino privado, uma boa parcela de jovens brasileiros foram e continuam sendo alijados de ensino básico.  A solução criada em terras tupiniquins, apesar de não ser exclusiva ao Brasil, foi a de se “corrigir” este problema facilitando o acesso ao ensino superior, não necessariamente ao ensino superior de qualidade.  O problema é que este alijamento resulta em um alto número de aspirantes ao ensino superior completamente despreparados.  A maioria vai saber que o oxigênio é necessário para a vida, mas se bobear não sabem nem que nitrogênio é o gás mais abundante na atmosfera.

Na década de 90, foi criada a verdadeira farra das universidades, sendo que qualquer picareta abria na esquina uma universidade oferecendo inúmeros cursos de exatas e humanas.  Não é um fenômeno exclusivo brasileiro, como disse, mas o surgimento maciço dessas universidades talvez seja único a este país.  Estas universidades funcionavam ao melhor “estilo Vampeta” fingindo que ensinavam e os alunos fingindo que aprendiam.  Imprimiam o diploma de pouco valor, mas o aluno pagava um valor considerável para aquela instituição. 

Mesmo os professores universitários sendo os melhores, eles não vão operar milagres e cabe aos estudantes um mínimo de conhecimento para poderem acompanharem os cursos.  Além do mais cabe aos estudantes empenho e capacidade de aprendizagem também.  Várias universidades particulares têm uma sanha de maximizar a arrecadação no curto prazo e impõem aos professores metas de aprovação bem complacentes, o que por sua vez faz despencar a qualidade do curso.  Ao longo prazo isso é péssimo para a instituição cuja reputação é irreversivelmente destruída.  O “Provão”, atual ENADE, foi criado com o intuito de frear essa escalada de impressoras de diplomas, mas apesar de alguns cursos e até algumas faculdades fecharem, muitas perduram com a (falta de) qualidade de sempre.

O FIES, que conseguiu atualmente ser destaque noticiário pelos motivos errados, era para ser o instrumento que proporcionaria o acesso a esses excluídos nas faculdades particulares.  O custo de uma faculdade particular realmente é um desafio grande que impossibilita vários de conseguiram cursar uma faculdade, mas acreditar que este é o único problema é ignorar o problema maior.  Aliás em alguns casos, empresta-se dinheiro a alguém que não tem condições de cursar uma faculdade, nem de devolver este empréstimo e quanto mais de aprender...

Mas eis que surge finalmente o ápice do populismo: garantir vaga em universidades públicas para alunos da rede pública e de auto-intituladas minorias, as famosas cotas.  Pois bem, mesmo com vagas garantidas para estes “desfavorecidos”, quem garante que eles têm condição de se formarem?  A não ser que o nível do curso despenque para facilitar a aprovação, os cotistas terão um desafio árduo pela frente, pois terão além de aprender a matéria ensinada na faculdade, como também aquela que deveriam saber antes de entrar na universidade.  E é neste instante que a qualidade de boas universidades públicas é colocada em xeque.  Resolve-se o problema de acesso dos “menos privilegiados” minando o nosso problemático ensino superior.  É claro que tanto os beneficiados pelos atuais critérios frouxos do FIES como pelo sistema de cotas são potenciais eleitores de governos populistas, como o atual, enquanto que alunos do ensino básico, que deveriam ser o foco das metas de educação do país, não são.

A noção que o problema da equalização de oportunidades para toda a população é simplesmente resolvida com um diploma universitário não pode ser menos equivocada.  Quem passou por dinâmicas de grupo para vagas de estágio e trainees vai lembrar que os participantes eram egressos de universidades públicas e das melhores universidades particulares.  Em São Paulo, nas dinâmicas de grupo que participei estas eram basicamente USP, UNICAMP, FEI e Mauá.  Claro que existem outras no mesmo patamar de qualidade que estas quatro que citei.  Empresas sérias não aceitam profissionais despreparados, então descartavam qualquer pseudo-formado simplesmente nem os selecionando na triagem inicial.  E se aceitarem estarão comprometendo a qualidade da própria empresa.  Na teoria, ninguém deveria ser obrigado a contratar profissionais de menos qualificação.  Quem discorda, que então procure um médico mal formado para ser atendido em caso de emergência.

Na teoria os melhores empregos públicos são reservados para aqueles que se sobressaem em concursos, mas estes já são alvos do populismo que também vai criando cotas para repartições públicas.  Mesmo assim, é difícil se esperar que alguém que não tinha condições de ingressar em uma boa faculdade vá conseguir passar em um concurso concorrido.


A triste verdade é que enquanto não for compreendido que oportunidades para os mais desfavorecidos serão só conquistadas quando estes tiverem uma educação básico sólida, a educação superior estará em xeque.  O país carece de bons profissionais em várias áreas e essa carência não será resolvida com voluntarismo e muito menos com populismo.  Infelizmente é um trabalho que tem de ser iniciado agora para se colher frutos daqui a quase 15 anos.

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