Muitos não
lembram que em 1998, o mundo financeiro foi abalado pela moratória russa
declarada pelo então presidente daquele país, Boris Ieltsin. Foi o suficiente para causar pânico nos
investidores e acelerar a ascensão do protoditador Vladimir Putin. O agravante foi que a Rússia atraiu
investimentos estrangeiros ávidos por maiores retornos aceitando um risco maior. Investidores de renome e pouco juízo
quebraram a cara. Em 2001, a Argentina
foi a bola da vez. Deram tantos poderes
extraordinários para o ministro Domingo Cavallo tentar salvar o que não dava
par ser salvo e a economia da Argentina veio abaixo. Neste período turbulento, que já havia se
iniciado em 1997 com a crise dos Tigres Asiáticos, o mundo dos prognósticos econômicos
parecia ter virado ao avesso. Ninguém
conseguia fazer uma única previsão sensata, muito menos as agências de
avaliação de risco.
O Brasil naquela
época foi considerado o próximo caloteiro, afinal o país estava vulnerável de
acordo com as próprias palavras de Pedro Malan em 1999 e foi sugado para o olho
do furacão financeiro. Agências de risco
que falhavam constantemente nos tratavam com séria descrença. As reservas cambiais eram baixas, pois o
Banco Central em ano eleitoral inutilmente tentou segurar a cotação do dólar
após a moratória russa. Para piorar
havia uma oposição irresponsável que prometia calote e centralização do
câmbio. O PT crescia nas pesquisas e não
tinha como qualquer agência de avaliação de risco nos avaliar bem com esse tipo
de “promessa”. Mas quando em 2001 houve
o “Apagão”, tinha gente até consultando almanaque para saber se ia chover mais ou
menos em 2002 o que permitiria ou não que o Brasil pudesse crescer de
novo. Nada pior que investidor em
pânico, não sabe o que fazer, tem medo de perder dinheiro, tem medo de
arriscar, tem medo de não fazer nada, e quando faz algo, é besteira na certa. Em suma, não raciocina e age de maneira
completamente emocional. Veio a crise de
2008, e as agências de risco mostraram toda a sua capacidade de errarem, chego
a julgar que nesses casos quem usasse de serviço de cartomante talvez fosse
mais bem orientado.
A realidade e a idealização da realidade são duas coisas
distintas. Lembro que além das crises
financeiras dos anos 90, naquela época participava de várias dinâmicas de grupo
em busca de emprego melhor. Não que
algumas dinâmicas de grupo não tenham sido bem feitas, mas participei de algumas
dinâmicas que beiravam o insólito, conduzidas nitidamente por profissionais
medíocres e que se julgavam os experts em psicologia e administração. A realidade era que os candidatos não
deveriam confrontar estes profissionais “meia boca” e sim saber como lidar com
eles e se portar para receber uma boa avaliação, afinal o objetivo era ser
contratado e não apontar os erros daqueles picaretas. Agências de avaliação de risco com históricos
de erros não deveriam ser tão levadas a sério, mas são. Então qualquer nação soberana que queira
atrair investimento estrangeiro terá que lidar com Standard & Poor’s,
Moody’s e Fitch. Fundos de investimento
têm cláusulas em seus estatutos de não investir em países com avaliações
baixas, abaixo do grau de investimento.
Isso não é pouco dinheiro, e sim muito dinheiro, a ponto de Dilma ter
que aturar um ministro “neoliberal” e “ortodoxo” como Joaquim Levy e dispensar
Guido Mantega, alguém com previsões ainda mais absurdas. Não adianta espernear, temos que nos saber
portar diante destes profissionais para sermos bem avaliados, mesmo que boa
parte deles seja picareta, inclusive porque existem outros que não são.
Lamentavelmente, nos preparamos mal para as “dinâmicas” com as
agências de risco. Beira o ridículo
enviar um orçamento com déficit para o congresso, e isso por só próprio já era
merecedor de rebaixamento. Mas o
problema é que desde algum tempo, o Brasil vem dando sinais de falta de
seriedade com as finanças públicas.
Ganhamos o grau de investimento em 2008, porque, após anos de uma
política monetária séria com comprometimento com superávit, pagamento de
dívidas e respeito ao investidor, mostramos merecer esse grau. Agora, com anos de maquiagem das contas
públicas, pouca preocupação com o crescente déficit nas contas públicas, não
tinha como não sermos rebaixados. Não
adianta apontar os erros passados das agências de avaliação de risco, os erros
do país atuais são gritantes e evidentes.
Mesmo porque ainda que os investidores continuem agindo sem muito
critério ou racionalidade, o Brasil demonstra sinais que qualquer um com bom
senso não queira investir aqui. Tanto
que o governo está agora desnorteado, sem ter ideia do que fazer para ficar
“bonito na foto de novo” e desesperado para conseguir aprovar qualquer remendo
para tentar algo parecido com um ajuste fiscal.
Aumento de impostos, manutenção no cargo de um desprestigiado Joaquim
Levy, cortes pouco substanciais na pesada máquina do governo não enganam
mais. O governo entendeu meio tarde a
realidade destas avaliações e a seriedade
de um rebaixamento.
A
realidade é que o capital financeiro está com aversão ao Brasil. Os investidores são muitas vezes irracionais
e se baseiam na opinião de quem já errou bastante. Mas não são tão irracionais a ponto de
investirem em países cujos líderes dão demonstrações inequívocas de amadorismo. Agora o estrago está feito, mas não precisou
ser feito pelas agências de avaliação de risco, bastaram 13 anos de PT.